Curitiba - Curitiba realiza a partir das 19h desta quarta-feira (1º) a primeira audiência sobre a nova licitação do transporte público da capital paranaense – prevista para janeiro de 2026. O novo acordo será realizado 16 anos após o vínculo anterior, assinado pelo então prefeito Luciano Ducci (PSB), e envolto em diversas polêmicas e críticas.

Ônibus em Curitiba; capital paranaense terá nova licitação do transporte coletivo
Licitação deve ser realizada em janeiro de 2026. (Foto: José Fernando Ogura/SECOM)

Em 2009, no início do segundo mandato de Beto Richa (PSDB) na Prefeitura de Curitiba, a passagem de ônibus foi reajustada de R$ 1,90 para R$ 2,20. No ano seguinte, Richa deixou o cargo para disputar o Governo do Paraná e Ducci, então vice, assumiu como prefeito e a responsabilidade de finalizar a licitação do transporte público.

A licitação foi criticada pela falta de transparência, inclusive com uma ação cívil pública sendo ajuizada pelo Ministério Público do Paraná (MPPR) apontando um suposto acesso à minuta do processo por algumas das empresas vencedoras da disputa. Essa denúncia ainda está sendo analisada no Tribunal de Justiça do Paraná (TJPR).

Além disso, houve uma mudança na composição da tarifa técnica: a remuneração às empresas que prestam o serviço à Prefeitura de Curitiba deixou de ser condicionada à quilometragem rodada pelos ônibus para o número de passageiros que utilizam o sistema.

A próxima licitação proposta pela Prefeitura de Curitiba prevê o retorno da remuneração às empresas pelo quilômetro rodado, em detrimento aos passageiros que utilizam o sistema. O principal argumento é evitar maiores variações na tarifa, devido a fatores externos.

Especialistas (veja mais abaixo) apontam que essa relação impactou no aumento gradual da tarifa do transporte público em Curitiba. Somente utilizando o valor da inflação oficial (IPCA, Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), o valor cobrado aos passageiros estaria na casa dos R$ 4,53. Atualmente o preço aos usuários é de R$ 6.

O prefeito de Curitiba, Eduardo Pimentel (PSD), anunciou em agosto deste ano que o valor de R$ 6 será mantido até o final de 2027, quando então as empresas que vencerem o processo de licitação começaram a operar o novo sistema.

Prefeitura de Curitiba espera que nova concessão estabilize tarifa do transporte público

Interbairros II é um dos ônibus mais utilizados pela população de Curitiba; tarifa de ônibus seguirá a mesma até 2027
Curitiba espera investimento bilionário com a nova concessão do transporte público. (Foto: José Fernando Ogura/SMCS)

A Prefeitura de Curitiba espera que o novo contrato de concessão injete R$ 3,9 bilhões em 15 anos no transporte público da capital paranaense.

Esses recursos permitirão integração temporal ampla, crescimento da frota elétrica, renovação da frota diesel, novas linhas de ônibus e criação de um fundo garantidor público que dará mais segurança financeira ao sistema.

O edital de concessão será lançado em novembro deste ano e deverá ser realizado pela (Bolsa de Valores de São Paulo), em janeiro de 2026, com início de contrato em junho do próximo ano.

Parte dos investimentos previstos serão utilizados para a compra de 245 ônibus elétricos em cinco anos, de 149 ônibus a diesel modelo Euro 6 no início do contrato e mais 1.084 veículos ao longo de 15 anos.

Ainda serão construídos dois eletropostos públicos, com 42 carregadores, nos próximos cinco anos, e infraestrutura de carregamento nas garagens (107 carregadores).

O edital contará com cinco lotes: dois para os eixos Norte/Sul e Leste/Oeste, um para Linhas Diretas/Ligeirinhos e dois para os convencionais.

A única exceção será a Linha Turismo, que receberá um edital e regulamentações novas. Em até 90 dias, as regras para esses processos deverão ser apresentadas na Câmara Municipal de Curitiba.

Bilhete único e outras soluções podem auxiliar no futuro do transporte público

Cartão-transporte sendo usado em estação-tubo de Curitiba
Sistema de bilhetagem eletrônica em Curitiba. (Foto: Hully Paiva/SMCS)

Pesquisa realizada pelo IRG Pesquisas, a pedido do Grupo RIC, mostrou que mais da metade dos usuários do transporte público de Curitiba utilizam mais de uma linha para se locomoveram diariamente.

48,19% dos entrevistados fazem conexões com duas linhas e 22,44% usam três linhas por dia, segundo o levantamento.

Dessa forma, o transporte público de Curitiba ganha maior concorrência, como por exemplo, os serviços de carro por aplicativo. Nesse cenário, especialistas apontam que para o modelo seguir competitivo é preciso buscar inovações.

O presidente do Instituto Destino Brasil, Ademar Batista Pereira, cita que, em outros países, o modelo de bilhete único permitiu uma redução no número de carros em circulação, em detrimento de maior ocupação no transporte público.

“Na Alemanha eles criaram um sistema chamado Deutsche Ticket. Você paga um valor por mês, agora está 52 euros, e você pode usar todos os trens regionais e todo o transporte urbano das cidades. No primeiro mês que eles lançaram venderam 4 milhões e meio de tickets. Por quê? As pessoas não fizeram a conta. De carro, ele mora numa cidadezinha pequena, ele trabalha na outra. Se ele fosse de carro, ele gastaria mais”, apontou.

Essa necessidade de integração temporal também foi vista pela vereadora em Curitiba Laís Leão (PDT). A parlamentar fez um levantamento com a população da capital paranaense em que avaliou a falta de integração entre as linhas como uma das principais causas de insatisfação do usuário. De uma de 1 a 10, esse quesito recebeu 5,3 de satisfação.

“Então a gente precisa garantir que as pessoas queiram utilizar o transporte coletivo e que seja interessante para elas no dia a dia. Porque ao mesmo tempo que os usuários do transporte público estão despencando, as ruas ficam cada vez mais abarrotadas de carros. Então é preciso fazer um trabalho para atrair de novo esse usuário. E isso vai desde o preço da passagem até uma melhor integração do sistema. Sistemas em que você utiliza por dia, semana, mês ou ano, com você pagando diretamente a taxa e utilizando de forma ilimitada”, analisou.

Atualmente Curitiba não conta com um modelo de bilhete único, mas tem ampliado a integração temporal em algumas regiões da cidade. Exemplo é a linha Tatuquara/Centro, que integra a Praça Rui Barbosa ao Tatuquara. O presidente da Urbs, Pedro Ogeny Ribeiro, destacou que a Prefeitura de Curitiba deseja ampliar esse modelo na próxima licitação.

“Então, o sistema de bilhetagem eletrônica, o sistema que funciona da maneira que nós queremos, por exemplo, nós queremos customizar as utilizações. Na próxima licitação, nós estamos prevendo uma ampla integração temporal, onde a pessoa pode fazer a integração temporal ampla em qualquer ponto da cidade, criando os seus trajetos e criando o seu caminho”, finalizou.

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Jorge de Sousa

Editor

Jorge de Sousa é formado em jornalismo desde 2016, pós-graduado em Direito Eleitoral e Processo Eleitoral e especializado na cobertura de pautas sobre Política, do Paraná e do Brasil, além de matérias sobre Agronegócio e Esportes.

Jorge de Sousa é formado em jornalismo desde 2016, pós-graduado em Direito Eleitoral e Processo Eleitoral e especializado na cobertura de pautas sobre Política, do Paraná e do Brasil, além de matérias sobre Agronegócio e Esportes.