Pedras de fel do boi: para que servem e por que valem tanto

Apesar de ainda serem relativamente pouco conhecidas, as chamadas “pedras de fel” — ou pedras biliares — de bois e outros bovinos vêm despertando curiosidade e, em certos mercados, alcançando valores surpreendentes. Se aparentam ser, a princípio, apenas um subproduto do abate de animais, essas estruturas são altamente valorizadas, sobretudo em mercados asiáticos, onde são utilizadas para tratamentos de saúde pela medicina tradicional. Mas, afinal, o que são essas pedras? Para que servem? E por que elas podem valer tanto dinheiro?

O que são pedras de fel?

As pedras de fel do boi são formações sólidas encontradas na vesícula biliar do animal, resultantes do acúmulo de bile, colesterol, bilirrubina e sais biliares. Em termos simples, são cálculos biliares semelhantes aos que também podem se formar em seres humanos. Elas surgem quando há uma concentração e cristalização de substâncias presentes na bile, formando pequenas massas endurecidas, de cor amarelada a marrom escuro, com tamanhos que variam de milímetros a alguns centímetros.

Essas pedras não são comuns em todos os bovinos. Estima-se que apenas uma pequena porcentagem dos bois abatidos possua essas formações, o que contribui para sua raridade e, consequentemente, para seu valor de mercado.

Para que servem as pedras de fel

O principal uso das pedras de fel do boi está na medicina tradicional asiática, especialmente na chinesa. Nessas práticas milenares, elas são conhecidas como “niu-huang”, termo que pode ser traduzido como “âmbar de boi” ou “fel de boi amarelo”. Acredita-se que essas pedras possuam propriedades terapêuticas poderosas, sendo utilizadas como ingrediente em diversos remédios fitoterápicos e fórmulas antigas.

Segundo a medicina tradicional chinesa, o niu-huang pode:

• Reduzir inflamações e febres
• Aliviar convulsões
• Combater infecções
• Proteger o fígado
• Estimular a desintoxicação do organismo
• Atuar como calmante e relaxante
  

Como usar as pedras de fel

As pedras, em geral, são secas e moídas até virarem pó. Em seguida, são utilizadas puras ou em combinação com ervas e outros compostos. Também há o uso em forma de cápsulas e pomadas, dependendo da finalidade terapêutica.

Apesar da popularidade nesses sistemas de saúde alternativa, é importante destacar que a eficácia das pedras de fel do boi ainda não foi comprovada por estudos científicos robustos dentro da medicina ocidental. Ainda assim, sua valorização persiste, movida principalmente pela tradição, crença popular e demanda do mercado.

Por que as pedras de fel valem tanto

Devido à sua relativa raridade, o valor das pedras de fel do boi pode surpreender. Em países como China, Coreia do Sul, Vietnã e Japão, o preço pode ultrapassar os 20 mil dólares por quilo, valor superior ao do ouro. Dessa forma, no mercado internacional, intermediários pagam altos valores por pequenas quantidades, especialmente quando as pedras têm boa coloração, formato regular e baixa umidade.

O alto preço se deve a uma combinação de fatores:

1. Raridade: Apenas cerca de 1 a 3% dos bovinos desenvolvem pedras de fel com valor comercial significativo.
2. Procura constante: A medicina tradicional chinesa e outras vertentes orientais continuam demandando o produto, que é escasso fora da Ásia.
3. Produção limitada: A extração depende do abate e inspeção criteriosa, geralmente feita em frigoríficos ou abatedouros.
4. Mercado negro: Em muitos países, a comercialização não é regulamentada, o que gera especulação de preços e comércio clandestino.

Pedras de fel no Brasil

No Brasil, há registros de compra por parte de atravessadores que atuam como intermediários entre abatedouros e importadores estrangeiros. Entretanto, como não há regulamentação específica sobre o comércio dessas pedras, muitos negócios ocorrem informalmente, o que dificulta o controle sanitário e fiscal da atividade.

Riscos e polêmicas

Embora o comércio das pedras de fel possa parecer inofensivo, ele levanta diversas questões éticas e sanitárias. Assim, uma das principais críticas é que o valor elevado do produto pode incentivar o abate de animais unicamente com esse objetivo, o que vai contra princípios de bem-estar animal.

Além disso, especialistas alertam para os riscos do uso de remédios não testados cientificamente. O consumo de produtos derivados de fel de boi sem controle pode levar a reações adversas e intoxicações, principalmente quando associado a medicamentos convencionais ou consumido em excesso.

Por conta disso, alguns países já proibiram ou restringiram a importação e comercialização de produtos que utilizam essas pedras como base. Alternativas sintéticas vêm sendo desenvolvidas com o objetivo de substituir o uso das pedras naturais, mas a tradição ainda pesa no comportamento do consumidor asiático, mantendo o mercado ativo.

Quer receber notícias no seu celular? Então entre no canal do Whats do RIC.COM.BR. Clique aqui