Despacito já acumula mais de 4,3 bilhões de visualizações (Foto: Reprodução)

Rejeitado historicamente no Brasil, gênero também aumenta presença no País

*Do R7

É inegável: o grande sucesso de 2017 é Despacito, de Luis Fonsi. Mas ao contrário de outros hits mundiais que vieram de fora do eixo Inglaterra – Estados Unidos no passado, dessa vez o single não brilhou isolado, como Macarena (da dupla espanhola Los Del Rio), Mambo Number 5 (do alemão Lou Bega), Ai Se Eu Te Pego (de Michel Teló) ou El Arbi (do argelino Khaled).

Além de ajudar o porto riquenho Luis Fonsi a ser conhecido fora do País de origem, o hit também impulsionou a música latina em nível mundial e aumentou o interesse específico em artistas de reggaeton, como Maluma, o mais bem sucedido com esse fenômeno.

Alguns fatores além do sucesso de Despacito também são relevantes quando o assunto é tentar entender e detectar o que fez surgir um súbito interesse por esse tipo de sonoridade no mundo. As plataformas de streaming, como Deezer e Spotify, investem pesado na criação de playlists temáticas. 

Despacito: sucesso da música impulsionou reggaeton

Essas compilações funcionam como uma espécie de curadoria das empresas para que os fãs tenham contato com o que de mais novo ou interessante cada estilo reserva. Através delas, muitos artistas tiveram a quantidade de execuções no streaming anabolizadas, o que gera interesse também pelos clipes e aumento de visualizações no YouTube.

Essa sequência de fatores resulta em crescimentos impressionantes. No período de abril a novembro, o canal de reggaeton do Deezer teve aumento de quase 50% mundialmente e dez vezes mais no Brasil. No YouTube, 2017 foi o ano em que artistas do gênero atingiram a casa dos bilhões de visualizações. Já o Spotify tem oferecido conteúdos exclusivos de artistas latinos para aproveitar o momento que, segundo a empresa, não pode ser encarado como passageiro.

Maluma: sucesso no Brasil e no mundo

Pelo mundo

Além de Luis Fonsi, Daddy Yankee e Maluma, o reggaeton tem astros também como Nicky Jam, J. Balvin e Ozuna.

No momento, tratam-se de nomes de primeira grandeza no pop mundial, garantindo parcerias com artistas do mundo todo. A própria Despacito é uma parceria de Fonsi com Yankee e que teve maior visibilidade na versão remixada que conta com a presença de Justin Bieber.

Anitta já gravou com Maluma, o que abriu as portas do Brasil ao estilo e a outras parcerias com o artista, como as realizadas ao lado de Nego do Borel e Bruninho e Davi. O feito parece pequeno, mas se levar em consideração a rejeição histórica à música latina no País, essa entrada do gênero pela porta da frente é relevante. 

Até mesmo artistas com carreiras consolidadas já se aproximaram de astros emergentes do reggaeton numa sociedade onde todos ganham. Ricky Martin, por exemplo, gravou com Maluma. Shakira fez o mesmo. Demi Lovato registrou um dueto com J.Balvin e outro com Luis Fonsi. E Enrique Iglesias lançou música ao lado do duo cubano de reaggaeton Gente de Zona. Claudia Leitte, Luan Santana, Solange Almeida e Zé Felipe são artistas nacionais que já se aproximaram do gênero neste ano por meio de suas músicas. Para Oscar Catellano, CEO da Deezer, é um movimeno impressionante, porém não inpesperado.

— O reggaeton sempre foi grande na América Latina e especialmente desde o ano passado estamos detectando um aumento no consumo deste gênero de música em nossa lista de reprodução temática, tendo em vista o sucesso de artistas como Nicky Jam e JBalvin. Não podemos prever o que o futuro da música será, pois a tecnologia também pode mudar mais uma vez a forma de consumo. Porém, definitivamente as façanhas do reggaeton, da música latina e das parcerias propõem uma ótima maneira de atrair públicos de diferentes artistas para aumentar ainda mais a popularidade dos trabalhos de outros cantores.

