O envelhecimento é um processo inevitável para todos os seres vivos e, como não poderia ser diferente, para os humanos. Com o passar dos anos, a pele perde elasticidade, os cabelos embranquecem, os músculos enfraquecem e os órgãos passam a funcionar com menos eficiência. No entanto, existe uma curiosidade anatômica que intriga médicos e cientistas: uma parte do corpo humano que não envelhece. Essa estrutura mantém-se jovem e funcional do nascimento até a morte — e pode até mesmo ser considerada “imune” ao tempo.

olho de pessoa idosa
Localizado dentro do olho, o cristalino nunca envelhece (Foto: Pixabay)

Essa parte é o cristalino dos olhos, mais precisamente o núcleo do cristalino. Situado atrás da íris e da pupila, o cristalino é a lente natural do olho humano, responsável por focalizar a luz na retina e permitir que vejamos com nitidez objetos em diferentes distâncias. E embora o cristalino como um todo passe por mudanças ao longo da vida — como o desenvolvimento da presbiopia ou o surgimento da catarata —, seu núcleo central permanece biologicamente “intocado” desde a fase embrionária.

A lente natural que não envelhece

Durante o desenvolvimento do feto, entre a quarta e a sexta semana de gestação, formam-se as primeiras camadas do cristalino. Essas células iniciais, que constituem o núcleo embrionário do cristalino, não se dividem nem são substituídas ao longo da vida. Elas permanecem vivas, mas inativas, envoltas por novas camadas de células que vão se acumulando conforme o indivíduo cresce. O resultado é uma estrutura única: a parte mais interna do cristalino é composta por células que nos acompanham desde o útero materno — literalmente as mais antigas do corpo.

estrutura do olho humano
Cristalino fica logo atrás da íris (Foto: Reprodução/Hospital de Olhos de Blumenau)

Esse fenômeno raro acontece porque o cristalino não possui vasos sanguíneos e não realiza trocas celulares como outros tecidos. Sua manutenção depende do humor aquoso (um fluido que circula na parte anterior do olho), responsável por fornecer nutrientes e remover resíduos. Essa característica impede o acúmulo de mutações ou processos degenerativos comuns em outros órgãos, e faz com que as células do núcleo do cristalino não envelheçam da mesma forma que o resto do organismo.

A estrutura do cristalino: crescimento sem renovação

O cristalino é formado por camadas concêntricas, semelhantes às de uma cebola. À medida que crescemos, novas fibras são produzidas e se sobrepõem às mais antigas, que ficam armazenadas no centro. Esse acúmulo contínuo explica por que o cristalino aumenta de espessura ao longo da vida, o que pode interferir na capacidade de focalizar objetos próximos, um fenômeno conhecido como presbiopia (ou “vista cansada”).

olhos de criança
Núcleo do cristalino não sofre alterações ao longo da vida (Foto: Pixabay)

Contudo, mesmo com esse crescimento e com possíveis alterações funcionais, o núcleo permanece praticamente inalterado. Segundo estudos de bioquímica ocular, as proteínas presentes nessa região — chamadas cristalinas — são algumas das mais estáveis conhecidas pela ciência. Elas não se degradam com facilidade e resistem ao tempo de maneira impressionante, o que reforça a ideia de que o núcleo do cristalino é a parte do corpo que menos sofre os efeitos do envelhecimento.

Cristalino pode ser afetado por doenças

É importante destacar que o cristalino, embora tenha uma parte “imortal”, pode ser afetado por doenças relacionadas à idade, como as cataratas. Essa condição ocorre quando as proteínas do cristalino sofrem alterações estruturais, tornando-se opacas e comprometendo a passagem de luz para a retina. A catarata não afeta diretamente o núcleo embrionário, mas sim as camadas mais externas da lente. Em muitos casos, o tratamento envolve a substituição do cristalino por uma lente artificial — e, nesse processo, o núcleo “eterno” também é removido.

Ainda assim, o fato de existirem células tão antigas no corpo humano é um marco da complexidade e da engenhosidade da biologia. Não é que o cristalino inteiro seja “eterno”, mas sua parte central é, sem dúvida, um relicário biológico que nos conecta diretamente à nossa origem embrionária.

olho azul
Apesar do núcleo do cristalino não envelhecer, suas camadas mais externas podem sofrer variações, como no caso das cataratas (Foto: Pixabay)

O que isso revela sobre o corpo humano?

A descoberta de que o núcleo do cristalino não envelhece oferece uma nova perspectiva sobre o funcionamento do organismo. Mostra que nem todos os tecidos estão sujeitos ao mesmo ritmo de renovação celular ou desgaste, e que certos mecanismos de preservação podem garantir a longevidade de estruturas fundamentais.

Além disso, essa curiosidade anatômica inspira estudos em áreas como a oftalmologia, a biologia molecular e até a medicina regenerativa. Compreender por que essas células sobrevivem por tanto tempo pode ajudar os cientistas a desenvolver novas abordagens para o tratamento de doenças degenerativas e para o prolongamento da vida útil de outros órgãos.

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perfil Luciano Balarotti
Luciano Balarotti

Repórter

Formado pela UFPR, Luciano Balarotti tem 25 anos de experiência profissional, grande parte dedicada ao jornalismo esportivo. Mas atua também em áreas como Cultura, Cotidiano, Segurança Pública, Automóveis e Concursos.

Formado pela UFPR, Luciano Balarotti tem 25 anos de experiência profissional, grande parte dedicada ao jornalismo esportivo. Mas atua também em áreas como Cultura, Cotidiano, Segurança Pública, Automóveis e Concursos.