O Natal, celebrado em 25 de dezembro como o nascimento de Jesus Cristo no cristianismo, não faz parte do calendário religioso nem dos rituais tradicionais do Candomblé de matriz africana. Ainda assim, a data ganhou significados específicos entre muitos adeptos da religião no Brasil, principalmente por conta de fatores históricos, culturais e do sincretismo religioso.

foto de mulher africana
No Candomblé, os orixás são forças da natureza (Foto: Reprodução/Freepik)

Sincretismo e a associação com Oxalá

Durante o período da escravidão, práticas religiosas africanas foram reprimidas, e o sincretismo se tornou uma estratégia de resistência. Nesse contexto, Jesus Cristo passou a ser associado a Oxalá, ou Obatalá, o orixá maior do panteão iorubá, ligado à criação do mundo, à paz e à pureza. Por isso, para muitos praticantes, o dia 25 de dezembro também é reconhecido como o dia de Oxalá.

Apesar dessa associação histórica, líderes religiosos reforçam que Oxalá é muito anterior ao cristianismo.

Uma data cultural, não ritualística

Do ponto de vista ritual, o Natal não integra a prática do Candomblé. A tradição iorubá, por exemplo, possui um calendário próprio, no qual o ano novo tem início no primeiro domingo de junho. Ainda assim, a vivência do Candomblé no Brasil foi moldada pelo território e pela história do país. Assim como Iansã foi associada a Santa Bárbara, essas aproximações eram formas de sobrevivência cultural, e não de equivalência religiosa.

União, reflexão e respeito

Atualmente, o Natal é visto por muitos adeptos do Candomblé como um momento de convivência familiar, reflexão e fortalecimento de valores como respeito, solidariedade e gentileza, princípios constantemente ensinados nos terreiros. A data também coincide com o recesso de muitas casas religiosas, que suspendem atividades nesse período.

Na religião, não existe um rito específico para o Natal, mas isso não impede que os adeptos celebrem em casa com suas famílias. Afinal, todos são brasileiros, vivem em uma sociedade plural e dizem Feliz Natal’ como uma saudação cultural.

Outras celebrações e o início do ano no terreiro

O Candomblé possui diversas festas próprias ao longo do ano, como o Boi de Oxóssi, a Fogueira de Xangô, o Balaio de Oxum e as celebrações para Iemanjá, entre outras. Já a virada do ano costuma ser marcada por rituais internos, como o Osé da casa, que simboliza a limpeza espiritual do terreiro para iniciar um novo ciclo com equilíbrio e proteção.

Dessa forma, embora o Natal não seja uma celebração religiosa do Candomblé, ele é ressignificado por muitos praticantes como um momento de encontro, paz e convivência, dentro da lógica cultural brasileira, sem perder a essência das tradições ancestrais da religião.

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Jessica Ibrahin

Repórter

Jéssica Ibrahin é formada em Jornalismo e pós-graduada em Ciência Política pela UNICAP. Atuou em redações de rádio, TV e portais de notícia, com experiência em entrevistas e reportagens sobre política, cultura e comportamento.

Jéssica Ibrahin é formada em Jornalismo e pós-graduada em Ciência Política pela UNICAP. Atuou em redações de rádio, TV e portais de notícia, com experiência em entrevistas e reportagens sobre política, cultura e comportamento.