Nem o mais otimista dos manifestantes esperava ver tanta gente nas ruas de Curitiba, durante o III Ato em apoio ao Movimento Nacional contra o Aumento da Passagem, organizada na noite desta segunda (17). Pela estimativa dos organizadores, 20 mil pessoas – 10 mil segundo a PM – foram às ruas para protestar.
O grupo começou a se concentrar na Boca Maldita às 17h45. Cerca de 40 minutos depois os manifestantes iniciaram a caminhada pelas ruas da capital. O trajeto não foi anunciado antecipadamente pelos organizadores e a Setran teve trabalho para ordenar o trânsito de forma adequada.
Na altura do Terminal Guadalupe, os veículos precisaram voltar a Rua João Negrão pela contramão, devido ao bloqueio organizado pelo protesto.
Apesar do transtorno causado aos trabalhadores e passageiros, o motorista de ônibus Marcos, de 37 anos, foi totalmente favorável às manifestações. “Todos nós temos direito de reivindicar o que queremos. Nós vivemos em uma democracia e devemos exercer o nosso direito”.
Em relação ao valor da passagem, o motorista afirma concordar com a redução da tarifa. “Eu trabalho no transporte coletivo há 20 anos e entrei ganhando três salários mínimos. E hoje eu continuo ganhando os mesmos três salários, mas a passagem quase triplicou”, conclui.
A cada cruzamento o que se viu foi motoristas pacientes e buzinas de apoio ao movimento. Arnaldo, de 39 anos, estava voltando pra casa quando foi pego de surpresa pela passeata. Ele afirma que não sabia o que estava acontecendo, mas ficou feliz em presenciar o momento e até cedeu a capota de sua caminhonete como ponto de apoio aos fotógrafos. “Começou a chegar o pessoal e trancou a rua, mas pra mim é tranqüilo, não tenho pressa não. A manifestação é válida. Eu sou a favor do protesto”, afirmou.
Os comerciantes também não se intimidaram com a quantidade de pessoas e mantiveram as portas dos estabelecimentos abertas.
A PM e a Guarda Municipal não apareceram em momento algum da passeata, apesar da informação de que alguns agentes estavam infiltrados no meio da multidão para reprimir qualquer tipo de exaltação. A orientação foi de que fosse feito um acompanhamento tático à distância.
O movimento seguiu pelas ruas da capital e as pautas de reivindicações foram se ampliando. Havia desde cartazes pedindo o fim da Copa do Mundo, até empresários protestando pelo alto valor dos impostos pagos. Uma miscigenação de pessoas e causas que se encontrou em uma noite de desabafo.
Os manifestantes passaram pelas ruas XV de Novembro, Dr. Muricy, Marechal Deodoro, Emiliano Perneta, Desembargador Westphalen, Tibagi, Mariano Torres, retornando pela Rua XV de Novembro.
Pelo trajeto, moradores dos edifícios aplaudiam o ato e estendiam bandeiras, panos brancos e improvisavam chuva de papel picado em sinal de apoio.
Durante todo o percurso não foram registrados incidentes ou atos de vandalismo. Pequenos casos isolados eram reprimidos na hora pelos manifestantes aos gritos de “vandalismo não” ou o já clássico “sem violência”.
Após quase três horas de caminhada o movimento se concentrou na Praça Santos Andrade. Seguindo os apelos dos manifestantes, os organizadores do ato decidiram partir em direção ao Palácio Iguaçu, sede do governo estadual.
Chegando ao local, um pequeno grupo de pessoas mais exaltadas tentou invadir o prédio e começou a chutar um portão de ferro que impedia a entrada. Os organizadores e a grande maioria dos presentes foi contra a atitude e hostilizou o bando, pedindo para que os atos de vandalismo fossem interrompidos. Sem sucesso.
Do outro lado, postados de maneira estratégica, a tropa de choque da Polícia Militar aguardava o desenrolar dos acontecimentos para agir. Após muita negociação, confusão e algumas agressões, o movimento legítimo se dispersou e o portão foi derrubado por uma turma que aguardava e insistia na depredação. Para dispersar o bando, a PM usou bombas de gás e balas de borracha.
Manifestações também aconteceram em outras cidades do Paraná, como Cascavel, Campo Mourão, Foz do Iguaçu, Guarapuava e Ponta Grossa.
Uma nova passeata está marcada para esta quinta-feira (18). Segundo os responsáveis, os protestos só serão encerrados após a redução do valor da tarifa.