Na semana em que o Estatuto da Criança e do Adolescente comemora 30 anos, as estatísticas indicam que a violência contra crianças e adolescentes cresce de forma contínua.

O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) emitiu um alerta mundial e dados do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MDH). Mostram que somente em abril as denúncias de violência sexual contra crianças aumentaram em 47%, indicando um agravamento do cenário durante a pandemia de Covid-19

Segundo o médico radiologista Camilo Dallagnol, do Plunes Centro Médico e com atuação na Precisão Diagnóstico por Imagem, de Curitiba.

Uma situação comum, é o atendimento de crianças com lesões típicas de abuso, mas os responsáveis justificam de uma forma que não condiz com o que os exames apontam. 

“Algumas lesões são características de maus tratos, como a Síndrome do Bebê Sacudido, quando um adulto pega a criança pelo tronco e chacoalha causando hemorragias intracranianas ou mesmo de retina”, detalha o médico 

Nestes casos, o médico deve comunicar a situação suspeita às autoridades, como o Conselho Tutelar, a polícia ou Ministério Público.

“Com a pandemia, a atenção de todos está redobrada devido ao aumento da convivência familiar e, portanto, de potencial aumento dos casos”, afirma Dallagnol.

Dessa forma estima-se que mais de 85 milhões de crianças e adolescentes do mundo inteiro passem por alguma situação de abuso durante o isolamento social.

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FOTO: DREAMSTIME

O papel das escolas nesse cenário

As escolas sempre foram grandes aliadas do combate à violência infantil e um dos principais suportes na detecção de casos de abuso. Muitas denúncias acontecem após professores notarem lesões ou mudanças repentinas no comportamento de crianças e adolescentes. Porém, durante a pandemia, o distanciamento social acaba dificultando essa percepção sobre as crianças e adolescentes que passam por situações extremas.  

Preocupada com esse distanciamento, a Interpares Educação Infantil, de Curitiba, promoveu uma campanha online sobre o tema.

“Neste momento de contato restrito com os alunos a orientação é que os professores reforcem a autonomia das crianças para se defenderem de situações difíceis e constrangedoras”, explica a diretora da escola. 

“A soma do estresse que acomete os adultos durante a pandemia e a convivência intensa com as crianças aumenta as chances de episódios de agressão mesmo em famílias onde isso não acontecia antes”, explica ela.

A campanha desenvolvida pela escola trouxe textos voltados aos pais e vídeos lúdicos voltados às crianças.

Entre os temas abordados estão o respeito aos limites abuso sexual, uso de gritos e palavrões e tipos de agressão física e emocional. 

“Além de estarmos alertas, sempre buscamos empoderar as crianças para que elas tenham condições de identificar uma situação e até mesmo pedir ajuda. Já fazíamos isso antes da pandemia, mas o momento atual requer uma intensificação desse debate”, finaliza a diretora.