O governo brasileiro mantém expectativa de que o impasse em torno do tarifaço seja resolvido nas primeiras semanas de novembro, com uma possível reunião em Washington envolvendo os ministros Geraldo Alckmin (Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços), Mauro Vieira (Relações Exteriores) e Fernando Haddad (Fazenda). Fontes oficiais relatam que o diálogo técnico está travado pelo shutdown que paralisa parte da máquina pública norte-americana.

Contêineres em porto
Segundo o chanceler brasileiro, a autorização para o início das negociações foi dada pelo presidente Donald Trump (Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil)

A imposição de tarifas de até 50% sobre produtos brasileiros pelos EUA é vista como uma medida protecionista com consequências diretas para importadores e exportadores no Brasil.

Em meio à expectativa de um desfecho, empresas paranaenses que atuam na área de comércio exterior vivem dias marcados pela expectativa do acordo entre os países.

Desde o início de outubro, o Brasil enfrenta dificuldades para avançar nas negociações com os Estados Unidos por conta do shutdown norte-americano, que resultou na paralisação ou funcionamento limitado de agências governamentais.

O governo acredita que uma reunião de alto nível acontecerá em Washington nos próximos 15 dias, com participação dos ministros citados, e que o desfecho poderá resultar na flexibilização das sobretaxas ou na criação de novas janelas de acesso para produtos nacionais. Parte dos envolvidos considera que a agenda da cúpula do clima em Belém pode inviabilizar um encontro já na próxima semana.

Especialistas apontam que as tarifas para o Brasil variam entre 20% e 50% para diversos produtos desde agosto, afetando principalmente commodities e itens industriais.

Um dos caminhos possíveis encontrados por algumas empresas para driblar os efeitos do tarifaço tem sido a adoção da chamada “triangularização”. Nessa estratégia, empresas brasileiras buscam rotas comerciais alternativas, enviando produtos por países que mantêm acordos mais vantajosos com os Estados Unidos, como México, Argentina, Chile e Uruguai.

A prática permite aproveitar benefícios fiscais e isenções dentro do Mercosul e reduzindo custos das tarifas nas exportações, especialmente em setores fortemente dependentes do mercado norte-americano.

Expectativas e impacto nas operações comerciais da linha de frente

Luanna Souza, presidente CEO do Grupo Pinho, empresa de desembaraço aduaneiro e de importação e exportação, revelou que as movimentações entre os dois países reacendeu a expectativa de que uma solução seja entregue até o fim do ano, mas ressalta que algumas empresas ainda sofrem com o decreto.

“Com essa aproximação do Lula com o Trump e essas novas negociações, a tendência é que algo seja flexibilizado e que melhore o cenário para todos esses exportadores que entraram na lista até o final desse ano. Porém, ainda estamos com essa inflexibilidade e com muitos exportadores bem prejudicados […] o café e o mármore foram os que sofreram maiores danos, então nós temos estados que dependiam muito da exportação para os Estados Unidos”, detalhou Luanna.

No caso de uma resolução do tarifaço, Luanna considera que o cenário poderá mudar não apenas na supressão ou redução das tarifas, mas também na forma de atuação das empresas brasileiras. “Os exportadores já estão visando novos mercados, novas licenças, certificações, para diminuir essa dependência”, complementa.

Com as indefinições, o clima é de apreensão. As companhias mais afetadas, sobretudo as voltadas à exportação de commodities, têm se mobilizado em busca de alternativas e diálogo com o governo. “Existe essa tensão. Os maiores exportadores, principalmente de commodities, eles estão centralizados com representantes muito fortes, tentando negociar essa taxação e essa flexibilidade para continuar a movimentação. É sobre aumentar o produto interno.”

Setores afetados e demissões: a realidade dos impactos do tarifaço no Paraná

No Paraná, os efeitos do tarifaço foram sentidos de forma intensa por setores industriais estratégicos, especialmente os ligados à madeira, aviação e alimentos. A taxação imposta pelos Estados Unidos provocou queda nas vendas, redução de turnos e até fechamento de fábricas.

Segundo Leonardo Souza, diretor de projetos do Grupo Pinho, a indústria madeireira foi uma das mais prejudicadas, principalmente por não possuir uma representação de classe organizada para intermediar negociações. “Tivemos alguns clientes que fecharam as portas, mesmo com milhares de funcionários. No começo eram férias coletivas, e quando viram que não ia ter acordo, realmente fecharam as portas.”

