Celeiro de talentos, artistas de Toledo se espalham pelo Brasil e pela América Latina
É a partir de Toledo, uma cidade no Oeste do Paraná com cerca de 145 mil habitantes, que a cultura tem se irradiado pelo Estado, tomado espaço no Brasil e alcançado voos internacionais. O município de solo fértil, com a agricultura como destaque e a suinocultura em evidência nacional já é referência em desenvolvimento social e geração de empregos, mas a partir de investimentos na área das artes tem feito com que a cidade seja conhecida também como “Capital da Cultura”. Um celeiro de talentos que espelha seu protagonismo pelo mundo ganhou força há quase 50 anos.
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E não é por acaso que o município recebe este título: em 1976 a cidade inaugurou a primeira Casa da Cultura no Paraná, mesmo ano em que foi criado o Conselho Municipal de Cultura e o Festin (Festival de Inverno), o mais longevo evento cultural do município.
No início, a Casa da Cultura abrigava a biblioteca pública, o conservatório de música, o ateliê de pintura e a sala de exposições. A finalidade era incentivar manifestações artístico-culturais, como já previa o regulamento elaborado pelo Conselho Municipal de Cultura. O tempo passou e hoje, 46 anos depois, o local é considerado um ícone da história cultural e se consolidou como um espaço de formação artística e de fomento à cultura e às artes.
“Atualmente, temos 525 alunos matriculados, fechando a média de 2100 atendimentos por mês. Os cursos oferecidos pela Secretaria da Cultura são: Arte com material alternativo – ASA, pintura em tela, desenho, violão, guitarra, teclado, teatro, teoria musical, saxofone, flauta transversal, clarinete, violino, violoncelo, viola clássica, bateria, técnica vocal, musicalização infantil e acordeon”, explica Rosselane Liz Giordan, secretária de Cultura de Toledo. A gestora ainda revela os próximos passos para fortalecer a área. “No ano que vem também será oferecido o curso de Piano. Além disso, são oferecidas oficinas em parceria com outras instituições, como as de capoeira e futsal [em parceria com a Secretaria Municipal de Esporte e Lazer], circo (em conjunto com a Secretaria de Educação) e as de informática e skate, como parte de um projeto em parceria com a Itaipu. Serão atendidas aproximadamente 170 pessoas, com 680 atendimentos por mês”, revela.
Foi exatamente em um dos cursos da Casa da Cultura que um dos maiores violinistas do Paraná iniciou as aulas. Ricardo Molter é Spalla primeiro violinista da orquestra, que tem a responsabilidade de liderar o grupo na ausência do maestro. Ele atua na Orquestra Sinfônica do Paraná.
“Eu comecei a estudar violino aos 10 anos, pelo incentivo da minha avó paterna. Nessa época morávamos em Chapecó (SC) e foi lá que tive as primeiras aulas de música. Um mês depois do início das aulas nos mudamos de volta para Toledo. Foi então que comecei a ter aulas de violino e teoria musical na Casa da Cultura. Tive aulas por dois anos com o professor Diogo Rossoni e de teoria musical e harmonia por cinco anos com o professor Darcysio Fritsch, que é uma das minhas principais referências como pessoa e como músico”, conta, orgulhoso.
Molter mora agora em Curitiba, onde se formou bacharel em Violino. As primeiras notas dadas no Oeste do Paraná são sempre lembradas pelo violinista. “A Casa da Cultura foi fundamental na minha formação como músico. Guardo até hoje com carinho o meu certificado de conclusão do curso de Teoria Musical e Harmoni”, confessa.
Em alusão aos 70 anos de Toledo, a orquestra fez um concerto na cidade, mas quem ganhou o presente não foi apenas a plateia. Ricardo retornou ao local onde aprendeu as primeiras notas em um dia muito especial. “Quando a Orquestra Sinfônica do Paraná inaugurou o Teatro Municipal de Toledo eu estava brincando no estacionamento do teatro com meus amigos. Eu tinha oito anos e nem sonhava em tocar violino. Poder voltar ao teatro 23 depois para tocar como spalla da orquestra, exatamente no dia do meu aniversário, foi muito emocionante”, diz o artista.
