
Diante do caos que vive o país é necessário olhar para a raiz do problema
*Por Giulianne Kuiava
Em meio ao desabastecimento de combustíveis, as filas quilométricas em postos, a falta de entrega de medicamentos em hospitais, ao prejuízo de produtores rurais e a falta de alimentos em mercados, o Brasil vive esta semana um colapso causado pela dependência do país a um sistema de transporte, que de longe pode ser considerado o mais eficaz, e que domina o transporte de cargas em todo o território.
Não se pretende julgar a importância das manifestações de caminhoneiros, que tem como objetivo a diminuição dos valores dos combustíveis. Mas diante do caos que vive o país é necessário olhar para a raiz do problema: um Brasil totalmente dependente do sistema rodoviário.
O próprio governo admite o gargalo nesse modal. O Ministério dos Transportes, Portos e Aviação Civil, colocou em consulta pública, no mês de março, o Plano Nacional de Logística. O trabalho, segundo o Ministério, tem como projeção o ano de 2025, e mostra ser possível uma redução anual de 16% no custo total de transporte de cargas no período. Com a conclusão das obras em andamento e a ampliação de capacidade das ferrovias, segundo o relatório, é possível otimizar a matriz de transporte de cargas brasileira.
Mas isso já deveria ser prioridade há muito tempo. Construir ferrovias, e investir em outros meios de transporte leva mais do que o tempo do mandato político, de quatro anos, e tem um custo elevado também. Sem contar a já investigada relação entre agentes públicos e empresários do setor rodoviário.
Um país que para diante da manifestação de caminhoneiros, é o país que tem 64% do transporte de cargas feito por rodovias, com 1,5 trilhão de toneladas por quilômetro útil. As ferrovias correspondem a um total de apenas 18%, com 365 bilhões de TKUs. Situação bem diferente de outros países.
Em matéria divulgada pelo Ministério dos Transportes, cita-se a importância da redução de caminhões nas estradas, e dos custos logísticos de R$ 54,7 bilhões por ano a partir de 2025. Se isso se concretizar será um grande avanço, mas que chega muito tarde.
Que o preço dos combustíveis está acima do razoável, motivo das paralisações, não se pode negar. Desde que a Petrobras mudou a política de preços para, segundo a estatal, acompanhar o mercado internacional, em junho do ano passado, os valores tem tido revisões constantes, e até diárias. Pressionado, na quinta-feira (23) o presidente da Petrobras, Pedro Parente, anunciou a diminuição em 10% do preço do diesel como medida emergencial por 15 dias, mas afirmou que não vai mexer na nova política adotada. Basta saber até quando, já que o Brasil paga pelos seus próprios erros, se vendo dependente de um modal de transporte que concentra mais poder do que deveria.