Proposta da mesa diretora também traz restrições ao público masculino

Servidoras da Câmara de Deputados, em Brasília, fizeram um protesto na manhã desta quarta-feira (09) cobrindo a cabeça e o rosto com lenços para simbolizar burcas. A manifestação é contra uma medida em discussão na Casa que proíbe que mulheres transitem pelo local vestindo minissaias, blusas decotadas, transparências e até sandálias.

O ato foi organizado por movimentos sociais e reuniu dezenas de servidoras da Câmara. As manifestantes levantaram cartazes em que se lia “#MaisÉtica #MenosEstética” e gritavam “Cuide do seu decoro, eu cuido do meu decote”.

Vanda Trigueiro, assessora da liderança do PT e servidora da Casa há 20 anos considera a restrição absurda. “É inconstitucional e conservadora. É um atraso social e cultural”, disse ela. Para a assistente social Yvone Duarte, do Movimento pelo Estado Laico e uma das organizadoras da manifestação, as restrições ferem a autonomia das mulheres. “Tem coisas muito mais importantes para andar no Congresso Nacional. Este é um assunto é secundário”, disse.

Quem propôs à Mesa Diretora a exigência de roupas sociais e a proibição do uso de decotes ou saias mais “ousadas” na Câmara foi a deputada Cristiane Brasil (PTB-RJ). O primeiro-secretário da Mesa Diretora, Beto Mansur (PRB-SP), vai apresentar uma proposta para restringir o vestuário feminino, inspirada no “dress code” exigido em repartições do Judiciário e da iniciativa privada. Ele defende a criação de uma regra mínima e afirma que o objetivo é combater os “excessos”.

As manifestantes disseram que irão encaminhar uma carta aos líderes partidários se posicionando contra a restrição. “Repudiamos qualquer tentativa de uniformizar a diversidade estética e identitária da população”, diz um trecho do documento. “Atores importantes para os debates que ocorrem nesta Casa usam vestimentas não contempladas na imposição institucional que ora se repudia”, afirma o texto, referindo-se a quilombolas, índios, seringueiros e ribeirinhos, entre outros.

Como a medida discutida pela Mesa Diretora também traz restrições ao público masculino, servidores homens engrossaram a manifestação vestindo calças jeans e chapéus, que são proibidos pelas novas regras que ainda não entraram em vigor.