Música Raul Seixas: top 11 maiores sucessos para ouvir
Música Raul Seixas: o último dia 21 de agosto marcou o trigésimo aniversário da morte do cantor Raul Seixas, um dos maiores nomes da música brasileira do Século 20. Por isso, para homenagear o Maluco Beleza, o RIC Mais comenta aqui suas onze melhores músicas. Não perca tempo e escute!
As melhores músicas de Raul Seixas
O cantor e compositor baiano morreu aos 44 anos de idade, deixando uma carreira abalada pelos excessos que destruíram precocemente sua saúde e ainda grandes canções aliadas a estilo, personalidade e humor raramente vistos em um artista dos palcos e estúdios fonográficos nacionais.
Como o talento de Raul era gigantesco, claro que é uma tarefa árdua selecionar algumas de suas obras – a maior parte destas marcadas pela parceira com o letrista Paulo Coelho, que depois se transformaria em autor de livros místicos cultuados e vendidos às pencas ao redor de todo planeta.
Muita gente, claro, pode estranhar aqui ausências de temas populares como:
- Metamorfose Ambulante
- Rock das Aranha
- Al Capone
- Eu Também Vou Reclamar
- Rock do Diabo
- Aluga-se
- Cowboy Fora da Lei
- Let Me Sing Let Me Sing
- Eu Nasci Há Dez Mil Anos Atrás
- Maluco Beleza
Não é que estas também não sejam boas obras ou não tenham a sua importância. O critério, porém, ficou relacionado à relevância de cada música para a composição da discografia do artista e o significado da faixa não apenas para a época de sua gravação como também o legado futuro. Confira as músicas de Raul Seixas selecionadas!
1) “Sociedade Alternativa” – 1974
Talvez a música mais icônica do rock brasileiro em todos os tempos, que até até uma surpreendente e inusitada releitura de Bruce Springsteen na última passagem do americano pelo país. Esta é a grande homenagem da dupla Raul Seixas e Paulo Coelho a Aleister Crowley, a quem passaram a seguir um pouco antes da gravação do álbum Gitâ.
Citando uma das mais famosas frases da Lei de Thelema proposta pelo britânico (“faz o que tu queres pois é tudo da lei”) e com um refrão de alto poder hipnótico (e que ao vivo podia ser repetido ad infinitum, para o delírio dos fãs), Raul se esbaldava ao exaltar os ensinamentos do escritor, mago e ocultista britânico, que chocava a sociedade mundial dos primeiros anos do Século 20 e até ganhou a fama de satanista.
Era a hora em que ele vestia capa, abria papiros, desenhava símbolos com o batom em sua barriga e enlouquecia qualquer plateia ainda embalada pelos ecos dos sonhos e utopias hippies que ainda ressoavam aqui no Brasil. No clipe feito para o Fantástico no ano de lançamento da música, Raul e os bailarinos que costumavam fazer passos coreografados nos musicais feitos para os primeiros anos do programa transformam a tal Sociedade Alternativa em uma grande teia. Seria uma previsão do que viria a ocorrer com o mundo com a explosão da internet?
2) “Ouro de Tolo” – 1973
Há quase cinquenta anos Raul Seixas esbofeteava a cara da ditadura militar com uma de suas grandes e definitivas canções. Com título que faz referência às falsas promessas dos alquimistas de araque na Idade Média e letra autobiográfica, “Ouro de Tolo” disfarçava sob as tintas de um mero delírio hippie uma severa crítica à paralisia social. Essa paralisia foi motivada pelas ambições (ou a falta delas!) às quais a classe média brasileira se submetia com os falsos ideais de felicidade e prosperidade do chamado “Milagre Econômico” daquele período de início dos anos 1970.
Para completar a sacaneada geral, ele, aceitando uma sugestão do amigo Paulo Coelho, atraiu a atenção de toda a imprensa carioca ao fazer uma performance repetindo a canção, somente ao violão, por mais de 40 vezes em uma das mais movimentadas ruas do centro da cidade do Rio de Janeiro. A tática deu certo.
A balada triste com métrica vocal trôpega e versos de acidez extrema ganhou destaque em rede nacional no jornalismo do horário nobre da Rede Globo, transformou-se em hit imediato nas rádios e vendeu 60 mil cópias de um simples compacto em questão de dias. Foi o que bastou para impulsionar as vendas do primeiro disco solo (após tentativas frustradas com os grupos Raulzito e os Panteras e Sociedade da Grã-Ordem Kavernista) e fazer de Krig-Ha Bandolo (1973) o primeiro de seus grandes álbuns de sua fase áurea, marcada pela parceria com o futuro escritor de sucesso planetário.
