Brasil - O mundo está mudando rápido. E, desta vez, no setor de aviação, o Brasil não está apenas reagindo ao futuro: estamos nos antecipando a ele. É como se tivéssemos uma bússola verde da aviação. E o país está redefinindo o futuro com o SAF.
Para quem acompanha inovação, energia e aviação – como nós aqui no H44 Horizonte – esse é um daqueles momentos importantes que podem passar despercebidos, mas que, na prática, definem novas rotas.
A notícia é um marco: a Refinaria Duque de Caxias (Reduc), no Rio de Janeiro, conquistou a primeira certificação internacional ISCC CORSIA do país para produzir o SAF (Sustainable Aviation Fuel). Isso é muito mais do que um avanço técnico; é um posicionamento estratégico na geopolítica da economia verde e um alinhamento direto com as mais rígidas exigências climáticas globais.
O SAF e a revolução silenciosa do “Plug and Fly”
O SAF, ou Combustível Sustentável de Aviação, é hoje uma das soluções mais rápidas e eficazes para reduzir emissões no setor aéreo. Ele é produzido a partir de matérias-primas renováveis – como óleos vegetais, gorduras e resíduos orgânicos – e processado de forma que o avião sequer sente a diferença.
Essa característica é o que torna o SAF verdadeiramente revolucionário, pois ele resolve o desafio da descarbonização sem a necessidade de reinventar a infraestrutura:
- É compatível com a frota atual e com os motores que já estão no céu.
- A lógica de abastecimento não exige adaptações nos aeroportos.
- O passageiro, o detalhe mais curioso, não percebe absolutamente nada.
A mudança mais impactante, portanto, está justamente no que NÃO MUDA. É o conceito de “Plug and Fly”. O SAF entrega a mesma performance do querosene tradicional, mas com uma redução drástica nas emissões ao longo de todo o seu ciclo de vida. A diferença, de verdade, está no céu e no clima.
A chave tecnológica: entendendo a rota HEFA
A certificação internacional da Reduc foi conquistada para a produção pela Rota HEFA. Mas vamos entender o que isso significa em poucas palavras.
A Rota HEFA (do inglês Hydroprocessed Esters and Fat Acids) é a Rota Mestra e Globalmente Reconhecida para a Produção de SAF. Nela, as matérias-primas de biomassa (óleos e gorduras) passam por um processo de hidroprocessamento que as transforma em um combustível quimicamente idêntico ao querosene de aviação.
Essa tecnologia é testada e garante a máxima qualidade e compatibilidade com a frota existente, reforçando o status de solução imediata e de baixo risco para a descarbonização do setor.
O mandato global e o mapa nacional
O Brasil se antecipa a um cenário que já está escrito em legislações e acordos internacionais. O domínio do mercado SAF está ligado a dois pilares regulatórios essenciais:
1. CORSIA: O Acordo Global
A certificação conquistada pela Reduc é a ISCC CORSIA. O CORSIA (Carbon Offsetting and Reduction Scheme for International Aviation) é um programa da Organização da Aviação Civil Internacional (OACI) que visa estabilizar as emissões da aviação internacional em níveis de 2020. Em outras palavras, ele cria a regra para que companhias aéreas compensem ou reduzam suas emissões em rotas internacionais. O SAF certificado, como o produzido pela Reduc, é a principal ferramenta para cumprir essa meta global.
2. Lei do Combustível do Futuro: nosso mapa de voo doméstico
A Lei do Combustível do Futuro (Lei Federal n.º 14.993/2024), por sua vez, estabelece o mercado nacional. Ela cria o Programa Nacional de Combustível Sustentável de Aviação (ProBioQAV) e, o mais importante, estabelece o mandato obrigatório para o uso de SAF em voos domésticos:
- A partir de 1º de janeiro de 2027: as companhias aéreas devem atingir uma meta mínima de 1% de redução nas emissões, a ser cumprida via uso de SAF.
- Escalada até 2037: O mandato prevê um crescimento gradual e contínuo, chegando a 10% de redução nas emissões em 2037.
Essa previsibilidade legal é a garantia de que o mercado vai absorver a produção. Com isso, estima-se que a lei irá impulsionar a produção de cerca de 1,6 bilhão de litros de SAF a partir de 2027 e destravar investimentos que podem somar R$ 17,5 bilhões até 2027.
Por que o Brasil lidera essa fronteira
Dominar o mercado SAF vai muito além de um avanço tecnológico; é posicionamento estratégico e competitividade.
O Brasil parte de uma posição privilegiada. Poucos países reúnem, ao mesmo tempo, abundância de biomassa, uma indústria de refino madura, décadas de experiência em biocombustíveis, e, agora, certificações internacionais chegando antes mesmo das exigências globais.
Com a Reduc oficialmente apta e a Lei do Combustível do Futuro em vigor, o país envia uma mensagem clara ao mercado internacional: estamos preparados, alinhados às metas mundiais e prontos para ser um player central nesse mercado bilionário. É a abertura da nova fronteira para a economia verde.
O mundo está mudando rápido. E, desta vez, estamos mudando junto. E no tempo certo.
Foto Mario Nascimento/Divulgação REDUC