O diretor ressalta que, diante dos prejuízos, o governo brasileiro tentou amenizar os impactos com ações voltadas à abertura de novos mercados e incentivos à exportação. Segundo ele, houve esforços para apoiar empresas em feiras internacionais e negociações comerciais, mas nem todos os setores conseguiram se adaptar. “Governo brasileiro tentou ajudar essas indústrias e produtores do Brasil a buscarem novos mercados, mas vários produtos você não tem para onde realmente mandar”, explicou.

Começo da tarifa e o lado B da taxação

Segundo Leonardo Souza, diretor de Projetos, o objetivo dos Estados Unidos ao impor tarifas sobre produtos brasileiros era, principalmente, levar certas commodities e matérias-primas para serem industrializadas localmente, dificultando que outros países, como o Brasil, exportassem produtos de maior valor agregado. “O Brasil tem essa fama ou esse histórico de exportar muito commodities. A soja, o milho, por exemplo, conseguiram redirecionar para a China. A China também comprava dos Estados Unidos e viu essa tensão, falou: eu não vou mais comprar dos Estados Unidos, vou comprar do Brasil”, explicou.

Ele destacou que, embora alguns setores tenham sido beneficiados pelo redirecionamento de exportações, indústrias menores, sem união da classe, foram as mais impactadas. “As multinacionais conseguem se redirecionar, mas a ideia realmente é ver para que lado, quais são os produtos que podem ser redirecionados. É sempre uma avaliação por produto e pelo nível de industrialização desse produto”, afirmou.

O executivo também comentou sobre o efeito direto nas cadeias produtivas e no preço dos produtos para o consumidor. “Se pensarmos nos produtos que têm mercado interno, realmente deveria ser baixado o preço, principalmente carne, que tinha muita exportação, mas conseguiu se redirecionar a outros países, com novos acordos. Isso cria um volume muito grande de produto nacional e, principalmente os perecíveis, que tende a baixar os preços pela quantidade de oferta”, disse Leonardo Souza.

No entanto, ele alertou que nem todos os produtos se beneficiam desse redirecionamento. “Produtos não perecíveis ou não acabados não têm demanda interna suficiente, então as indústrias precisam buscar outros mercados no exterior. Se não há destino para o produto, quem é afetado é o trabalhador daquela indústria”, concluiu Leonardo.

Tarifaço acabou? O que está em jogo nas próximas semanas

Conforme os últimos encontros entre integrantes da comitiva de Lula e Trump, as expectativas recaem sobre dois pilares principais do acordo:

  1. Redução ou eliminação das sobretaxas impostas pelos EUA ao Brasil.
  2. Ampliação de canais de exportação e negociação. Empresas brasileiras esperam não apenas o fim das tarifas, mas também maior previsibilidade e acesso facilitado ao mercado americano ou a terceiros que se beneficiem do acordo.

As empresas com operações de exportação estão “na espreita”: monitoram comunicados, avaliações oficiais e sinais de Washington e Brasília. O anúncio de que as tarifas estão sendo revistas ou que se negociará largamente com os EUA serviria como gatilho para reavaliação de investimentos, renegociação de contratos e novos planos de exportação.

Novas taxações?

Em entrevista ao portal Ric, os representantes do Grupo Pinho afirmaram que o período das taxações serviu de “lição” para algumas empresas e alertam que o fenômeno é cíclico no mercado financeiro e no mundo político.

“Ele [tarifaço] aconteceu no momento auge, trouxe muitas incertezas, mas diante do cenário que a gente está vivenciando no Brasil, os importadores e exportadores já tinham feito um planejamento de três, quatro anos para conseguir passar por essa crise política, então alguns já estavam preparados […] o bom é que a gente aprende a ter essa resiliência e se preparar o quanto antes, então você sai de uma crise não pensando ‘agora está tudo certo’, mas sai de uma crise geopolítica, política, tributária, financeira, pensando já na próxima, pensando qual que é a lição que você aprendeu para aplicar na próxima”, concluiu Luanna.

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Eduardo Teixeira

Repórter

Eduardo Teixeira é formado em Jornalismo pela Uninter. Possui experiência em pautas de Segurança, como acidentes e crimes, além de virais da internet, trends das redes sociais e pautas de Cultura. Também atua como repórter de TV e rádio.

Eduardo Teixeira é formado em Jornalismo pela Uninter. Possui experiência em pautas de Segurança, como acidentes e crimes, além de virais da internet, trends das redes sociais e pautas de Cultura. Também atua como repórter de TV e rádio.