Por Hallie Gu e Maximilian Heath e Naveen Thukral
PEQUIM/BUENOS AIRES/CINGAPURA (Reuters) – Produtores de ração animal, criadores de porcos e operadores de mercado chineses estão reconfigurando o comércio de grãos, à medida que vasculham o mundo em busca de suprimento em meio a uma escassez doméstica que levou os preços locais do milho a máximas recordes e deve dar impulso à inflação global dos alimentos em 2021.
As aquisições colocam o país a caminho de se tornar com folga o maior comprador de grãos nesta temporada, quebrando recordes de anos anteriores e rompendo com o histórico da China de ser relativamente autossuficiente nos mercados de grãos.
Essas compras, somadas a problemas vistos em outros importantes países produtores, ajudaram a elevar os preços do milho, trigo e cevada em todo o mundo –possivelmente causando choques nos próximos meses sobre os setores de laticínios e carnes, dependentes dos grãos, segundo analistas e operadores.
“A grande novidade nos mercados de grãos é a China se transformando na maior importadora de milho do mundo; é algo que as pessoas não esperavam que fosse acontecer tão cedo”, disse Philippe Chalmin, economista francês e diretor da Cyclope.
O principal catalisador do movimento chinês tem sido uma redução cada vez maior na produção doméstica de milho, que desencadeou ondas sem precedentes de importações e substituições no maior consumidor global de grãos.
Os preços para exportação do milho dos Estados Unidos, do trigo russo e da cevada francesa dispararam de 25% a 30% desde maio, enquanto o índice de preços de cereais da Organização das Nações Unidas (ONU) registra alta de 17% na comparação anual, para o maior nível em cinco anos.
Nos últimos três meses, os preços dos futuros do milho e do trigo na bolsa de Chicago subiram 25% e 17,5%, respectivamente.
“Na China, tanto os preços do milho quanto a moeda estão em máximas de vários anos, então os compradores estão buscando importações agressivamente”, disse Darin Friedrichs, analista da StoneX.
As importações chinesas de cevada, milho, sorgo e trigo saltaram 83,3% nos nove primeiros meses de 2020 em comparação anual, para 20,86 milhões de toneladas, de acordo com dados alfandegários locais –e mais compras são esperadas, estabelecendo um recorde.
“Como os preços do milho estão subindo constantemente e devem seguir em alta, quando se trata de grãos substitutos, incluindo cevada, sorgo e trigo importados, já estou fazendo compras para o período de janeiro a junho do ano que vem”, disse o gerente de compras de uma produtora de ração chinesa.
As compras de grãos aceleraram a partir de maio, com Pequim queimando os antes gigantescos estoques e com o clima danificando a safra de milho deste ano.
“Nós não temos oferta doméstica suficiente de milho, enquanto a demanda do setor de suínos deve crescer ainda mais”, afirmou o gerente de uma grande empresa de suínos do norte do país, que pediu para não ser identificado por não possuir autorização para falar com a imprensa.
(Reportagem de Hallie Gu em Pequim, Maximilian Heath em Buenos Aires, Gus Trompiz em Paris, Karl Plume em Chicago, Pavel Polityuk em Kiev, Yuka Obayashi em Tóquio e Naveen Thukral em Cingapura)