Uma coletiva filosófica aconteceu na terça-feira, dia 01, no Memorial de Curitiba, para a divulgação do espetáculo-show “JIM” inspirado no legado do compositor, poeta e músico Jim Morrinson. Antes de qualquer coisa, o idealizador do espetáculo, Eriberto Leão, fez uma apresentação eloquente sobre o seu papel como cidadão público e sobre o momento político atual, ressaltando a importância da arte na construção da criticidade humana. Em suas palavras, a arte faz referência e constrói uma dialética no ser humano para “que não fiquem alienados nesta sociedade de consumo”.
Em seguida, o ator contextualiza a ideia dizendo que a peça é embasada em grandes pensadores como Willian Blake, Baudellaire e Rimbaud e Nietzsche. Jim Morrinson tinha prazer os seguir como mestres, para mostrar as dificuldades de um homem que vive em meio a um sistema capitalista.
“JIM” foi sendo construído desde 1991, era um desejo de Eriberto, que se tornou realidade depois de quase 20 anos de carreira. O ator queria fazer uma homenagem a seu ídolo, Jim Morrison. A missão era montar um espetáculo que fosse agente de uma contracultura, um movimento interessado pela transformação humana.“É uma peça que dá a cara a tapa”, diz Eriberto.
O roteiro conta a história de João Mota, homem que durante anos acalentou o sonho de seguir os passos do seu ídolo, mas acabou em uma vida trivial. Aos 40 anos, o sentimento é a de que suas idealizações se perderam no tempo. No cemitério Pére-Lachaise, com um revólver na mão para acertar as contas com Jim Morrison, ele se depara com uma mulher com quem troca um decisivo diálogo.
Apresentar um pensamento diferente causa euforia e alguns são chamados de loucos, vários são os filósofos e revolucionários chamados assim. O Acontece Curitiba perguntou aos atores como Jim Morrison era retratado no espetáculo: “Em aramaico profeta significa ‘Nabi’. Paulo Leminski explica que é uma tradução errada do grego, todos os profetas do velho testamento foram “nabis” e “nabi” é o louco de Deus. Então, eu acho que ser louco dentro de uma sociedade autofágica, que está fadada à destruição, que está fadada ao desaparecimento e você tentar novos caminhos, novos paradigmas, se isso é ser louco, eu quero ser louco! É o que o Jim Morrison fala”, diz Eriberto.
Jim Morrison encarava a morte como algo inevitável, mas quando chegou o momento o cantor não queria morrer, tinha encontrado vários valores a seguir, segundo o baterista da banda The Doors: “Nietzsche assassinou Jim Morrison”. Eriberto conta que, quando chega a Paris, Jim começa a largar as drogas, só não consegue largar o álcool. Por conta da esposa viciada em heroína, o cantor acaba tendo uma recaída, o que ocasiona a sua morte por overdose.
Segundo os atores, o espetáculo vai além de um entretenimento, é um desejo de manifestar no espectador a vontade de mudar algo e procurar mais conhecimento. Na coletiva, Eriberto demonstrou estar mais preocupado em abrir discussões filosóficas e levantar problemas da sociedade brasileira do que divulgar ao seu próprio espetáculo. Sua companheira Renata Guida pouco disse. Podemos perceber que o “bichinho” da filosofia mordeu o ator– como diz uma grande filósofa que conheço- que durante todo o tempo em tons políticos e partidários fez várias referências à Marina Silva, ex-senadora do Acre, colocando-a como a solução de uma mudança significativa para a sociedade brasileira. Disse ainda que sabe disso, pois beijou sua mão e sentiu que Marina tinha alma.
De fato o que ocorreu foi que o ator conseguiu nos atiçar a estudar mais sobre a vida de Jim Morrison do que a assistir ao seu espetáculo. Mas caso você tenha ficado interessado, a direção é de Paulo de Moraes, o roteiro de Walter Daguerre e o elenco de Eriberto Leão e de Renata Guida. O espetáculo tem apresentação hoje, dia 02, no Teatro Guaíra, às 21h.