Curitiba - Há exatos 20 anos, nesse mesmo 14 de julho, em 2005, os torcedores do Athletico se preparavam para aquele que poderia ser o dia mais importante da história do clube. Na noite daquela quinta-feira, o Furacão entraria em campo no Morumbi para decidir o título da Libertadores com o São Paulo. Com o empate em 1×1 no jogo de ida, no Beira-Rio, a decisão estava aberta. O final, todo mundo sabe, mas antes daquele amargo 4×0, muita coisa aconteceu para o Rubro-Negro chegar à sua primeira disputa de título continental.

Time do Athletico na Libertadores de 2005
20 anos depois, aquela campanha na Libertadores não sai da cabeça do torcedor. (Foto: Divulgação/Athletico)

Para chegarmos até aquele 14 de julho, é preciso voltar uns meses antes no tempo, até dezembro de 2004, quando o Athletico disputava ponto a ponto o título do Brasileirão com o Santos. O título escapou na última rodada, mas o vice-campeonato garantiu a volta do Furacão à Libertadores após três anos. Só que, para 2005, houve um verdadeiro desmanche no elenco e comissão técnica.

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Deixaram o time os zagueiros Marinho e Rogério Corrêa, o lateral-esquerdo Ivan, o volante Fabiano, o meia Jadson e o atacante Washington, sendo os dois últimos grandes destaques. Ficaram o goleiro Diego, o zagueiro Marcão, os volantes Alan Bahia e Fernandinho e o atacante Denis Marques. Nem mesmo o técnico Levir Culpi seguiu. Após desentendimentos com a diretoria, o treinador não renovou o contrato e foi substituído pelo então desconhecido Casemiro Mior.

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“Foi a reconstrução de um elenco. Tivemos momentos muito conturbados, principalmente no início do ano. Tinham muitos jogadores, alguns voltando de empréstimo, outros contratados. Até achar o grupo ideal levou um tempo. E aí oscilamos. Fomos campeões paranaenses, mas demorou e acabamos pagando caro na fase de grupos, conseguindo a classificação após uma goleada em casa”, relembrou o ex-zagueiro e lateral-esquerdo Marcão, em entrevista à Banda B e RIC.com.br.

Começo de ano tumultuado e classificação em risco

E diante dessa reformulação, demorou para o Rubro-Negro se acertar em campo. Com um primeiro turno regular na fase de grupos – uma vitória, um empate e uma derrota – e a vaga na final do Paranaense, parecia que as coisas iam entrar nos eixos, mas a derrota por 1×0 para o Coritiba no Pinheirão custou o cargo de Mior, que, inicialmente, foi substituído interinamente por Lio Evaristo e, na sequência, por Edinho, que foi o comandante na final do Estadual, com uma vitória por 1×0 no tempo normal e nos pênaltis, conquistando o título.

Só que, junto com o treinador, veio o Brasileirão e um inicio desastroso. Na Libertadores, foram duas importantes vitórias, mas depois, quatro derrotas seguidas – sendo três no Brasileirão -, e a última delas a que marcou o Athletico na disputa continental. A equipe foi goleada por 4×0 pelo Independente Medellín, em plena Arena da Baixada, e só se classificou para as oitavas de final graças ao tropeço do América de Cali, que, em casa, perdeu por 1×0 para o já eliminado Libertad.

Mas, a partir dali, iniciou-se uma nova fase do Athletico naquela temporada. Edinho foi demitido logo após a derrota em casa e deu lugar ao experiente Antônio Lopes, que tinha deixado o Coritiba menos de 20 dias antes. Conhecedor da Libertadores, o delegado chegou após o ‘caos’. Nas oitavas de final, o Furacão passou nos pênaltis pelo Cerro Porteño, após vitória na Arena e derrota no Paraguai.

Arrancada para a final em confrontos emblemáticos

Enquanto patinava no Brasileirão, sem vencer nas dez primeiras rodadas – o primeiro triunfo veio justamente em um Atletiba, em meio às finais da Libertadores -, o Athletico se concentrava no mata-mata da Conmebol. E nas quartas de final teria uma espécie de revanche contra o Santos, para quem tinha perdido, meses antes, o título nacional.

Não era uma revanche, mas para os remanescentes de 2004 tinha aquilo de querer dar uma resposta. O time do Santos era um timaço, passamos por dificuldades. E pra mim é um jogo épico. Eu fiz o segundo gol daquela partida e eu tive uma caibra tão forte, algo que nunca tinha sentido. Eu não conseguia nem mexer a perna. E mesmo com a vitória todo mundo dava o Santos como favorito, mas fizemos uma baita partida e vencemos lá também”, destacou o ex-lateral.

