O YouTuber conhecido como ‘Neo-Orientalist’ foi preso na última segunda-feira (31) por oferecer Coca-Cola a integrantes da tribo sentineles, um dos últimos povos isolados do mundo, que habitam a Ilha Sentinela do Norte, que está sob o controle da Índia.
Segundo as autoridades, Mykhailo Viktorovych Polyakov, nome verdadeiro do YouTuber, zarpou de uma ilha próxima à Sentinela do Norte, na madrugada do dia 29 de março. Após uma viagem de aproximadamente 40 km, Polyakov chegou ao local por volta das 10h da manhã.
Ao desembarcar em Sentinela do Norte equipado com uma câmera GoPro, o homem ficou assobiando na praia por cerca de uma hora, na tentativa de chamar a atenção de um dos locais. Com o contato bem-sucedido, Polyakov ofereceu um coco e uma lata Coca-Cola diet aos sentineleses, registrando todo o momento em vídeo.
Quem é Neo-Orientalist?
O canal de Polyakov, chamado de Neo-Orientalist, já publicou uma série de vídeos que mostram uma rotina no Afeganistão junto ao Talibã, grupo terrorista que tomou controle do país em 2021.
Apesar do conteúdo de alto risco, o canal soma pouco mais de mil inscritos.
Quem são os sentineleses?
Um dos últimos povos que resiste ao contato com outras culturas no mundo, estima-se que cerca de 150 indivíduos componham os sentineleses. Devido ao isolamento, pouco se sabe sobre a tribo, mas é possível identificar que sobrevivem a base da caça e da pesca, sem indícios de agricultura na ilha. A língua local também é um mistério, já que não possui nenhuma similaridade com nenhum outro idioma no planeta.
Apesar de não dominarem a metalurgia, utilizam peças de ferro trazidas pelo mar ou sobras por embarcações, afiando-as para criar armas e ferramentas.
Todas as tentativas de contato com os sentineleses ao longo dos anos foram tensas, devido ao comportamento desconfiado e hostil dos locais. Autoridades indianas e britânicas tentaram oferecer presentes à tribo ao longo da história para tentar conquistar a confiança dos habitantes da ilha, mas sem sucesso.
Notícias Relacionadas
Enquanto algumas tentativas de contato resultavam nos sentineleses fugindo para a selva, outros visitantes foram recebidos com flechas e lanças. O diretor de um documentário da National Geographic, que tentava desvendar os mistérios sobre os sentineleses, foi atingido por uma flecha na coxa, em 1974.
O relato mais detalhado sobre os sentineleses é de uma expedição de pesquisadores indianos em 1970. Da embarcação deles, entre as Ilhas Sentinela do Norte e Constança, uma das pessoas à bordo registrou um testemunho curioso.
“Alguns descartaram suas armas e fizeram gestos para que jogássemos os peixes. As mulheres saíram das sombras para assistir nossas “palhaçadas”… Alguns homens vieram e pegaram os peixes. Eles pareciam agradecidos, mas não parecia que sua atitude hostil tinha sido suavizada… Todos eles começaram a gritar palavras incompreensíveis. Nós gritamos e volta e fizemos gestos indicando que queríamos ser amigos. A tensão não diminuiu. Neste momento, uma coisa estranha aconteceu — uma mulher juntou-se a um guerreiro e sentaram-se na praia num abraço apaixonado. Este ato foi repetido por outras mulheres, cada uma tirando um guerreiro para si, uma espécie de acasalamento comunitário. Assim, o grupo militante diminuiu. Isso continuou por um tempo e quando o ritmo dessa dança de desejo terminou, os casais se retiraram para as sombras da floresta. Porém, alguns guerreiros permaneceram em guarda. Nós nos aproximamos à praia e jogamos mais peixes que foram imediatamente recolhidos pelos mais jovens. Já tinha passado do meio-dia e nos dirigimos de volta ao navio“, diz o relato.
Quais os riscos do contato com os sentineleses?
Além do risco físico para possíveis visitantes, por causa do comportamento imprevisível da tribo e da dificuldade de acesso à Sentinela do Norte, o intercâmbio oferece mais perigo ainda para os próprios sentineleses.
Por se tratar de um grupo de pessoas isoladas a gerações, é possível que a transmissão de doenças possa causar até mesmo a extinção da tribo. Os habitantes das grandes cidades com vacinas em dia, apresentam resistência a vírus e bacterias que podem ser letais a essas pessoas biologicamente vulneráveis.
*Com supervisão de Jorge de Sousa
Quer receber notícias no seu celular? Entre no canal do Whats do RIC.COM.BR. Clique aqui.
