Como é a vida de um autista? Confira o dia a dia e a descoberta do transtorno
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), dos 200 milhões de habitantes no Brasil, cerca de dois milhões de pessoas são diagnosticadas com o Transtorno do Espectro Autista (TEA). Segundo os dados, uma a cada 50 crianças pode ter autismo, sendo sua prevalência maior em meninos, na proporção de três homens para uma mulher.
Leia também:
O autismo é um distúrbio que afeta o desenvolvimento neurológico. Além de exames laboratoriais, o diagnóstico é feito por observação clínica por uma equipe de profissionais com treinamento específico para investigação individual de cada caso.
Identificação com outros autistas
A produtora de conteúdos na internet, Alpin Montenegro, de 34 anos, é diagnosticada com TEA, Transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH) e com Altas Habilidades/Superdotação (AH/SD). Ela usa sua conta no Instagram, @blackautie, e ocupa o espaço como autista preta e lésbica para falar sobre o assunto nas redes sociais. “Meu objetivo produzindo conteúdo é para conscientizar e quebrar o estereótipo do homem branco autista de classe média. Existem autistas em todas as etnias, classes sociais e LGBTQIAP+”.
Alpin foi diagnosticada em 2021. Ela diz que se identifica com autistas desde a infância e começou a pesquisar sobre a possibilidade após ouvir o podcast “Esquizofrenoias”, da Amanda Ramalho, que também foi diagnosticada no ano de 2022.
“Amanda gravou um episódio com Rafael Mantesso sobre diagnóstico tardio em autistas. Eu ouvi o episódio e me identifiquei com tudo que Rafael relatava. A partir de então comecei a buscar conteúdo produzido por autistas no YouTube, Instagram e Twitter. Também sentia muita falta de autistas pretos produzindo conteúdo sobre o tema. Foi aí que tive a ideia de criar meu perfil no Instagram e começar a postar relatos desde a minha infância até os dias de hoje”, relatou.
Cada autista tem suas características, porém a produtora de conteúdo encontrou semelhanças em alguns neurodivergentes, como dificuldades na comunicação e interação social, hipersensibilidades sensoriais a som, toque, luzes, texturas, seletividade alimentar, hiperfoco e movimentos repetitivos para autorregulação.
Além disso, ela conta que apresentava crises de shutdown, que segundo o Instituto Inclusão Brasil, autistas podem se retirar parcialmente ou completamente do mundo ao seu redor e não responder mais à comunicação. Alpin também sofreu de meltdown, que são comportamentos extremos como gritar, automutilação, comportamento agressivo e comportamentos repetitivos, além de poder se auto agredir.
Alpin também conta que o autismo acaba atrapalhando o seu trabalho em alguns momentos. “Muitas vezes a fobia social e a dificuldade em me comunicar com as pessoas me prejudicam no trabalho. São muitos conteúdos que acabo deixando de postar, muitas propostas de palestras e participações em rodas de conversa que não consigo responder”, finalizou.
Preconceito na escola
A professora e arteterapeuta Roberta Busemeyer, de 42 anos, é mãe de uma menina autista de sete anos. Ademais, Roberta é mestranda em Educação Inclusiva, consultora de famílias atípicas e palestrante sobre o tema. A filha da professora foi diagnosticada aos três anos de idade.
A mãe conta que teve a saúde impactada após receber o diagnóstico da criança e explicou: “por toda a luta que temos que passar para conseguirmos a inclusão deles. Geralmente, temos que brigar com o plano de saúde para conseguirmos as terapias necessárias e tentar uma inclusão melhor na escola, porque tem algumas que não são inclusivas” diz a professora.
A comunicação é o maior déficit da criança. Segundo Roberta, ela não falava até os quatro anos de idade e faz acompanhamentos com fonoaudiólogo, músico terapeuta e psicólogo. Por não ser alfabetizada, a menina realiza duas vezes a sala multifuncional, um reforço escolar para crianças com deficiência ou altas habilidades.
A arteterapeuta começou a desconfiar que sua filha era especial pelos atrasos no desenvolvimento da criança, até que o pediatra relatou que havia suspeitas de autismo. “O doutor já pediu um monte de exames. Eu, como educadora, já percebi alguns atrasos fora a fala, como por exemplo, o andar, que foi com um ano e cinco meses. Nos marcos do desenvolvimento das crianças têm algumas diferenças que devem ser respeitadas, porém ela sempre tinha um atraso em relação a outras”, contou.
Além disso, Roberta revelou que a filha já passou por preconceito enquanto realizava a matrícula em uma escola pública. “Falamos que ela era autista e logo fomos interrogados se era leve. E se fosse severo? Mesmo assim ela teria direito”, protestou.
Suspeita desde o primeiro ano de idade
A jovem estudante de odontologia Raiane Raitz, de 25 anos, também é mãe de uma menina com TEA, de cinco anos. A universitária conta que desde que a filha tinha um ano de idade, ela e o pai sempre suspeitaram que ela tinha autismo. Por esse motivo, os dois começaram a estudar mais sobre o transtorno.
“Os primeiros meses foram bem delicados, tivemos muitos aprendizados com ela, afinal todos nós estávamos passando por um processo novo em nossas vidas. Com as terapias que ela fez e ainda está fazendo, tem melhorado muito”, relatou.
A filha de Raiane também demonstrou outros sinais fazendo com que os pais suspeitassem da neurodivergência, como não corresponder ao chamá-la e ficar girando constantemente.
Na escola, a criança sempre recebeu e demonstrou muito afeto pelos colegas. “Ela é muito carinhosa. Começou na escola nova semana passada, então ela está em período de adaptação. Na anterior, recebia muito carinho dos coleguinhas”, contou.
Raiane adiciona que a menina, assim como a filha de Roberta, tem dificuldades na fala. “Agora com cinco anos ela está soltando as palavras, melhorou muito em alguns aspectos. Claro que em outros ainda têm, na fala por exemplo, continua sendo umas das dificuldades hoje em dia”, finalizou a estudante.