
A Europa importa carne do Brasil e quer saber se as vendas ao exterior também tem sido alvo de propinas por parte de empresas
As autoridades da Europa querem explicações por parte do Brasil em relação a Operação Carne Fraca, que revelou um esquema de corrupção nos certificados de carne no País. O bloco europeu, que importa o produto nacional, pediu esclarecimentos sobre o que as investigações apontaram e se as vendas ao exterior também tem sido alvo de propinas por parte de empresas.
Uma reunião entre o Mercosul e a União Européia (EU) está marcada para ocorrer no final de março em Buenos Aires, com o debate sobre as ofertas de liberalização entre as duas partes e, em especial, a situação sanitária do comércio. Mas fontes brasileiras confirmaram ao jornal O Estado de S. Paulo que, antes disso, uma reunião de emergência deve ocorrer entre as partes na próxima semana.
Do lado brasileiro, o objetivo é o de garantir que as revelações não fechem as portas da Europa para o produto nacional.
Aikaterini Apostola, porta-voz de Saúde e Segurança Alimentar na Comissão Europeia, disse à reportagem que Bruxelas está acompanhando as investigações no Brasil. “Estamos de fato em contato e pedindo esclarecimentos da parte das autoridades brasileiras”, disse.
De acordo com a Comissão Europeia, seu sistema de identificação de eventuais problemas nos alimentos importados não registrou qualquer alteração na carne nacional por dois anos. “Até o momento, não registramos nenhuma irregularidade com certificados de saúde relacionados com a carnedo Brasil desde 2015”, disse a porta-voz, indicando que deverá ter novas informações sobre os contatos bilaterais nos próximos dias.
Pressão
Desde sexta-feira, a Comissão passou a ser pressionada pela Confederação Europeia de Produtores Agrícolas que pretende usar o caso das propinas no Brasil para tentar impedir um acordo com o Mercosul e mesmo um aumento de exportações nacionais.
Para a entidade, o Brasil não tem o mesmo padrão de segurança alimentar que a Europa e um acordo entre europeus e o Mercosul não pode prever uma maior abertura comercial enquanto as condições não sejam iguais nos dois lados do Atlântico.
“Essa diferença de qualidade ficou clara pelo caso no Brasil, no qual mais de 30 representantes de alto escalão do setor agroalimentar foram presos por não atender às exigências veterinárias no setor de carnes”, disse o secretário-geral das cooperativas agrícolas da Europa, Pekka Pesonen.
No ano passado, os dois blocos comerciais apresentaram uma lista do que poderiam abrir em termos aduaneiros. Mercosul liberaria o setor industrial, e a Europa reduziria tarifas para as exportações agrícolas dos países sul-americanos.
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