Área é habitada por centenas de espécies de aves e animais (Foto: Rubens Vandressen)

Centro de Referência em Estudos de Florestas Costeiras está sendo construído na Reserva Particular de Patrimônio Natural Fazenda Palmital, dentro do complexo da Reserva Volta Velha

O lugar é especial. Quase mil hectares de mata atlântica, a maior parte cuidadosamente preservada, habitada por centenas de espécies de aves e animais, a apenas quatro quilômetros do centro de Itapoá, no litoral norte de Santa Catarina, a 130 quilômetros de Curitiba. Até o final do ano, estudantes, professores, pesquisadores e observadores de aves do mundo inteiro poderão visitar, fazer suas pesquisas e atividades nesse paraíso, usufruindo de um apoio extraordinário. É que vai entrar em funcionamento o Centro de Referência em Estudos de Florestas Costeiras, dotado de laboratórios, auditório, alojamentos e refeitórios para hospedar visitantes e apoiar todas as atividades de pesquisa e ensino.

O Centro está sendo construído na Reserva Particular de Patrimônio Natural – RPPN – Fazenda Palmital, dentro do complexo da Reserva Volta Velha, pela ADEA – Associação de Defesa e Educação Ambiental, uma das mais antigas e respeitadas organizações ambientais do Brasil, fundada em 1974 pelo geólogo paranaense João José Bigarella.

A reserva

A Fazenda Palmital, com 590 hectares, é uma das últimas reservas de Floresta Ombrófila Densa de Planície Quaternária do Litoral norte de Santa Catarina e reconhecida, em 1992, pelo IBAMA, como RPPN – Reserva Particular de Patrimônio Natural. Embora, há mais de 60 anos, tenha sofrido uma exploração seletiva de madeiras de interesse comercial, hoje a mata apresenta um excelente estágio de recuperação e recomposição da sua forma natural. Junto com a Fazenda Santa Clara, com outros 586 hectares, ela forma a Reserva Volta Velha, pertencente ao empresário Natanael Machado, que protege e preserva mais de mil hectares de mata Atlântica, uma importante base para observação, pesquisas científicas, projetos de conservação e educação ambiental.

Como toda Floresta Atlântica, a mata da área tem uma rica variedade de espécies, com destaque para uma grande quantidade de bromélias e outras plantas epífitas que colonizam os troncos e galhos das árvores. É habitada por inúmeras espécies de animais, desde pequenos roedores a mamíferos de médio e grande porte. Já foram registradas presenças de jaguatiricas, pumas, capivaras, veados, pacas, tatus e várias espécies de macacos. Só de aves, num primeiro inventário realizado em 1992 pelo biólogo Celso Seger, com apoio da Fundação Boticário, foram catalogadas cerca de 250 diferentes espécies, sete delas ameaçadas de extinção, como o pica-pau cara de canela, o gavião pombo pequeno, o bicudinho do brejo, jaó do litoral, papagaio da cara roxa, a maria da restinga e a maria catarinense.

A reserva também tem sítios históricos, como um sambaqui de idade estimada em 3.500 anos que, por ser conservado intocável, guarda resquícios de povos indígenas que habitaram, ou passaram pela região milênios atrás. Essa grande diversidade de flora e fauna, aliada aos aspectos históricos, faz da área uma ampla base de estudos, que tem atraído a atenção de pesquisadores, estudiosos, observadores de aves e estudantes do mundo inteiro.

O centro de estudos

Para consolidar essa condição, em 2006, o proprietário, Natanael Machado, firmou um termo de parceria com a ADEA que, numa primeira etapa, elaborou e está implantando o Plano de Manejo da RPPN Fazenda Palmital e passou a gerir os programas e projetos ambientais de toda a área. Mas era preciso um espaço físico adequado, integrado à reserva, para alojar e dar suporte aos pesquisadores, estudiosos e demais visitantes, de forma ordenada e supervisionada, garantindo a preservação desse patrimônio natural.

E a solução veio de uma tragédia. Em 2008, um navio cargueiro naufragou na saída da Baía Babitonga, logo depois de deixar o porto de São Francisco do Sul, com 9 mil toneladas de bobinas de aço. Num acordo com o Ministério Público Federal, a empresa dona do navio indenizou pescadores prejudicados, assumiu toda a recuperação da área e se comprometeu a financiar projetos ambientais no entorno da baia, eleitos pelo Ibama e pelo MPF. E um dos nove projetos aprovados foi o apresentado pela ADEA, para a construção do Centro de Referência em Estudos de Florestas Costeiras na RPPN Fazenda Palmital.

Assim, com parte da indenização paga pela empresa Norsul, proprietária do navio naufragado, numa área previamente selecionada e respeitando o plano de manejo da reserva, o Centro está sendo construído. São 450 metros quadrados de construção, basicamente em pinus tratado, em harmonia com o ambiente, onde vão funcionar auditório, secretaria, laboratório, cozinha, refeitório, banheiros e dormitórios, com capacidade para receber até 50 pessoas.

Anexo ao Centro, também está sendo construído o Viveiro Florestal Educador, financiado por uma ação compensatória do Porto de Itapoá, que está ampliando as suas instalações na cidade. Este viveiro vai produzir mudas florestais nativas, inicialmente para a total recomposição da Reserva e, posteriormente, para doação à comunidade local.

O Centro estará pronto até o final deste ano, à disposição de escolas e universidades para aulas de campo, observadores de aves, pesquisadores da fauna e da flora da Floresta Atlântica brasileira e até mesmo dos amantes do turismo de aventura. Uma das prioridades será a reativação do Centro de Educação ao Ar Livre, executado pela ADEA, entre 2006 e 2009, proporcionando uma experiência única a mais de mil estudantes de escolas pública de Itapoá, com uma vivência de três dias e duas noites, aprendendo sobre a mata e os animais que nela habitam.

E tudo será feito com o máximo cuidado para preservar esse grande patrimônio natural. As áreas de visitação já foram definidas pelo Plano de Manejo e todas as visitas serão supervisionadas por monitores, biólogos e ambientalistas.

A Adea

Fundada em dezembro de 1974, em Curitiba, por ambientalistas e professores, liderados pelo geólogo João José Bigarella, a ADEA – Associação de Defesa e Educação Ambiental, é uma das mais antigas e respeitadas organizações ambientais do Brasil. Em sua história, teve papel preponderante em inúmeros projetos ambientais do Paraná, como a criação dos parques estaduais de Vila Velha, do Pico Marumbi e o tombamento da Estação Ecológica da Ilha do Mel.

Em 2005, definiu o bioma da Mata Atlântica, entre as baías de Guaratuba, no Paraná, e Babitonga, em Santa Catarina, como base territorial prioritária para as suas ações. Hoje, é presidida pelo biólogo Celso Seger e tem sua sede instalada em Itapoá.