A Black Friday representa um dos períodos mais importantes do ano para vendas no varejo e no comércio eletrônico. No entanto, para além das expectativas de faturamento elevado, esse evento também corresponde a uma janela de oportunidades para fraudadores. Lojistas precisam estar preparados para lidar com golpes que atingem não apenas o consumidor, mas também o estabelecimento, com impacto direto no caixa, na reputação e nas operações.

Mulher em dúvida com pagamento de compra na internet
Lojistas precisam redobrar a atenção durante a Black Friday para evitar golpes que envolvem pagamentos falsos, clonagem de sites e fraudes em entregas (Foto: imagem ilustrativa/Freepik)

Por que a Black Friday aumenta o risco de golpe para lojistas

A maior movimentação financeira, o volume ampliado de transações e a premência associada às promoções geram um ambiente propício para fraudes. Dados recentes da ClearSale apontam que as tentativas de fraude no e-commerce brasileiro, em eventos como a Black Friday, podem superar em mais de 80% a média do restante do ano. Além disso, vendedores enfrentam desafios específicos:

  • Volume de pedidos maior, o que exige escalabilidade nos sistemas e operações.
  • Pressão por entrega rápida, o que pode levar a falhas de controle.
  • Novas modalidades de pagamento e retirada (como retirada em loja, marketplace, etc.), que apresentam mais brechas.

Principais golpes focados nos lojistas

Confira os golpes mais recorrentes direcionados a estabelecimentos comerciais no período da Black Friday.

Roubo de identidade / cartão clonado

Nessa modalidade, um fraudador utiliza dados pessoais ou de cartão de crédito de terceiros para efetuar compras em nome da vítima. Como resultado, o lojista recebe o pedido, envia a mercadoria, e mais tarde sofre o estorno quando o legítimo titular do cartão contesta a transação. Isso implica perda da mercadoria, do valor pago e dos custos de envio.

A gravidade desse golpe se intensifica porque o lojista muitas vezes tem pouco controle visível sobre a identidade do comprador — as compras parecem legítimas, especialmente quando realizadas por meio de contas com histórico ou via plataformas consolidadas.

Autofraude (chargeback da devolução fraudulenta)

Também chamada de “friendly fraud” ou fraude interna, esse golpe se dá quando o comprador alega não ter recebido o produto ou devolve outro item ou vazio, após o lojista ter assumido o estorno. O lojista acaba sem o produto, com o valor devolvido ao cliente e com prejuízo de logística reversa e restituição.

Em datas de volume intenso como a Black Friday, esse tipo de fraude se torna mais provável em razão da rapidez nas operações e da pressão para atender número elevado de pedidos.

Interceptação ou agendamento de Pix / pagamentos antes do processamento

A adoção de PIX como forma de pagamento acelerada também trouxe riscos para os lojistas. Algumas fraudes envolvem o agendamento de um PIX que é cancelado após a liberação da mercadoria ou a interceptação de pagamento que, aparentemente, foi efetuado, mas não se concretiza. O lojista expede o produto acreditando ter recebido o pagamento.

Outro cenário é o uso do nome da loja para envio de links falsos de pagamento ou QR Code alternativo, prejudicando a reputação do lojista caso o cliente seja lesado.

Fraude omnichannel / retirada em loja com uso de identidade alheia

Com o aumento de modelos de compra online e retirada em loja física (click-and-collect), uma fraude emergente envolve a compra online com identidade roubada ou cartões clonados, seguida da retirada presencial do produto com documento falso ou sob pretexto de representatividade. Esse método reduz a chance de rastreamento do endereço de entrega, tornando a detecção mais difícil.

Para o lojista, o risco é maior quando os controles de retirada são mais brandos ou quando há volume elevado de pedidos.

Clonagem ou falsificação de e-commerce / uso da marca para golpes

Lojistas que investem em marca consolidada podem enfrentar o uso indevido dessa marca por fraudadores, que criam websites ou perfis falsos imitando a loja para captar dados de clientes ou direcionar pagamentos a contas de fraudadores. A própria reputação da marca fica em risco.

Homem assustado com pagamento em compra online e com a boca aberta
A verificação de identidade de clientes e o uso de sistemas antifraude ajudam lojistas a evitar prejuízos durante a Black Friday (Foto: imagem ilustrativa/Freepik)

Embora esse golpe tenha impacto direto no consumidor (como compra em site falso), o lojista sofre em termos de reputação, confiança e eventual responsabilidade de esclarecer para clientes que foram enganados em nome da sua marca.

