Pesquisa aponta que brasileiros não guardam dinheiro para despesas de início de ano (Foto: Pixabay)

De acordo com pesquisa, 56% da população se encontram nessa situação. Homens organizam melhor as finanças pessoais que as mulheres

O projeto da analista de importação Priscilla Silveira é fazer um intercâmbio para o Canadá, mas o sonho teve de ser adiado. Ela até começou a guardar dinheiro para a viagem, mas não conseguiu porque “gastou dinheiro com bobagem”, diz. “Sei que parte do dinheiro foi usado para comprar coisas que realmente eu precisava, mas poderia ter me esforçado mais”, diz ela.

Priscilla faz parte dos 56% dos brasileiros que reconhecem que não conseguem aproveitar a vida da maneira ideal por causa da maneira como administra seu dinheiro. O dado foi divulgado pelo Indicador de Bem-Estar Financeiro, da CNDL (Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas) e do SPC Brasil (Serviço de Proteção ao Crédito). 

Priscilla diz que a maior parte dos gastos com “bobagem” são com roupas e alimentação fora de casa.

Para realizar a pesquisa, foram feitas 10 perguntas para calcular o indicador de bem-estar financeiro. “Percebemos que os homens são mais estratégicos, que conseguem guardar dinheiro com mais frequência e por isso o índice é maior, 49,3%, enquanto as mulheres, vão bem nas compras do dia a dia, mas não conseguem guardar dinheiro para o lazer ou projetos futuros e o indicador é de 47,5%”, diz Marcela Kawauti é economista-chefe do SPC Brasil.

Essa dificuldade Priscilla conhece bem. Atualmente a analista de importação não fica com as contas no vermelho, o que já aconteceu outras vezes. Ela também conta que já gastou muito no cartão de crédito.

“As pessoas não têm uma noção real do orçamento e gastam tudo, sempre digo que se a gente não controlar o dinheiro, ele nos controla”, avalia Kelly Possebon financista da Nova Futura investimentos. “O primeiro passo é para de repetir a frase: ‘eu não consigo guardar dinheiro’ e assumir o controle financeiro, colocar no papel todo o dinheiro que entra e sai no mês para depois fazer um planejamento”.

A analista contábil Lucila Cristina Alves dos Santos passa pela mesma situação que Priscilla. Lucila diz que gostaria de viajar mais, mas gasta muito com roupas, refeições fora de casa e transporte por aplicativo.

Quando a analista contábil precisa gastar mais do que o esperado por causa de imprevistos, opta pelo limite da conta corrente. “Mas acabo pagando um valor de juros depois”, comenta.

A pesquisa mostra que os mais velhos administram melhor sua renda. A abertura dos dados por faixa etária mostra os consumidores mais velhos (51,2 pontos) à frente dos mais jovens (46,9 pontos). Já nas classes A e B, o indicador alcançou 52,5 pontos, enquanto nas classes C, D e atingiu 47,2 pontos.

“Os mais novos são mais inseguros e usam o consumo como autoafirmação, não há problema, só é ruim quando ultrapassa o orçamento”, diz Marcela. 

Dados da pesquisa

De acordo com a pesquisa, apenas 12% dos brasileiros têm condições de arcar com despesas inesperadas. Além disso, 28% assumem que “apenas sobrevivem” com o salário que recebem e 38% dizem que conseguem aproveitar bem o valor que recebem por mês.

Seis em cada dez entrevistados afirmam que nunca ou raramente veem o dinheiro sobrar no final do mês. Apenas 9% sempre conseguem ter sobras e 28% só conseguem às vezes.

Os entrevistados recebem uma nota de acordo com que pode variar entre zero e 100. Quanto mais próximo de 100, maior será o nível de bem-estar financeiro; quanto mais próximo de zero, menor o nível de bem-estar. A metodologia foi desenvolvida com base no modelo do órgão americano CFPB (Consumer Financial Protection Bureau).