O presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou nesta quarta-feira (17) que persiste a falta de consenso dentro da União Europeia quanto à ratificação do acordo Mercosul-UE. Havia expectativa de que a UE aprovasse o acordo a tempo da assinatura no próximo sábado (20), em Foz do Iguaçu (PR), mas países como França e Itália mantêm resistência ao avanço das negociações comerciais entre os blocos. Em tom duro, Lula afirmou que se o acordo não for assinado agora, “o Brasil não fará mais acordo” enquanto ele for presidente.

A declaração ocorreu durante reunião ministerial na Granja do Torto, em Brasília. Lula reclamou do fato de a reunião do Mercosul ter sido adiada de 2 para 20 de dezembro a pedido da União Europeia, justamente para que fosse possível a assinatura. O acordo Mercosul-UE vem sendo discutido há mais de duas décadas e segue sem definição sobre sua conclusão.
“É importante lembrar que nessa reunião do Mercosul, que era para ser dia 2 de dezembro, mudei para 20 de dezembro porque a União Europeia pediu, porque só conseguiria aprovar o acordo no dia 19. Agora estou sabendo que eles não vão conseguir aprovar. Está difícil, porque Itália e França não querem fazer por problemas políticos internos”, afirmou o presidente.
“Eu já avisei para eles que se a gente não fizer agora, o Brasil não fará mais acordo enquanto eu for presidente. Faz 26 anos que a gente espera esse acordo. Esse acordo é mais favorável para eles do que para nós. O Macron não quer fazer por causa dos agricultores deles, a Itália não quer fazer não sei porquê”, disse Lula.
O presidente afirmou que o Brasil, representando o Mercosul, já realizou todas as concessões possíveis para viabilizar a assinatura do acordo, destacando o compromisso do bloco sul-americano nas tratativas multilaterais. Disse ainda que o acordo é mais benéfico aos europeus do que aos sul-americanos e que se não houver a assinatura agora, o governo “será duro daqui para frente com eles”.
“Vou para Foz do Iguaçu na expectativa de que eles europeus digam ‘sim’. Mas também, se disserem ‘não’, vamos ser duros daqui para frente com eles. Nós cedemos a tudo o que era possível a diplomacia ceder”, declarou Lula.
O presidente brasileiro enfatizou que o acordo Mercosul-UE tem potencial para intensificar fluxos comerciais, fortalecer relações bilaterais e incentivar investimentos em setores estratégicos como agricultura, indústria e tecnologia. Entretanto, a ausência de unanimidade entre os países da União Europeia mantém o cenário indefinido e adia benefícios econômicos previstos para ambas as partes.
É prematuro assinar acordo Mercosul-UE, diz premiê italiana
A primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, disse nesta quarta que não está pronta para apoiar um acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul, o que abalou as esperanças de finalização do acordo nos próximos dias.
“O governo italiano sempre foi claro ao dizer que o acordo deve ser benéfico para todos os setores e que, portanto, é necessário abordar, em particular, as preocupações de nossos agricultores”, disse Giorgia Meloni, dirigindo-se à câmara baixa do Parlamento italiano.
Ela disse aos parlamentares que seria “prematuro” assinar o acordo antes que um pacote adicional de medidas a serem acordadas com a Comissão Europeia para proteger os agricultores esteja totalmente finalizado, acrescentando que o acordo precisa de garantias adequadas de reciprocidade para o setor agrícola.
“Devemos esperar até que essas medidas sejam finalizadas e, ao mesmo tempo, explicá-las e discuti-las com nossos agricultores”, disse ela.
“Isso não significa que a Itália pretende bloquear ou se opor ao acordo como um todo… Estou muito confiante de que, no início do próximo ano, todas essas condições poderão ser atendidas”, disse Meloni.
Acordo Mercosul-UE enfrenta resistências
O acordo Mercosul-UE busca eliminar tarifas comerciais e criar um dos maiores mercados mundiais, abrangendo aproximadamente 780 milhões de consumidores. Desde a assinatura do texto-base em 2019, diversos governos europeus manifestaram preocupação com padrões ambientais e a competitividade de setores agrícolas, fatores citados por França e Itália para não avançar com a ratificação.
O Ministério das Relações Exteriores do Brasil destacou que as negociações continuam sendo conduzidas em parceria com os demais países do Mercosul, mantendo diálogo aberto com autoridades europeias. De acordo com dados oficiais da Comissão Europeia, o acordo pode gerar uma economia anual de até 4 bilhões de euros em tarifas para exportadores dos dois blocos.
Até o momento, não há previsão oficial para a conclusão do processo de ratificação do acordo Mercosul-UE.
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