Luan Santana: Acordando Prédio investe em reggaeton

 

No Youtube, 45 dos Top 100 vídeos de música mais vistos no YouTube este ano tem artistas latinos. As visualizações globais desse segmento também continuam a quebrar recordes na plataforma, com nomes como Shakira (6,4 bilhões), J Balvin (4,6 bilhões), Nicky Jam (3,9 bilhões), Bad Bunny (4,2 bilhões), CNCO (4,2 bilhões), Ricky Martin (2,2 bilhões), Pitbull (1,7 bilhões) e Wisin (1,5 bilhão).
Lyor Cohen, head global de música do YouTube, festeja o fato da música latina se expandir para além do mercado regional.

— O enorme sucesso da música latina no YouTube em 2017 mostra o verdadeiro poder de alcance global da plataforma. É incrível ver os artistas latinos construírem uma base de fãs no mundo todo.

E quando ele cita “o mundo inteiro” não é exagero. Estados Unidos, Itália, Espanha, França, Romênia, Alemanha, Polônia, Reino Unido, Portugal e Turquia compõem os 20 maiores públicos do gênero em 2017 na plataforma de vídeos. No streaming, pode chegar até a 500% de crescimento fora de países de língua espanhola dependendo do aplicativo.

Demi Lovato gravou parceria com Luis Fonsi

E o Brasil nessa?

Embora também seja um País latino, o Brasil não é hispanofalante e tem uma produção musical que se distingue do resto do continente. Por isso, o nosso pop não acompanhou o mesmo crescimentos do reggaeton e do pop atingido pelos nossos vizinhos. Não quer dizer, no entanto, que não seja um momento de crescimento e interesse pela música nacional no exterior.

Segundo Castellano, da Deezer, isso é apenas uma questão de momento e tendências. E que não se pode desprezar o fato do funk receber um interesse de nicho lá fora.

— O reggaeton agora é encarado como o “pop da atualidade”. Talvez o funk brasileiro seja muito mais específico para uma certa audiência, como acontece com estilos como grime, vallenato, etc. A música de qualquer forma não tem barreiras linguísticas. Uma boa música e certos gêneros podem, em algum momento do tempo, se tornar globalmente ouvidos, independentemente do idioma em que é cantada.

No exterior, artistas brasileiros tradicionais como Roberto Carlos e Caetano Veloso, bem como novos ídolos como Alok, MC Kevinho e Michel Teló têm igual interesse dos ouvintes. Um ponto levantado pelo executivo é que o nosso mercado escuta muita produção local, chegando a superar a casa dos 70% da música consumida pelos ouvintes domésticos.

Alok: no exterior, DJ é um dos brasileiros mais ouvidos

Recordes nacionais

Embora não lideremos esse crescimento, não dá para descartar algumas marcas atingidas em 2017. A mais notável foi que Sua Cara – uma colaboração entre Anitta, Pabllo Vittar e Major Lazer – ganhou mais “likes” nas suas primeiras 24 horas na plataforma do que qualquer outro vídeo musical na história do YouTube. O vídeo também teve 20,1 milhões de visualizações nas primeiras 24 horas, tornando-se uma das top 10 estreias de música do YouTube de todos os tempos.

Rocio Guerreiro, Diretora de Culturas Globais do Spotify, comenta que o mais importante do momento é que as barreiras geográficas do passado foram derrubadas para sempre. “A música latina se tornou uma verdadeira língua universal. Queremos não só celebrar, mas continuar promovendo o crescimento, trazendo os fãs mais para perto de seus artistas latinos favoritos, enquanto fornecemos aos artistas emergentes uma plataforma para alcançar novos ouvidos.”

Sua Cara: clipe reúne recordes históricos no YouTube