Cibelle Hespanhol, artista conhecida nacionalmente, também deu seus primeiros passos na carreira musical em Toledo, assim como Ricardo. Com nove anos ela começou a se desenvolver no violão, por meio do curso ministrado na Casa da Cultura.
Mas foi em uma participação no Festin que sua carreira despontou. “Depois da minha apresentação, Oswaldo Montenegro, que acompanhava o evento, me convidou para participar da Companhia Mulungo, que fica na cidade do Rio de Janeiro e com vários artistas de diferentes Estados do Brasil. Lá aprendi muito sobre música e teatro, fui muito bem recebida e me desenvolvi muito profissionalmente”, lembra a musicista.
Protagonismo internacional
A dança de rua escreve sua história e já foi reconhecida pelos vários capítulos desenvolvidos.O projeto Essências, que tem como objetivo ensinar sobre as danças urbanas por meio de aulas para crianças e adultos, foi criado em 2005 em um colégio da cidade.
Dez anos depois, Fernanda Fetter profissionalizou o grupo e o transformou na Cia de Danças Urbana, ministrando aulas, oficinas e realizando apresentações e eventos. O movimento Hip Hop foi se fortalecendo na cidade e Toledo se tornou o primeiro município da região a fundar uma associação de Hip Hop, a AH2T.
Tanto a Cia quanto seus integrantes já foram premiados em diversas edições do Universal Dance e do Universal Dance Brasil. Desde que começaram a participar dessas competições em 2015 tiveram oportunidade de representar Toledo em vários estados brasileiros, além de representar o país na Argentina e no México.
“Eles foram campeões em duas categorias na edição 2021, que ocorreu no México. Na edição 2022, que ocorreu em Florianópolis, conquistaram seis premiações em categorias diferentes. Além disso, Fernanda Fetter foi premiada em 2020 pela Secretaria de Cultura do Estado do Paraná com o Prêmio Jornada em Reconhecimento à Trajetória e nomeada embaixadora do Universal Dance Brasil em 2022”, detalha Mariana Gouveia, gestora e produtora cultural em Toledo.
O projeto recebe o apoio da Secretaria de Cultura e da Secretaria de Esportes de Toledo tanto nas aulas quanto nos eventos. As aulas são ministradas regularmente durante a semana e aos sábados no Centro Olímpico Arnoldo Bohnen.
Coreógrafo e arte educador na Companhia, Matheus Martins sabe da importância de projetos como esse. Atuando há sete anos como dançarino, Matheus Greeen, como é conhecido no meio artístico, iniciou como aluno da Cia e hoje faz parte do corpo técnico e ministra aulas.
“É uma satisfação enorme ver esse trabalho mudando a vida e a perspectiva de quem participa das aulas e da Cia. É uma valorização e reconhecimento que a classe artística toledana merece receber”, afirma o ex-estudante e hoje professor.
Orgulho do Oeste
Toledo faz parte da AMOP (Associação dos Municípios do Oeste do Paraná), que é composta por 57 municípios da região. Para o presidente da entidade, Élio Marciniak, o município é motivo de orgulho não só para o Oeste paranaense, mas para todo o Brasil.
“Toledo está sempre revelando talentos que nos representam e investindo muito na cultura. Para nós, é motivo de muito orgulho saber que o Oeste do Paraná é completo. Parabéns a estes municípios que têm capacidade econômica ainda maior e investem um pouco mais na cultura. Nossa região tem o maior Festival do Estado do Paraná, o Fermop (Festival Regional dos Municípios do Oeste do Paraná). O Oeste do Paraná merece parabéns pelos investimentos na cultura local,” conclui o gestor público.