Existe um paradoxo no comportamento financeiro de muitas pessoas: elas sabem que manter o dinheiro “parado” na poupança pode significar perder poder de compra para a inflação. Elas ouvem especialistas falando sobre a importância de diversificar e construir patrimônio. No entanto, no momento de dar o próximo passo em direção a investimentos mais complexos, como ações ou fundos, uma barreira invisível parece surgir: o medo. Por que o mercado financeiro ainda causa tanto medo? De onde vem esse receio? Por que uma ferramenta essencial para a economia e para o crescimento patrimonial individual, ainda é visto com tanta desconfiança? A resposta não é simples e reside em uma combinação de fatores.

Um homem de terno está de costas, olhando para uma cidade moderna e nebulosa no horizonte, com gráficos financeiros e alguns dados digitais em neon verde sobrepostos à paisagem urbana. Ele segura uma antiga lanterna a querosene, iluminando ligeiramente o caminho à sua frente, que é um piso escuro com símbolos de moedas (como euro, dólar, yen) e pontos de interrogação desenhados, sugerindo um caminho incerto e desafiador. A atmosfera é misteriosa e um pouco sombria, com nuvens pesadas no céu
Navegando pela névoa da incerteza: o caminho do investidor é desvendado pelo conhecimento em um mercado complexo.

A barreira do conhecimento e o medo real da perda

O primeiro obstáculo é a linguagem. O mercado financeiro fala um dialeto próprio, repleto de siglas (CBD, LCI, FII, IPO), termos em inglês (bear market, bull market, spread) e conceitos que parecem herméticos para o leigo.

Essa complexidade técnica cria uma barreira psicológica imediata. Quando uma pessoa não entende o básico do que está sendo oferecido, a reação natural é de defesa. O jargão funciona como um muro que separa os “iniciados” dos “de fora”, gerando a sensação de que aquele ambiente não é para ela. A falta de compreensão sobre o que se está comprando gera insegurança e a percepção de que o risco é muito maior do que realmente pode ser.

Diferente da caderneta de poupança, onde o dinheiro parece crescer de forma linear e previsível (mesmo que lentamente), muitos investimentos do mercado financeiro são voláteis. Eles flutuam.

O gráfico de um ativo que sobe e desce mexe diretamente com uma das nossas emoções mais básicas: a aversão à perda. Estudos de economia comportamental mostram que o impacto psicológico de perder R$ 100 é muito mais intenso do que a satisfação de ganhar os mesmos R$ 100.

O investidor iniciante, ao ver seu patrimônio diminuir temporariamente durante uma baixa do mercado, pode entrar em pânico. O medo o leva a tomar decisões irracionais, como vender no pior momento, apenas para “estancar a sangria”. Esse trauma inicial acaba reforçando a crença de que o mercado é um “cassino”. É um dos motivos pelos quais o mercado financeiro causa tanto medo.

O histórico de crises e escândalos e a lacuna na educação financeira

A confiança é a moeda mais valiosa do sistema financeiro. E, infelizmente, essa confiança já foi quebrada diversas vezes, tanto em escala global quanto local.

No imaginário coletivo, ainda pesam as grandes crises financeiras, como a de 2008, que tiveram consequências reais na vida de milhões. Além disso, notícias frequentes sobre golpes, pirâmides financeiras e empresas que quebram minam a credibilidade do sistema.

Para o cidadão comum, que trabalhou duro por suas economias, a distinção entre um investimento legítimo (embora arriscado) e um esquema fraudulento nem sempre é clara. Na dúvida, a inércia parece a opção mais segura. Mas não fazer nada é usar mal aquele que é o nosso recurso mais escasso: nosso tempo.

Talvez a raiz mais profunda do problema seja cultural e educacional. Historicamente, não fomos ensinados a investir. O sistema de ensino tradicional foca em preparar para o mercado de trabalho, não para a gestão de patrimônio.

A mentalidade predominante por décadas foi a de “trabalhar, poupar e se aposentar”. Em um ambiente de inflação alta, como o Brasil viveu, a noção de investimento de longo prazo era quase inexistente.

Sem uma base de educação financeira sólida desde cedo, as pessoas chegam à vida adulta com uma visão distorcida sobre dinheiro. O mercado financeiro, nesse contexto, não é visto como uma ferramenta de construção de riqueza a longo prazo, mas como um ambiente de especulação rápida e perigosa.

Do medo à cautela informada

O medo, em si, não é totalmente negativo; ele gera cautela, o que é fundamental ao lidar com dinheiro. O problema é quando o medo paralisa.

O antídoto para esse receio não é a coragem cega, mas sim o conhecimento. Entender que volatilidade não é o mesmo que perda permanente, que risco pode ser gerenciado (através da diversificação) e que investimento é uma maratona, não uma corrida de 100 metros, são os passos iniciais.

Superar o medo do mercado financeiro é um processo de desmistificação. Trata-se de trocar o receio do desconhecido pela confiança que vem da informação e do planejamento.

R. J. Dabliu é economista, professor universitário, compositor e palestrante. É autor dos livros “Mill Sentidos da Vida”, “O conto da raposa vermelha” e apresentador na série de vídeos para o YouTube, “EU NÃO LI SHAKESPEARE”.

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