Dhony Assis, chamado de “filho de criação” de Marcelo Alves, possível assassino da Miss Raissa Ferreira, ganhou destaque nas investigações por seu comportamento submisso a Marcelo. Ele teria ajudado a ocultar o cadáver da jovem e colaborado na destruição de rastros do crime dentro e fora da casa onde tudo aconteceu.

Dhony, envolvido no Caso Raissa, prestando depoimento para a polícia
Em Paulo Afonso, Dhony se chamava Gilvan, amigo de infância de Raissa (Foto: Reprodução/ RICtv)

Para o delegado Diego Valim, que investiga o caso, Dhony pode ter feito muito mais que destruir provas e ocultar um cadáver. Por isso, ainda é investigado e segue suspeito de participação no homicídio de Raissa. Dhony não é um personagem periférico nessa trama, ele é protagonista.

Para começar a falar dele, é importante esclarecer que o famoso “filho de Marcelo Alves” não se chama Dhony, mas sim Gilvan — conhecido em Paulo Afonso, Bahia, sua terra natal, como Gilvanzinho. Antes de se mudar para Curitiba, Gilvanzinho tinha família: tios, tias, pai, mãe e primos. Em Paulo Afonso, Marcelo nunca foi pai de Dhony (Gilvan).

Raissa e Gilvan, hoje Dhony, se conheceram no projeto de Kung Fu do Marcelo. A turma começou com muitos alunos. Marcelo, recém-chegado de Pernambuco, dava aulas com apoio da prefeitura.

Gilvanzinho logo se destacou e chamou atenção do Mestre Alves. Estudante do ensino médio, focado, ele absorveu rápido a filosofia e disciplina do Kung Fu. Isso o colocou em posição de destaque e logo se tornou o “braço direito” de Marcelo. Com o tempo, essa relação teria se tornado estranha. Segundo ex-alunos, o professor parecia obcecado por Gilvan. Já o jovem era como uma sombra do mestre, sempre ao seu lado.

“Eles faziam tudo juntos. Chegou um ponto que Marcelo só tinha olhos para ele nos treinos. As crianças começaram a desanimar e abandonar as aulas. A gente via que o Marcelo tinha uma influência muito grande sobre o Dhony e ao mesmto tempo um tipo de obsessão por ele”, revelou um ex-aluno à coluna.

E não somente a relação de Marcelo e Dhony colaborou para o encerramento das aulas de Kung Fu. Os pais dos alunos também influenciaram a debandada. O comediante não inspirava confiança nos adultos que consideravam o seu comportamento um tanto estranho. “No final, ficou só os dois. Tomavam banho de rio juntos, treinavam juntos, faziam tudo só os dois, mais ninguém”, disse.

A família de Gilvan chegou a ser alertada por vizinhos, mas ninguém se envolveu. A tia, que criou Gilvan a maior parte da vida, dizia que ele era responsável pelas próprias decisões.

Essa relação entre Marcelo e Gilvan evoluiu e, quando o jovem terminou o ensino médio, no fim da segunda década dos anos 2000, os dois decidiram mudar juntos para Curitiba. “Foi tudo rápido. Gilvanzinho se formou e avisou que ia embora para Curitiba com Marcelo. Foi surpresa, do nada ele foi.”

Nome novo, cidade nova, vida nova

Gilvan mudou de cidade e virou Dhony. O novo nome foi escolhido por Marcelo. Nova cidade, nova vida, nova identidade. Dhony e Marcelo ficaram só os dois, prontos para viver os planos na cidade grande.

Unidos, enfrentaram dificuldades, provações e obstáculos. Viver em Curitiba não é fácil, nem para quem nasceu aqui, imagine para quem chega de fora.

Importante destacar a conduta de Marcelo e Dhony antes do crime. Trabalhadores, sem antecedentes, dois homens com sonhos de vida melhor. Nem Dhony nem Marcelo vieram a Curitiba para virar criminosos. Queriam vencer, dar a volta por cima e viver seus sonhos.

Para isso, trabalharam duro. Marcelo sonhava ser comediante. Se aventurava em barzinhos, usava redes sociais para divulgar seus vídeos. Na casa onde viviam, improvisou um pequeno estúdio para gravações.

Eram anônimos. Invisíveis nas lutas diárias. Vida dura, perrengue, sufoco. Dinheiro era luxo raro. Revezavam uma moto para trabalho de aplicativo de entregas e transportes. Cada dia um usava.

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A casa tinha o mínimo para viver. A luta dos dois era legítima. Dois cidadãos honestos. A falta de dinheiro e conforto não os levou para o crime. Tomavam chuva e frio nas corridas, mas não roubavam. Viravam dia e noite nas entregas, mas não vendiam drogas. Faziam o certo.

Semanas antes da morte de Raissa, conseguiram uma vitória: compraram uma moto. Era de um amigo, o mesmo que emprestou a captiva para Dhony na véspera da morte de Raissa. Em interrogatório, Dhony fala sobre a compra, mas não explica como foi feita a transação.

Depois disso, a prosperidade parece ter causado um desvio no caminho dos dois. O próximo capítulo seria o assassinato de Raissa e isso é assunto para o último texto do Caso Raíssa, na semana que vem.

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jornalista pedro neto posando para foto, de camisa preta e com o fundo branco
Pedro Neto

Colunista

Pedro Neto é curitibano, jornalista investigativo e especialista em gestão de crises. Com mais de 20 anos de estrada, acompanha de perto os bastidores dos casos criminais que mais repercutem no Paraná e no Brasil.

Pedro Neto é curitibano, jornalista investigativo e especialista em gestão de crises. Com mais de 20 anos de estrada, acompanha de perto os bastidores dos casos criminais que mais repercutem no Paraná e no Brasil.