Falta de âncora fiscal é um dos fatores responsáveis pela alta de juros, dizem especialistas
Diante dos constantes aumentos nas projeções de inflação para 2023 e 2024, o Banco Central (BC) tem encontrado dificuldade para reduzir a taxa básica de juros (Selic), que atualmente está em 13,75%. Para especialistas, dentre os fatores mais relevantes para este cenário está o governo Lula, que não tem apresentado âncora fiscal factível ao mercado.
No cenário atual, os economistas já projetam que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deve encerrar 2023 no patamar de 6%, acima do teto da meta definida pelo governo, que é de 4,75%. A nova estimativa de inflação é quase 1 ponto porcentual a mais do que se previa na virada do ano. Para 2024, as projeções já estão em 4%.
O que os economistas têm apontado é que os primeiros movimentos do governo Lula na economia têm provocado uma desancoragem das expectativas inflacionárias. O presidente, por exemplo, criticou publicamente a condução da política monetária pelo BC, e o governo chegou a indicar que poderia rever metas de inflação.
A equipe econômica também tem sido cobrada para apresentar a nova âncora fiscal que vai substituir o teto de gastos. Sem uma sinalização do controle das contas públicas, há uma piora da percepção de risco dos investidores com a economia brasileira.
“Poderíamos ter uma inflação mais baixa desde que houvesse uma sinalização do governo em relação ao novo arcabouço fiscal”, afirma o economista Heron do Carmo, professor sênior da FEA/USP. O economista, que chegou a projetar alta de 5,5% para o IPCA deste ano, agora espera uma taxa mais próxima de 6%. Apesar de ter aumentado a previsão, Heron diz acreditar que, se o governo introduzir uma nova âncora fiscal factível, será possível atenuar as expectativas e a economia como um todo ter uma evolução melhor do que se espera hoje.
“Basicamente, todas as revisões que temos feito este ano têm sido por conta de preços administrados (serviços e produtos com reajustes definidos por contratos ou regulados pelo setor público)”, afirma Júlia Passabom, economista do Itaú Unibanco. O banco aumentou de 5,8% para 6,3% a previsão para a inflação deste ano. Os administrados devem subir entre 10,5% e 11%.
A lista de medidas que vão influenciar os administrados inclui a volta da cobrança de PIS e Cofins sobre gasolina e etanol e a de ICMS (imposto estadual) sobre eletricidade.
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