Investidores de plantão, simpatizantes do mercado financeiro, preocupados com dinheiro e crentes da economágica, esse artigo é para vocês. Todos se lembram daquele fatídico março de 2020 em que as bolsas despencaram vertiginosamente por conta da pandemia de Covid-19. Era comum ouvir das pessoas que o mercado financeiro estava ruindo e que era o fim da economia como a conhecemos. Pois bem, aqui estamos em 2025, com o Índice Ibovespa em 137 mil pontos. Eu também não vi prédios, máquinas, nem conhecimento desaparecendo, apesar das perdas inestimáveis de capital humano. Mas então, por que será que as empresas perderam tanto valor naquele fatídico mês? Porque o mercado financeiro faz parte da economia, mas não é a economia.

Moedas estão sobre uma mesa com uma planta crescendo sobre elas e uma mão adicionando uma nova moeda
A economia é feita de pessoas e esforço real, o mercado financeiro é apenas uma parte dela (Foto: Freepik)

Afinal de contas, o que é o mercado financeiro?

Muita gente confunde o mercado financeiro com a economia real. Mas a distância entre bolsa, derivativos e títulos e a vida real de quem compra pão, paga aluguel ou contrata um pedreiro é enorme. Um tuíte, um relaxamento monetário ou uma expectativa de cortes de juros podem fazer o mercado disparar, e isso nem sempre tem relação direta com o que acontece nas ruas, nas fábricas ou no carrinho de compras. Economia, de verdade, é construir padaria, abrir garagem, contratar gente, coisas que demoram, exigem trabalho braçal e afetam diretamente o PIB.

No mundo real, construir uma fábrica, lançar um serviço, contratar funcionários: tudo leva meses, muitas vezes anos. Já no mercado financeiro, uma decisão de política monetária ou uma fala importante pode fazer bolsas dispararem ou despencarem em minutos.

E o Índice Ibovespa?

Esse Índice, que hoje está em 137 mil pontos, mede o desempenho médio das ações mais negociadas na Bolsa brasileira, a B3. Para efeitos de comparação, em janeiro de 2020, ele estava em 119 mil pontos. Em março de 2020, caiu para 63 mil pontos. Tudo isso porque ativos financeiros são líquidos, fáceis de trocar de mãos. Já ativos reais, como imóveis, empresas, fábricas… são bem mais burocráticos e ilíquidos. Além disso, o medo e a aversão ao risco afetam o mercado financeiro, nem sempre de maneira racional, como nós vimos neste artigo aqui.

Se você acha que a bolsa reflete a vida do país, cuidado: por vezes, ela é movida por expectativas ou manobras que não têm nada a ver com os fundamentos de mercado. No Brasil, por exemplo, o desempenho de gigantes como Petrobrás, Vale e bancos pode esconder as dificuldades enfrentadas por milhões de pequenos negócios, que representam a maior parte dos empregos mas não estão na Bolsa.

Num país com mais de 20 milhões de CNPJs ativos, menos de 500 empresas estão listadas na B3. Isso explica casos que parecem “fora de sincronia”: notícia ruim na economia real, mas bolsa subindo. Ou queda de juros que não é sentida no seu bolso. Simplesmente porque o mercado financeiro faz a própria festa — mesmo quando a vida real dos brasileiros segue andando devagar.

O sistema financeiro é uma ponte

O sistema financeiro é importante para captar recursos, financiar projetos e distribuir riscos. Sem ele, não haveria crédito para abrir empresas, construir casas, gerar empregos. Aliás, um sistema em que um simples trabalhador pode se tornar acionista de uma grande empresa é, realmente, revolucionário. Mas a ponte entre os dois mundos precisa de fiscalização: sem regulação eficaz, o financeiro vira um cassino, em vez de um canal de suporte à economia real. Existem, inclusive, artigos científicos que mostram que no Day Trade, por exemplo, 99,4% dos investidores têm prejuízo e desistem. Crises como a de 2008 mostram o que acontece quando o sistema perde o rumo: a instabilidade financeira pode congelar a economia real quase imediatamente.

Como ficar preparado de verdade?

Entenda fundamentos reais: análise de dados – produção, desemprego, consumo –, não apenas de sentimento do mercado. Estude o que move o financeiro: juros, liquidez, política monetária, derivativos… sem isso não dá pra enxergar além do reflexo das manchetes. Use indicadores rigorosos: procure valuation, fluxo de caixa, fundamentos macro e micro. Evite análise técnica sem base — comparada a “tarô para traders” nas discussões. Considere a economia real nos seus investimentos: busque ativos reais (imóveis, empresas, infraestrutura) para diversificar e equilibrar o portfólio. E lembre-se sempre: as pessoas não são números.

Conclusão: o mercado financeiro não é a economia

O mercado financeiro faz parte sim da economia, mas muitas vezes age de forma independente, alimentado por expectativas, liquidez, volatilidade e ciclos especulativos. Isso não é ruim, desde que alguém fique de olho. A economia real, essa sim, é feita de pessoas trabalhando, comprando, produzindo. É feita por você e por mim. E é nela que sua família sente a diferença, seja na conta de luz, no emprego ou na padaria.

R. J. Dabliu é economista, professor universitário, compositor e palestrante. É autor dos livros “Mill Sentidos da Vida”, “O conto da raposa vermelha” e apresentador na série de vídeos para o YouTube, “EU NÃO LI SHAKESPEARE”.

Me siga no Instagram @oficialdabliu.

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