Impactos para o lojista

Os golpes durante a Black Friday não afetam apenas o cliente final. A loja assume diversos prejuízos, tais como:

  • Perda de mercadoria: quando o produto é enviado e não há pagamento válido ou há estorno.
  • Taxas e custos operacionais: estornos, logística de devolução ou custo de não devolução, frete, taxas de pagamento e penalidades por alta taxa de chargeback.
  • Suspensão ou restrição de conta: em marketplaces ou com processadores de pagamento, se os índices de fraude ou chargeback se elevarem.
  • Prejuízo reputacional: clientes que têm experiência negativa ou sentem-se enganados em nome da loja.
  • Desvio de foco: tempo e recursos que poderiam ser investidos em vendas acabam na mitigação de fraudes, auditorias e atendimento de crises.
  • Custos indiretos: como necessidade de incrementar infraestrutura de segurança, seguros, softwares antifraude, etc.

Estratégias de prevenção para lojistas

Dadas as ameaças sistemáticas, é fundamental que lojistas preparem o ambiente de vendas para a Black Friday com práticas de segurança e controles que minimizem riscos.

Fortalecer infraestrutura e gestão de acesso

  • Adote autenticação em duas etapas para administradores, colaboradores e sistemas de pagamento.
  • Verifique atualização de plataformas, plugins e sistemas de pagamento. Contrate hospedagem segura, tenha certificações SSL e, se aplicável, padrão PCI-DSS para tratativas de cartão.
  • Monitore acessos no sistema (IPs, comportamento anômalo, múltiplas contas, endereço de entrega divergente) e atue rapidamente em caso de suspeita.

Implementar controles de transações e cadastros

  • Adote sistemas antifraude que avaliem em tempo real as transações — valores, perfil de cliente, histórico, geolocalização, divergências.
  • Valide novas contas de cliente antes de autorizar envio rápido: conferir CPF/CNPJ, endereço, telefone.
  • Defina limites automáticos ou manuais para pedidos de alto valor ou novos clientes.
  • No caso de retirada presencial (omnichannel), exija documento de identidade, cartão usado na compra ou titular da conta da compra.

Gerenciar métodos de pagamento com atenção

  • Em pagamentos via PIX, evite expor QR Code direto ou permitir que o cliente escaneie código livre sem validação da chave associada à conta da loja.
  • Use intermediadores de pagamento que ofereçam proteção contra fraude, chargeback e suporte em disputas.
  • Evite expor somente pagamento por boleto ou transferência direta em casos de clientes com histórico vulnerável.
  • Monitore estornos, bloqueios ou pagamentos cancelados após liberação da mercadoria.

Proteger a marca e canais de venda

  • Varra a internet para domínios similares, perfis falsos, páginas que se passam por sua marca prometendo “desconto Black Friday”, e denuncie ou tome providências.
  • Em redes sociais e plataformas, habilite verificação em duas etapas das contas e monitore atividade suspeita de administração de página.
  • Comunique aos clientes canais oficiais, alertando sobre links não oficiais, dobras promocionais “miraculosas” e formas de pagamento fora dos procedimentos normais da loja.

Planejar logística e política de devolução

  • Ajuste sua política de devolução e estorno antes da Black Friday, com processos claros de rastreamento e verificação de devoluções.
  • No caso de devolução presencial, exija confirmação da mercadoria original ou código de rastreio antes de estornar o valor.
  • Revise procedimentos de logística reversa para evitar produtos substituídos por itens de menor valor ou vazios.

Preparar equipe e comunicação

  • Treine equipe de atendimento, vendas e logística para identificar sinais de fraude: pedidos de retirada urgente, divergência de dados, comportamento atípico.
  • Crie plano de resposta rápida a incidentes: quem aciona, como bloqueia pedido, como se comunica ao cliente, como reporta ao meio de pagamento.
  • Ofereça transparência aos clientes: campanhas que informem que a loja está atenta à segurança, reforçando a confiança.

A Black Friday oferece oportunidade de aumento expressivo nas vendas, mas também exige que os lojistas assumam um papel proativo na gestão de riscos. Os golpes estão mais sofisticados a cada ano, e contam com automação, bots, engenharia social e risco elevado de chargeback e fraude. Como indicado em relatórios recentes, a fraude digital tornou-se uma das maiores ameaças ao caixa e à reputação do e-commerce.

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Jonathas Bertaze

Repórter

Jonathas Bertaze é formado em Jornalismo desde 2023, pós-graduado em Assessoria, Gestão de Comunicação e Marketing e especializado na cobertura de pautas de Segurança, como crimes e acidentes, além de Cotidiano e Loterias, com resultados da Caixa Econômica.

Jonathas Bertaze é formado em Jornalismo desde 2023, pós-graduado em Assessoria, Gestão de Comunicação e Marketing e especializado na cobertura de pautas de Segurança, como crimes e acidentes, além de Cotidiano e Loterias, com resultados da Caixa Econômica.