3) “Gitâ” – 1974
Um dos textos sagrados do hinduísmo e a parte em que o guerreiro Arjuna questiona o Deus Krishna sobre o seu real significado, o Bhavagad-Gitâ é a base de todos estes versos que eternizaram a mágica da parceria entre Raul Seixas e Paulo Coelho.
A canção dá margem a uma interpretação muito aberta, assim como a sua própria inspiração, que até hoje intriga espiritualistas e os grandes pensadores da humanidade. No videoclipe feito para o Fantástico, Raul faz poses em cromaqui, tendo ao fundo quadros de pintores surrealistas como René Magritte, Salvador Dali e Hieronymus Bosch. O que provoca espanto, porém, é o que ocorre antes da exibição do número musical. O apresentador Sergio Chapelin lê um texto:
“Para São Cipriano, Lúcifer deu um golpe de estado em Belzebu, tomando o poder. E as divergências entre os dois atrasaram o mal na terra por quinhentos anos. Cinco séculos que acabam de terminar”, fala Sergio
Logo depois entra o cantor falando sobre a sua gravação, comentando sobre o interesse “súbito” na magia, no filme O Exorcista e no que seria, então,causa e efeito disso tudo. Nada mal para um programa que acabara de estrear no horário nobre do domingo e tinha a maior audiência da televisão brasileira na época.
4) “Tente Outra Vez” – 1975
Canções pop não só para momentos de diversão. Em alguns casos, servem como uma boa companhia para atravessar os momentos difíceis da vida. Escrita com a ajuda dos parceiros Paulo Coelho e Marcelo Motta (discípulo de Aleister Crowley e iniciador de Raul Seixas e Paulo na Ordem da besta, fundada pelo bruxo no início do Século 20), esta faixa abre o álbum Novo Aeon (1975) com uma balada de estímulo à superação de um (ou mais) fracasso(s).
Vale lembrar também que versos como “Levante sua mão sedenta e recomece a andar”, “Você tem dois pés pra cruzar a ponte” e “você será capaz de sacudir o mundo” antecipavam o nicho das publicações de auto-ajuda que, de uns anos para cá, tomam conta das livrarias nacionais – outra grande prova da grande habilidade de comunicação do artista com relação a temas universais, sem distinção de faixas etárias ou classes sociais.
Aliás, segundo Plínio Seixas, irmão do artista, um empresário mandou uma carta à família de Raul contando que desistira do suicídio ao prestar atenção na letra da música, que tocava na rádio no momento em que ele ligara o som para que ninguém ouvisse o estampido do revólver. Habitué dos clipes produzidos pelo Fantástico em seus primeiros anos de existência, o baiano, neste aqui, ainda contracena com os desenhos marcantes do artista plástico Juarez Machado, outro nome que sempre frequentava o programa em esquetes cômicos.
5) “A Maçã” – 1975
“Sua música, mesmo com a dissolução da Sociedade Alternativa, continua a pregar um mundo novo e a criticar o comportamento do homem, não importa em que lugar”
E foi assim, que a apresentadora do programa dominical Fantástico anunciava, em 1975, a primeira exibição do clipe da mais linda canção brasileira de amor… a três.
Utilizando a metáfora do símbolo bíblico da maçã, Raul Seixas e Paulo Coelho colocam a figura feminina como o centro do universo, inclusive das vontades e desejos de qualquer homem.
Mais um belo drible da dupla na Censura Federal da época, que sequer cogitou a hipótese de barrar a letra original e a execução pública da faixa. Sorte da cultura musical brasileira.
6) “Mosca na Sopa” – 1973
Outra grande habilidade de Raul Seixas era misturar ritmos brasileiros ao rock’n’roll justamente quando ninguém ousava fazer isso. “Mosca na Sopa” ainda ia além, trazendo o ponto de umbanda para a seara das guitarras roqueiras.
E a letra, sensacional, reduzia a uma simples mosquinha do cotidiano (cujo zumbido foi genialmente reproduzido em estúdio através dos recursos de um sintetizador moog) toda a sua inquietação e a vontade perene de ser a pedra no sapato do que está na ordem:
No refrão, ele ainda vaticina que não é o único nesta vibração: “Não adianta vir me dedetizar/ Pois nem o DDT pode assim me exterminar/ Porque você mata uma e vem outra em meu lugar”. Isso, concebido no ano de 1973, também pode ser entendido como um recado aos militares, que pesaram a mão-de-ferro nos anos antecessores do país.
