Curitiba - A possibilidade de viver em família de forma mais criativa e saudável existe. Basicamente, por ela ser, em essência, lugar de cuidado e propagação da vida. Infelizmente, quando a família perde a sua essência pode ser vista apenas como um núcleo de tradições negativas. Assim, ao invés de interação donativa, se estabelece como um ambiente tóxico, pautado por relações no modo intercâmbio.

O perigo do modo intercâmbio
O modo intercâmbio se baseia em relações de interesse, regidas por regras rígidas: “o que o outro me deve” ou “no que o outro me favorece”. Isso corrói a intimidade e abre espaço para perversões, que podem surgir em atitudes egoístas, como comer sorrateiramente o pedaço de torta reservado ao irmão, ou em expectativas de controle sobre afeto, sexo e dinheiro. Em casos extremos, aparecem traições, abusos e até violências.
A essência da família: cuidado e propagação da vida
A família em sua essência, é lugar de cuidado e propagação da vida, em seus significados mais profundos. Esse lugar não se estabelece apenas de forma discursiva e objetiva, mas especialmente pelos eventos de graça que visitam a família ao longo de seu desenvolvimento. A expressão da vida na família é uma experiência emocional que se desfruta na convivência, no compartilhar de rotinas, sonhos, barulhos e silêncios, no olhar e no toque, na escuta e na presença. Reconhecer a disfuncionalidade é essencial para que o cuidado da vida seja uma realidade. O doce do “lar doce lar” mistura sabores amargos e apimentados, mas é justamente essa mistura, que desperta criatividade e humanidade.
Do intercâmbio à interação donativa
Em meio as descobertas das impotências, fragilidades e precariedades, surge a esperança da misericórdia e a capacidade de amar. A família é um espaço de recomeço, onde fragilidade e queda se transformam em oportunidade de cura. A interação donativa é a essência da família. As relações familiares ao serem redimidas, passam a ser pautadas, não mais por intercâmbio, mas pela interação donativa. Para isso é necessário haver arrependimento. Não seria um ato punitivo, nem uma mudança de ato imoral para moral, mas uma mudança de direção. Muda-se as relações de troca para se viver a interação donativa, sustentada por graça, amor e perdão. Confessar fragilidades abre espaço para vínculos mais autênticos. Cada conflito é uma chance de amar melhor e construir mais humanidade em solidariedade. A família é a manifestação da vida mesma, pois nela a existência se torna relacional.
Texto de Carlos José Hernández (médico psiquiatra, doutor em medicina) e Clarice Ebert (psicóloga – CRP08/14038, terapeuta familiar e de casais, mestre em teologia).
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