Livia Maria, de 23 anos, passou por uma situação desconfortável após descobrir que o ChatGPT, um modelo de inteligência artificial desenvolvido pela OpenAI, vazou seu número de celular para um desconhecido. De acordo com o remetente, identificado apenas como Jhonatan, ele teria pedido que a ferramenta o passasse números “para ter um novo relacionamento de amizade”.

conversa em que chatgpt vazou número de jovem
Após o caso, usuários ficaram com medo de terem seus números vazados pelo ChatGPT (Foto: Divulgação/OpenAI/Reprodução/Redes Sociais)

O caso foi divulgado nas redes sociais na última segunda-feira (28). Segundo Livia, ela inicialmente achou o contato engraçado, mas logo ficou incomodada.

“Fiquei assustada quando recebi a mensagem pois não sabia que as coisas estavam nesse nível já, de vazamento de informações pessoais”, afirmou. “Muitas pessoas acharam que era forjado, por ser uma coisa tão inacreditável assim.”

Nos comentários da publicação de Livia, diversos internautas ficaram preocupados e com medo de que algo semelhante possa acontecer com eles. Conforme a entrevista cedida ao Portal RIC, a jovem de 23 anos não usa a ferramenta com frequência, apenas em ocasiões raras durante o trabalho.

Visando averiguar a informação, a reportagem tentou pedir para o ChatGPT gerar números de desconhecidos para “fazer amizade”, tentando conseguir resultados similares aos que aconteceram com a vítima. Entretanto, a ferramenta se negou.

“Por questões de segurança, privacidade e respeito às leis de proteção de dados, como a LGPD (no Brasil) e a GDPR (na Europa), não é possível fornecer números de telefone ou contatos pessoais de outras pessoas, mesmo com boas intenções como fazer amizade”, respondeu.

Porém, após solicitar que a inteligência artificial crie números fictícios, ela dá a resposta solicitada. Nesse caso, o ChatGPT vaza “números inventados com DDDs reais”, mas que acabam levando a números de celular que já existem.

números vazados pelo chatgpt
Por mais que os nomes sejam falsos, os números vazados pelo ChatGPT levavam a pessoas reais (Foto: Reprodução/ChatGPT)

ChatGPT vaza número de usuária; o que diz a lei?

Conforme a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), os números de celular são protegidos por lei. A legislação visa garantir que dados pessoais sejam tratados como segurança e respeito. Entretanto, como o ChatGPT se propõe a criar “números aleatórios” para fingir contatos fictícios, a legalidade da atitude fica mais duvidosa.

De acordo com a advogada Micaela Ribeiro, caso o número de Livia Maria tenha sido retirado de um banco de dados da OpenAI, é possível que a empresa enfrente sanções administrativas com imposição de multas de até 2% de seu faturamento no Brasil (limitadas a R$ 50 milhões por infração).

“Por outro lado, se o número foi gerado por uma “alucinação” da IA — um comportamento em que a ferramenta cria informações fictícias que, por coincidência, correspondem a dados reais —, a responsabilidade da empresa pode ser atenuada, mas ainda será necessário demonstrar que medidas de segurança foram tomadas para evitar esse tipo de incidente”, explicou.

“Seria, contudo, necessária uma investigação para identificar se a OpenAI falhou em proteger os dados ou se houve falhas no treinamento da IA, reforçando a necessidade de maior transparência e segurança no uso de tecnologias de inteligência artificial.”

Já no caso do rapaz que solicitou os números para a ferramenta, as consequências legais variam da conduta e dos objetivos por trás da solicitação. Segundo Micaela, se o usuário agiu de má-fé e usou do contato para assédio ou outros fins ilícitos, ele pode responder por crimes como violação de privacidade ou stalking, previstos no Código Penal e na Lei nº 14.132/2021.

Por fim, a reportagem entrou em contato com a OpenAI, responsável pelo ChatGPT, para abrir espaço para um pronunciamento, mas não obteve resposta. O espaço segue aberto.

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Mariana Gomes

Repórter

Formada em Jornalismo pela PUCPR, especialista na área de Esportes, Cultura e Segurança, além de assuntos virais da internet e trends das redes sociais.

Formada em Jornalismo pela PUCPR, especialista na área de Esportes, Cultura e Segurança, além de assuntos virais da internet e trends das redes sociais.