Todos os anos, nas proximidades da Páscoa ou do Natal, grupos de voluntários de todo o País se reúnem para distribuir presentes e chocolates a crianças carentes. E foi justamente numa ação como essa que a advogada Lorayne Claudino se apaixonou pelas crianças do Parque Nacional do Superagui. “Fui com um grupo levar doces no dia das crianças e adorei o carinho com que as comunidades nos acolheram. Também notei que praticamente todas as crianças tinham algum tipo de problema bucal, sendo as cáries o mais comum. Então convidei amigos e dentistas e fizemos nossa primeira ação em novembro de 2013”, relembra Lorayne.
“A distância é um dos maiores problemas para os moradores dessas ilhas. A maioria das comunidades fica a mais de uma hora de distância (de barco) de Paranaguá, que é a maior cidade da região”, analisa a advogada. Ela ainda alerta para o fato de que essas comunidades não contam com transporte regular até Paranaguá. “O preço de uma viagem de uma hora pode ser muito alto para eles, que podem precisar de hospedagem e alimentação na cidade. Se eles conseguirem carona, não há garantias de que o retorno para suas casas será no mesmo dia”, conta a idealizadora e uma das organizadoras do Barco Sorriso.
Na primeira visita, o empresário Michel Geiter, um dos voluntários do Barco Sorriso, conta que inicialmente foi montado um evento no Facebook que reuniu 20 voluntários, entre os quais quatro dentistas. O grupo embarcou num barco alugado, pago com doações de amigos, e também por eles próprios, que fizeram uma “vaquinha” para saldar a diferença. “Conseguimos atender 60 crianças. O grupo se uniu numa energia muito legal. Depois daquele fim de semana construímos uma relação de amizade muito especial em torno do projeto”, recorda Michael, que entre o grupo já ganhou o apelido de Alemón, por causa da sua nacionalidade.
O objetivo do grupo, segundo Lorayne, é manter uma rotina de visitas a cada dois ou três meses, sempre buscando atender comunidades ainda não visitadas. “Na primeira vez, visitamos três comunidades, que são um pouco mais avançadas, mas não deixam de ser abandonadas e com acesso também difícil. Fizemos um estudo da região e verificamos que há comunidades completamente abandonadas”, diz a organizadora Lorayne.
O dentista Daniel Trevellin participou da primeira ação e logo mergulhou de cabeça no projeto. Para a próxima visita, o jovem mobilizou amigos, arrecadou material odontológico e fez o planejamento dos trabalhos que serão feitos desta vez. “Na primeira ação nas comunidades fomos com muito mais empolgação do que planejamento. Isso é natural, não sabíamos o que iriamos encontrar lá. Desta vez foi possível fazer um planejamento, saber exatamente que tipo de material atende as necessidades daquelas crianças”, analisa o dentista.
Segundo Daniel, em novembro foi possível apenas aplicar o cariostático, um produto que paralisa o desenvolvimento da cárie e ensinar os cuidados na hora de escovar os dentes. “No próximo fim de semana vamos estar preparados para remover as cáries e fazer um trabalho preventivo”, comemora ele.
Questionado sobre as principais necessidades para que o grupo mantenha o Barco Sorriso em alto mar, Daniel é otimista. “O principal nós já temos, que são voluntários apaixonados e comprometidos com a causa. Fora isso, o material odontológico. Temos conseguido alguma coisa com colegas de profissão e fornecedores, mas alguns instrumentos são caros, porém, o aluguel do Barco é nossa necessidade mais urgente”, conta o dentista. Segundo ele, o barco que transporta os voluntários entre as ilhas durante dois dias cobra R$ 1.700 de aluguel. “Estamos arrecadando dinheiro aos pouquinhos, R$ 10 de um parente, R$ 5 de um amigo. O que faltar teremos que dividir entre os voluntários, que já arcam com os custos da viagem de carro até Paranaguá e a alimentação durante os dois dias. Por isso contamos muito com a solidariedade das pessoas”.
Sobre a experiência pessoal vivida nos dois dias no Parque Nacional Superagui, Daniel resume em uma palavra: “Feliz”. A colega de profissão, Karin Melo, voluntária na ação de novembro, agrega ainda mais emoção. “Foi sensacional unir pessoas desconhecidas para facilitar o acesso à saúde, principalmente a saúde odontológica. Como dentista e voluntária posso dizer que me senti realizada”, declara.
Um barco que sonha em ser navio
Segundo Lorayne, a organizadora do projeto, o grupo tem sonhado alto com o Barco Sorriso. O objetivo maior é ampliar as atividades de apoio às comunidades, oferecendo também atendimentos médicos e orientações educacionais, culturais entre outras. Para que tudo isso seja possível, a advogada diz que precisa de doações. “Da primeira visita sobraram ainda muitos kits infantis com escovas e creme dental que a Colgate doou, e contamos ainda com doações de pessoas independentes. Ainda sim, precisamos de dinheiro para pagar o aluguel do barco, combustível, alimentação, isso tudo é difícil de conseguir”, diz Lorayne. Os interessados em ajudar podem entrar em contato pela página do Barco Sorriso no Facebook, que os responsável entrarão em contato.