O envelhecimento é um processo inevitável para todos os seres vivos e, como não poderia ser diferente, para os humanos. Com o passar dos anos, a pele perde elasticidade, os cabelos embranquecem, os músculos enfraquecem e os órgãos passam a funcionar com menos eficiência. No entanto, existe uma curiosidade anatômica que intriga médicos e cientistas: uma parte do corpo humano que não envelhece. Essa estrutura mantém-se jovem e funcional do nascimento até a morte — e pode até mesmo ser considerada “imune” ao tempo.

Essa parte é o cristalino dos olhos, mais precisamente o núcleo do cristalino. Situado atrás da íris e da pupila, o cristalino é a lente natural do olho humano, responsável por focalizar a luz na retina e permitir que vejamos com nitidez objetos em diferentes distâncias. E embora o cristalino como um todo passe por mudanças ao longo da vida — como o desenvolvimento da presbiopia ou o surgimento da catarata —, seu núcleo central permanece biologicamente “intocado” desde a fase embrionária.
A lente natural que não envelhece
Durante o desenvolvimento do feto, entre a quarta e a sexta semana de gestação, formam-se as primeiras camadas do cristalino. Essas células iniciais, que constituem o núcleo embrionário do cristalino, não se dividem nem são substituídas ao longo da vida. Elas permanecem vivas, mas inativas, envoltas por novas camadas de células que vão se acumulando conforme o indivíduo cresce. O resultado é uma estrutura única: a parte mais interna do cristalino é composta por células que nos acompanham desde o útero materno — literalmente as mais antigas do corpo.

Esse fenômeno raro acontece porque o cristalino não possui vasos sanguíneos e não realiza trocas celulares como outros tecidos. Sua manutenção depende do humor aquoso (um fluido que circula na parte anterior do olho), responsável por fornecer nutrientes e remover resíduos. Essa característica impede o acúmulo de mutações ou processos degenerativos comuns em outros órgãos, e faz com que as células do núcleo do cristalino não envelheçam da mesma forma que o resto do organismo.
A estrutura do cristalino: crescimento sem renovação
O cristalino é formado por camadas concêntricas, semelhantes às de uma cebola. À medida que crescemos, novas fibras são produzidas e se sobrepõem às mais antigas, que ficam armazenadas no centro. Esse acúmulo contínuo explica por que o cristalino aumenta de espessura ao longo da vida, o que pode interferir na capacidade de focalizar objetos próximos, um fenômeno conhecido como presbiopia (ou “vista cansada”).

Contudo, mesmo com esse crescimento e com possíveis alterações funcionais, o núcleo permanece praticamente inalterado. Segundo estudos de bioquímica ocular, as proteínas presentes nessa região — chamadas cristalinas — são algumas das mais estáveis conhecidas pela ciência. Elas não se degradam com facilidade e resistem ao tempo de maneira impressionante, o que reforça a ideia de que o núcleo do cristalino é a parte do corpo que menos sofre os efeitos do envelhecimento.
Cristalino pode ser afetado por doenças
É importante destacar que o cristalino, embora tenha uma parte “imortal”, pode ser afetado por doenças relacionadas à idade, como as cataratas. Essa condição ocorre quando as proteínas do cristalino sofrem alterações estruturais, tornando-se opacas e comprometendo a passagem de luz para a retina. A catarata não afeta diretamente o núcleo embrionário, mas sim as camadas mais externas da lente. Em muitos casos, o tratamento envolve a substituição do cristalino por uma lente artificial — e, nesse processo, o núcleo “eterno” também é removido.
Ainda assim, o fato de existirem células tão antigas no corpo humano é um marco da complexidade e da engenhosidade da biologia. Não é que o cristalino inteiro seja “eterno”, mas sua parte central é, sem dúvida, um relicário biológico que nos conecta diretamente à nossa origem embrionária.

O que isso revela sobre o corpo humano?
A descoberta de que o núcleo do cristalino não envelhece oferece uma nova perspectiva sobre o funcionamento do organismo. Mostra que nem todos os tecidos estão sujeitos ao mesmo ritmo de renovação celular ou desgaste, e que certos mecanismos de preservação podem garantir a longevidade de estruturas fundamentais.
Além disso, essa curiosidade anatômica inspira estudos em áreas como a oftalmologia, a biologia molecular e até a medicina regenerativa. Compreender por que essas células sobrevivem por tanto tempo pode ajudar os cientistas a desenvolver novas abordagens para o tratamento de doenças degenerativas e para o prolongamento da vida útil de outros órgãos.
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