A prova de compreensão e produção de textos foi aplicada, neste domingo (9), a todos os vestibulandos que passaram para a segunda fase do processo seletivo 2013 da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

Os temas abordados na prova foram a Conferência Rio +20, família, violência e educação no Brasil. Cada uma das 5 questões deveria ser respondida com um texto com tamanho entre 8 e 12 linhas.

Veja abaixo os comentários do professor de Redação, André Luiz Vieira, e de Língua Portuguesa, João Filipe Magnani, para cada uma das questões:

 

QUESTÃO 1

COMENTÁRIO – RESUMO – Como esperado, o texto para resumo valida o nome da prova. Eis a questão em que o aluno precisa demonstrar capacidade de leitura.

Um texto tradicionalmente dissertativo e com um caráter metalinguístico. Tese muito clara e argumentos fáceis de serem depreendidos.

A autora se baseia na ideia da língua como instrumento de poder. O uso do termo “doutor”, segundo ela, revelaria a submissão de quem usa e a postura superior de que a exige.

Importante deixar claro que Eliane Brum não usa o termo por um posicionamento político e justifica sua postura trazendo elementos históricos e atuais. Caracterizando especialmente o viés socioeconômico do uso do termo, sendo ainda atual devido à desigualdade.

 

QUESTÃO 2

COMENTÁRIO – DISSERTAÇÃO-ARGUMENTATIVA – Talvez a questão mais difícil para o candidato, uma vez que ele precisaria apontar novas soluções e justificá-las.
A partir da pergunta “quais seriam as duas mudanças mais importantes para uma melhoria desse nível de ensino?“ Era preciso construir um texto propondo “exatamente” duas soluções, excetuando “modernização do currículo” e “integração das disciplinas em grandes áreas do conhecimento”, pois essas já estavam no texto base e o enunciado era claro ao afirmar que deveriam diferentes.

A dificuldade consistia em apresentar propostas realizáveis, já que era preciso justificar a mudança proposta, sem, é claro, cair no senso comum que, em geral, é “jogar a responsabilidade” no governo, ou dizer que é preciso se conscientizar. Outro desafio era articular as propostas em um texto coeso e coerente. Era preciso usar com perspicácia os elementos de coesão para que as sugestões não parecessem tópicos.

QUESTÃO 3

COMENTÁRIO – Nesta questão, era preciso construir um texto concordando com a opinião de Nelson Rodrigues ou discordando dela, além de relacionar com fatos atuais e sustentar bem o seu ponto de vista.

Para Nelson Rodrigues a violência faz parte da natureza do homem e a disciplina é apenas uma convenção. Um texto histórico de Tácito (XIV, 17), mostrando eventos de violência na Roma de Nero, corrobora a visão do cronista carioca.

O aluno deveria se posicionar em relação a essa ideia e relacionar com casos de violência atuais (esporte e brigas de torcida).

Os dois textos de apoio traziam exemplos, assim, o aluno que também exemplificasse, que desse concretude ao seu texto, certamente seria valorizado.

 

QUESTÃO 4

COMENTÁRIO – Neste tipo de questão, embora óbvio, é interessante lembrar que aquilo que está escrito e o que o aluno irá desenvolver deverão parecer fazer parte de um mesmo texto. Não se pode, portanto, mudar de assunto, nem repetir ideias.

Rosely Sayão afirma que a família passou do singular para o plural. A autora caracteriza a “família singular” como aquela com um homem e uma mulher, unidos pelo casamento etc. Qualquer concepção que fugisse do tal padrão, segundo ela, significaria um arranjo familiar resultado a partir da morte de um dos progenitores.

Uma conjunção adversativa “mas” introduz o terceiro parágrafo, o qual deve ser continuado. O aluno deveria aqui falar dos novos arranjos familiares sem se esquecer de mencionar “família plural” e o que mudou dos anos 60 para cá. Exemplos concretos valorizariam o texto.

Vale lembrar que o texto estava em 1ª pessoa, era preciso mantê-la.

 

QUESTÃO 5

COMENTÁRIO – COMENTÁRIO INTERPRETATIVO – Fechando com chave de ouro essa bela prova, a UFPR valoriza aqui o conhecimento de mundo do vestibulando. Não basta dominar a estrutura, é preciso ter conteúdo. O aluno deveria explicitar a opinião do cartunista Paixão, justificando suas ideias com os elementos não verbais. Isto é, apresentar também a charge.

Há uma incoerência entre o “levantar a bandeira da sustentabilidade” e as ações concretas, que não ocorrem. Os elementos não verbais, no caso as árvores cortadas, mostram que conferências são, muitas vezes, discursos no vazio.

Não se poderia deixar de mencionar a intertextualidade do desenho de Paixão com a foto (acima) que mostra Marines americanos tomando Iwo Jima, imagem em que o cartunista se baseou para produzir sua arte.

 

COMENTÁRIO GERAL – Desde 1996 a UFPR vem desenvolvendo um trabalho muito interessante no que tange à prova de redação. O nome da prova – “Compreensão e Produção de Textos” – já revela objetivo plural da instituição. A leitura é ponto central da prova, sem deixar, claro, de valorizar o conhecimento de mundo.

Isso se revela na boa variação de gêneros textuais e nos comandos de proposta bastante específicos, os quais buscam deixar claro o que se espera do candidato.

É motivo de congratulação, também, o fato de os temas serem todos do cotidiano, valorizando, assim, o aluno que busca se informar.

Podemos dizer com convicção (e por que não dizer com alegria) que nesta prova não há pegadinhas ou surpresas.

 

Outras provas – Nesta segunda-feira, dia 10 de dezembro, acontecem as provas discursivas de biologia, física, química, matemática, geografia, história, sociologia e filosofia, além das provas de habilidades específicas para os cursos de Design e Arquitetura e Urbanismo.

As portas para acesso às salas abrem às 12h45 e fecham às 13h30. Após o
encerramento das provas, os professores do curso Apogeu, de Curitiba, resolvem e
comentam todas as questões no portal RIC MAIS.