Os cobradores do transporte coletivo de Curitiba entraram em greve na madrugada desta quinta-feira (26), e os ônibus na capital estão circulando sem cobrança de tarifas. O dia de catraca livre atinge a frota curitibana e também a das cidades da Região Metropolitana da capital. Segundo o Sindicato dos Motoristas e Cobradores de Curitiba (Sindmoc), 90% dos trabalhadores da categoria estão em greve. Por conta disso, o Sindimoc está ameaçado de arcar com os prejuízos provocados pela ação grevista.
A Urbs, responsável pelo trânsito na capital, deve entrar com um recurso junto à Justiça para pedir ressarcimento dos prejuízos provocados pela greve. Os valores, porém, serão divulgados somente após o final do movimento, pois segundo a autarquia não é possível ainda calcular o valor não arrecadado em um dia de movimento. Segundo o presidente da Urbs, Roberto Gregório, a greve é ilegal e isso é um motivo a mais para a cobrança dos prejuízos. “Além disso, envolve perda de receita pública”, disse. “Houve também casos de trabalhadores que foram até seus locais de trabalho e foram retirados”, comentou.
Para a balconista Vera Silveira, 31, foi uma mobilização diferente. “Foi bom para nós que pudemos ir ao trabalho economizando o dinheiro da passagem”, disse. O vice-presidente do Sindimoc, Dino César, afirmou que a greve deve continuar, caso não ocorra algum avanço nas negociações. “Enquanto não chegar uma proposta decente os ônibus vão sair sem cobrador hoje, amanhã e até quando for necessário”, afirmou.
Ele também considerou a possibilidade do movimento encerrar caso os empresários façam algum acordo no TRT. “Só se os patrões oferecem algo. Se não, vamos esperar a reunião no Tribunal Regional do Trabalho marcada para as 13h30 de sexta-feira”, informou.
A audiência realizada na quarta-feira (25), mostrou que empresários e trabalhadores estão distante de um acordo. O sindicato pede a devolução dos valores descontados pelos dias de paralisação na última greve, o fim do assédio moral caracterizado pelas ameaças de punições, o uso de bermudas em dias quentes, o fim do desconto dos salários em razão da raspagem de pneus em calçadas, a concessão de vale-cultura e passes livres, consultas aos motoristas e cobradores das alterações das escalas de trabalho, a concessão de um kit inverno para ser usados nos dias de frio e a adoção de medidas que reduzam as más condições de trabalho nas estações-tubo.
Frota mínima
A Prefeitura de Curitiba aguarda a decisão da Justiça do Trabalho sobre a frota mínima durante a greve do transporte coletivo, com motoristas e cobradores.
Preventivamente, a Urbs cadastrará veículos particulares para dar continuidade ao transporte, que nesta quinta-feira (26) foi bancado pela Prefeitura, apesar da ausência dos cobradores. Segundo a prefeitura, essa operação, no dia de hoje, custou o equivalente à construção de uma creche: R$ 2,484 milhões.
A decisão de autorizar a circulação sem cobradores foi tomada em caráter emergencial, para garantir a continuidade de um serviço essencial e na expectativa de uma decisão da Justiça fixando uma frota mínima operacional. Sem essa decisão, não será possível prosseguir sustentando a circulação dos ônibus sem cobrança.
Acordo
Um acordo trabalhista do setor foi fechado em março e gerou aos trabalhadores, além de outros benefícios, o terceiro ano consecutivo de ganhos reais (10,5% em 2012, mais 10,5% em 2013 e 9,28% em 2014). Sem repasse para a tarifa do usuário, isso levou o transporte coletivo a um déficit mensal de R$ 12 milhões, que vêm sendo bancados pela Prefeitura de Curitiba e subsídio do governo do Estado. Qualquer concessão de benefícios financeiros adicionais terá impacto inevitável na tarifa.
Segundo comunicado, a Urbs deverá ingressar com novos pedidos judiciais, pois considera a greve abusiva, não somente porque trata de pautas já esgotadas na negociação de março, mas também porque na data de hoje foram constatados diversos atos de cerceamento ao trabalho de cobradores.