A tradição de colocar uma moeda na boca de um morto tem viralizado nesta semana nas redes sociais. A crença de colocar o objeto embaixo da língua do cadáver – que foi vítima de alguma morte violenta – tem chamado a atenção de internautas, pois essa ação supostamente atrairia o assassino. Mas será que isso realmente acontece? O perito criminal e psicólogo Guilherme Bertassoni da Silva explicou a origem dessa história e o porquê essa situação ocorre no corpo da vítima.

Moeda na boca e sangramento de cadáveres: especialista explica se crença é real
A crença também é realizada por algumas pessoas no Brasil (Foto: imagem ilustrativa / Freepik)

Entenda de onde veio o ritual

De acordo com Guilherme, a prática de colocar a moeda na boca do falecido vem da mitologia grega, onde Hades, o deus do submundo, exigia uma moeda para que a alma do morto pudesse atravessar para o além, sendo transportada pelo barqueiro Caronte.

“Na tradição ocidental acreditava-se em um ritual que relaciona moeda, boca e velório. Isso parece estar ligado ao mito grego do deus Hades (depois surge como deus romano Plutão, seu equivalente na península apenina). Hades é o governante do submundo, o mundo dos mortos. Para se realizar a travessia do mundo dos vivos para o mundo dos mortos a alma do recém falecido é transportada por um barqueiro, de nome Caronte, que serve a Hades. Caronte cobra uma taxa, equivalente a um óbolo (moeda grega de reduzido valor). Para que ele receba tal donativo, a moeda deve ser depositada na boca da pessoa falecida. Ou em outros lugares, sobre os olhos”, disse.

Necropsia gera grande incisão no corpo

Sobre o sangramento, o perito explicou que isso pode ocorrer devido ao exame de necropsia realizado em cadáveres, especialmente quando a morte é violenta, como em homicídios. A necropsia envolve uma grande incisão no corpo, o que acelera a decomposição e gera gases internos.

“O corpo necropsiado, pela própria característica da necropsia, experimenta uma aceleração dos fenômenos de putrefação, o que traz avanço na produção interna de gases no corpo. Junto com esse fenômeno, a movimentação no corpo pode gerar deslocamento de gases – movimentação comum em velórios que causam maiores comoções”, afirmou o perito que explicou que esses gases podem pressionar os líquidos dentro do corpo, causando a expulsão deles pelos orifícios, o que muitas vezes é interpretado como sangramento.

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Falta de identificação do autor do crime pode fomentar crenças

O perito também destacou que, no momento do velório, a investigação da morte pode ainda não ter identificado o autor do crime. Isso gera um clima de incerteza e contribui para crenças populares, como a ideia de que o corpo que “sangra” está buscando vingança.

“Cumpre ainda salientar que é provável que durante o velório a investigação ainda não tenha apontado o criminoso responsável por uma morte violenta, o que coloca a dúvida sobre a autoria presente naquele delicado momento de perda.”

Por fim, Guilherme explicou que o sangramento não tem relação com fenômenos sobrenaturais, mas sim com os processos biológicos naturais do corpo em decomposição.

“A somatória dessas situações facilita o entendimento de que o ‘corpo que sangra quer vingança’, ou que a pessoa não completou sua travessia para a morte por aguardar a indicação de seu carrasco”, completou.

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Jonathas Bertaze

Repórter

Jonathas Bertaze é formado em Jornalismo desde 2023, pós-graduado em Assessoria, Gestão de Comunicação e Marketing e especializado na cobertura de pautas de Segurança, como crimes e acidentes, além de Cotidiano e Loterias, com resultados da Caixa Econômica.

Jonathas Bertaze é formado em Jornalismo desde 2023, pós-graduado em Assessoria, Gestão de Comunicação e Marketing e especializado na cobertura de pautas de Segurança, como crimes e acidentes, além de Cotidiano e Loterias, com resultados da Caixa Econômica.