Já parou para pensar por que compramos coisas que não precisamos, com dinheiro que não temos, para impressionar pessoas de quem não gostamos? Pois é, se Freud e Daniel Kahneman (pai da Economia Comportamental e prêmio Nobel de economia em 2002) tivessem se encontrado para tomar um café, eles talvez dissessem que a culpa é toda do nosso cérebro. E é nesse ponto que entra a a pergunta mais antiga do capitalismo: “Por que somos tão ruins com dinheiro?”

Imagine o cenário: você está no supermercado, e ao invés de comprar só o que precisa (como diz sua lista), você sai com uma cesta cheia de salgadinhos, chocolates e uma garrafa de vinho que nem sabia que queria. Se você pensou ‘ah, todo mundo faz isso!, eu tenho uma explicação melhor. Segundo os economistas comportamentais, somos ruins com dinheiro porque não tomamos decisões financeiras racionais o tempo todo. Na verdade, nosso cérebro é mestre em usar atalhos mentais, conhecidos como heurísticas. Esses atalhos são ótimos para nos salvar quando estamos correndo de um leão, mas não tão bons quando estamos escolhendo entre 27 marcas de biscoito. E quando se trata de dinheiro, esses atalhos nos levam a decisões bem questionáveis. Como, por exemplo, pagar caro em alguma coisa pelo motivo de, “eu mereço“.
Paguei R$ 30 no meu café, sou ruim com dinheiro?
Pense na última vez que você pagou R$ 30 por um café com leite. Uma parte do seu cérebro te fez acreditar que aquilo valia cada centavo. A Economia Comportamental explica esse fenômeno com o conceito de preço âncora. Basicamente, quando vemos um preço alto o suficiente, começamos a achar normal gastar uma fortuna em algo que custa centavos para produzir. Em outras palavras, pagamos caro por um café para nos sentirmos mais sofisticados (ou porque o copo vem com nosso nome, escrito errado, claro).
A Neuroeconomia entra em cena com uma promessa ousada: entender nossas decisões financeiras a partir do funcionamento do cérebro. Economistas e neurocientistas se uniram para descobrir como nossos neurônios reagem quando abrimos a carteira. Imagine o seguinte experimento: você está prestes a fazer um investimento de risco. De repente, uma máquina de ressonância magnética começa a observar seu cérebro em tempo real. Lá, dois sistemas começam a brigar: o sistema límbico, responsável pelas emoções (o “compra logo!“) e o córtex pré-frontal, responsável pela lógica (o “calma aí, melhor não“). A batalha entre emoção e razão é mais antiga que o capitalismo, e na maioria das vezes (quase sempre) a emoção vence.
O experimento do marshmallow
Lembra do famoso experimento do marshmallow? Aquele em que crianças precisavam escolher entre comer um marshmallow agora ou esperar e ganhar dois mais tarde? Pois bem, nossa vida financeira é um grande e constante “experimento do marshmallow”. Estamos sempre decidindo entre gastar agora (e ter aquela dose instantânea de felicidade) ou economizar para o futuro (algo que nosso cérebro racional gosta de ignorar até o último segundo). Acontece o que nosso cérebro simplesmente não foi projetado para pensar em longo prazo. Ele quer gratificação instantânea. Por isso nós temos tanta dificuldade em gerir o tempo e administrar nosso dinheiro, que nada mais é do que o tempo que vendemos para os outros. O problema é que, no mundo financeiro, gratificação instantânea costuma significar dívidas no futuro.
Conclusão: somos todos um pouco irracionais (e tudo bem). Ou, como Kahneman diria, temos uma racionalidade limitada.
A Economia Comportamental nos dá uma boa notícia: não somos totalmente responsáveis pelas nossas más decisões financeiras. Pode culpar o cérebro. Ele é cheio de truques, e quando se trata de dinheiro, o lado emocional geralmente ganha. É por isso que somos tão ruins com dinheiro. Mas, como bons economistas comportamentais que somos (mesmo sem saber), podemos aprender a reconhecer esses padrões e tomar decisões um pouquinho mais racionais. E, se no meio do caminho você acabar pagando R$ 30 em um café, pelo menos agora você vai entender por quê.
Interessado em aprender mais sobre economia? Deixo aqui um vídeo meu que explica “por que o governo não imprime moeda e distribui dinheiro para todo mundo”.
R. J. Dabliu é economista, professor universitário, compositor e palestrante. É autor dos livros “Mill Sentidos da Vida”, “O conto da raposa vermelha” e apresentador na série de vídeos para o YouTube, “EU NÃO LI SHAKESPEARE”.
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