Curitiba - A possibilidade de viver em família de forma mais criativa e saudável existe. Basicamente, por ela ser, em essência, lugar de cuidado e propagação da vida. Infelizmente, quando a família perde a sua essência pode ser vista apenas como um núcleo de tradições negativas. Assim, ao invés de interação donativa, se estabelece como um ambiente tóxico, pautado por relações no modo intercâmbio.

Família reunida, conversando de forma interativa. (Foto de pexels-askar-abayev)
Família reunida, conversando de forma interativa. (Foto de pexels-askar-abayev)

O perigo do modo intercâmbio

O modo intercâmbio se baseia em relações de interesse, regidas por regras rígidas: “o que o outro me deve” ou “no que o outro me favorece”. Isso corrói a intimidade e abre espaço para perversões, que podem surgir em atitudes egoístas, como comer sorrateiramente o pedaço de torta reservado ao irmão, ou em expectativas de controle sobre afeto, sexo e dinheiro. Em casos extremos, aparecem traições, abusos e até violências.

A essência da família: cuidado e propagação da vida

A família em sua essência, é lugar de cuidado e propagação da vida, em seus significados mais profundos. Esse lugar não se estabelece apenas de forma discursiva e objetiva, mas especialmente pelos eventos de graça que visitam a família ao longo de seu desenvolvimento. A expressão da vida na família é uma experiência emocional que se desfruta na convivência, no compartilhar de rotinas, sonhos, barulhos e silêncios, no olhar e no toque, na escuta e na presença. Reconhecer a disfuncionalidade é essencial para que o cuidado da vida seja uma realidade. O doce do “lar doce lar” mistura sabores amargos e apimentados, mas é justamente essa mistura, que desperta criatividade e humanidade.

Do intercâmbio à interação donativa

Em meio as descobertas das impotências, fragilidades e precariedades, surge a esperança da misericórdia e a capacidade de amar. A família é um espaço de recomeço, onde fragilidade e queda se transformam em oportunidade de cura. A interação donativa é a essência da família. As relações familiares ao serem redimidas, passam a ser pautadas, não mais por intercâmbio, mas pela interação donativa. Para isso é necessário haver arrependimento. Não seria um ato punitivo, nem uma mudança de ato imoral para moral, mas uma mudança de direção. Muda-se as relações de troca para se viver a interação donativa, sustentada por graça, amor e perdão. Confessar fragilidades abre espaço para vínculos mais autênticos. Cada conflito é uma chance de amar melhor e construir mais humanidade em solidariedade. A família é a manifestação da vida mesma, pois nela a existência se torna relacional.

Texto de Carlos José Hernández (médico psiquiatra, doutor em medicina) e Clarice Ebert (psicóloga – CRP08/14038, terapeuta familiar e de casais, mestre em teologia).

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