7) “Como Vovó Já Dizia” – 1974
“Quem não tem colírio, usa óculos escuros/ Quem não tem filé como osso duro/ Quem não tem visão bate a cara contra o muro”, diz o refrão. Utilizando a sabedoria dos mais velhos, Raul e Paulo Coelho davam uma bela espinafrada na ditadura na letra desta música, o que, obviamente, foi vetado pela Censura Federal.
Então, para gravá-la em disco, a dupla reescreveu novos versos fazendo referências à Lei da Gravidade e fábulas de La Fontaine, assim “maquiando” a insatisfação com o regime militar. A canção não foi incluída em um álbum de carreira do cantor: ela é uma das quatro faixas gravadas por Raul Seixas para a trilha sonora da novela O Rebu, exibida pela Rede Globo entre novembro de 1974 e abril de 1975 (e que ganhou em 2014 um remake na mesma emissora).
A letra original pode ser encontrada no filme Ritmo Alucinante, de 1975, que flagra o baiano cantando as frases originais em um arranjo muito mais pesado do que o registrado em estúdio (na apresentação que fez no festival Hollywood Rock, organizado no mesmo ano, no estado do Rio de Janeiro, pelo produtor Nelson Motta).
8) Música Raul Seixas “Medo da Chuva” – 1974
Muito antes das baladas sertanejas virarem moda na música brasileira, Raul Seixas já compunha belos exemplares do gênero. E mais: com uma letra desconcertante, escondendo nas entrelinhas da simplicidade usual, comparando a fidelidade em um relacionamento a elementos da natureza.
O refrão desta canção – gravada no álbum Gitâ – é um dos mais lindos já escritos pelo baiano:
9) “O Carimbador Maluco” – 1983
A fama de gênio indomável de Raul Seixas já corria solta pelos bastidores das grandes gravadoras. Acumulando passagens problemáticas por algumas delas, ele se encontrava escanteado, banido, defenestrado,pelo mercado fonográfico nacional no começo dos anos 1980.
Acabou sendo salvo ao aceitar um convite do diretor de TV Augusto Cesar Vannucci para participar de um especial infantil da TV Globo chamado Plunct Plaact Zuuum (que faria tanto sucesso que deflagraria na emissora uma onda de programas do gênero, como Arca de Noé e Casa de Brinquedos) e falava para as crianças sobre alguns arquétipos típicos da adolescência.
No começo do especial, Raul Seixas encarnava o Carimbador Maluco, um personagem que só permite o início da viagem da nave das crianças rumo ao espaço e à imaginação depois de insistir em usar muitos carimbos de rotulagens e padronizações.
A música e o programa fizeram tanto sucesso que Raul ganhou o seu (apenas!) segundo disco de ouro da carreira e descolou um contrato com o selo independente paulistano Eldorado para retomar sua carreira fonográfica, lançando um novo álbum. E apesar deste hit ter sido responsável para apresentar o baiano para uma geração que ainda não havia nascido (ou estava engatinhando) quando ele estava no auge da carreira, sua letra em nada se encaixa no modelo de canção infantil. Na verdade, a letra é uma grande homenagem a um dos maiores teóricos do anarquismo, o filósofo e político francês Pierre Joseph Proudhon e traz no personagem interpretado por Raul Seixas uma metáfora do governo e sua intromissão reguladora na vontade dos indivíduos.
10) Música Raul Seixas: “O Trem das Sete” – 1974
Bob Dylan lançou sua “The Times Are A-Changin” no meio de toda a efervescência sociopolítica dos EUA dos anos 1960. Dez anos depois, Raul Seixas gravou a sua balada folk de anúncio de mudanças e saudação de um novo tempo. Celebra a chegada do novo aeon com o seu “Trem das Sete”, onde o sinal das trombetas, dos anjos e dos guardiões antecedem a figura de Deus deslizando no céu entre brumas de mil megatons. No fim, chega o mal de braços e abraços com o bem num romance astral.
11) Música do Raul Seixas “O dia em que a terra parou” – 1977
A música “O dia em que a terra parou” é de 1977, porém, com a pandemia em 2020 a música voltou a chamar atenção. Por causa da sua letra que se encaixa certinho com a situação do mundo meio ao coronavírus, muitas pessoas fizeram a seguinte brincadeira “Raul já sabia da pandemia em 1977” ou “Raul fez a previsão”. Confira um trecho da letra:
Ouvir música de Raul Seixas
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