Marcão comemora classificação do Athletico para a final da Libertadores de 2005
Marcão comemora classificação do Athletico para a final da Libertadores de 2005. (Foto: Orlando Kissner/Athletico)

No jogo de ida, vitória de por 3×2 na Arena, com gols de Evandro, Marcão e Lima. Na volta, na Vila Belmiro, um 2×0 de categoria, ambos marcados por Aloísio Chulapa. Vingança feita e o próximo desafio era o Chivas Guadalajara, do México.

No primeiro confronto, em Curitiba, um verdadeiro atropelo do Rubro-Negro, que fez 3×0, com gols de Fernandinho, Aloísio e Fabrício. A vaga para a final parecia sacramentada, mas o jogo de volta no México reservou fortes emoções, inclusive com atletas do Chivas que defenderam o México na Copa das Confederações voltando direto para o duelo, mesmo tendo jogado uma partida com prorrogação 24 horas antes. Mas o empate em 2×2, com dois gols de Lima, carimbaram a classificação.

Lima marca o gol do Athletico contra o Chivas no México
Lima foi o herói no empate com o Chivas que garantiu a vaga na final. (Foto: Orlando Kissner/Athletico)

“No primeiro jogo, os principais jogadores deles estavam na seleção mexicana disputando a Copa das Confederações. Mas para o jogo de volta o presidente do Chivas fretou um avião para os atletas voltarem da Alemanha. E o Jalisco lotado era uma pressão, os caras pressionando. Eles fizeram 1×0 e no intervalo o Lopes arrumou nossa equipe, nos deu um esporro. Eu me lembro que ele falou que se jogássemos do jeito que estávamos, não íamos nos classificar. E nos fechamos na saída do vestiário, eu pude tocar para o Lima, ele fez o gol e ali para nós saiu um peso e vimos que estávamos classificados”, contou Marcão.

Athletico proibido de jogar na Arena

“Tinha a situação do jogo ser em casa ou não. Eu me lembro que na volta do México, em voo fretado, a gente sobrevoando a Arena e os refletores estavam acesos com as obras das tubulares em andamento”, disse Marcão, lembrando da madrugada de 30 de julho para 1º de agosto.

Por conta do regulamento, um estádio precisava de pelo menos 40 mil lugares para receber uma final da Libertadores. E a Baixada comportava cerca de 24 mil pessoas. Na tentativa de convencer a Conmebol, o Furacão iniciou, na madrugada após a classificação, a instalação de arquibancadas tubulares.

Mas em um jogo político e de bastidores, todas as tentativas foram em vão. Com o objetivo de tirar o jogo do estádio, o São Paulo, o outro finalista, pressionou a Conmebol, alegando não ter garantias de segurança com a obra. Diante de todo esse cenário, não houve conversas e o Athletico precisou procurar outro estádio. A ideia inicial era o Couto Pereira, mas o Coxa não aceitou o empréstimo.

A alternativa, então, foi Porto Alegre, e o Beira-Rio foi o escolhido, com o duelo do dia 6 de julho terminando empatado em 1×1, gol de Aloísio. Embora tudo estivesse indefinido, até hoje os atleticanos lamentam o fato de a Baixada não ter recebido aquela partida, que poderia mudar o cenário da final.

Antônio Lopes, técnico do Athletico em 2005
Antônio Lopes chegou no meio da Libertadores e levou o time à final. (Foto: Gustavo Oliveira/Athletico)

“Com o passar dos dias veio que não seria na Arena e isso prejudica. Não é uma desculpa e eu nem digo que seríamos campeões, mas se fosse na Arena, a história seria diferente. Levaríamos uma vantagem para São Paulo. Sabemos que tiraram o jogo da Arena por politicagem. Com a mudança do estádio jogamos em campo neutro e perdemos a sinergia com a torcida. Tentamos, mas não estávamos na nossa casa. E anos depois, sabendo de tudo que aconteceu, fica aquela frustração, mas o São Paulo teve seus méritos”, lamentou Marcão.

Athletico amarga goleada para o São Paulo

Oito dias depois, chegamos ao 14 de julho. Os clubes voltavam a jogar, dessa vez no Morumbi. O São Paulo abriu o placar logo aos 16 minutos, com Amoroso. Aos 45, o Athletico teve tudo para empatar, com um pênalti marcado a seu favor. Mas Fabrício acabou acertando a trave. E ali, a história poderia ser outra.

No segundo tempo, o tricolor paulista foi para cima e com sete minutos Fabão fez 2×0. Ali não restava outra alternativa ao Furacão que não se expor e ir para cima. Com isso, acabou levando mais dois gols, de Luizão e Diego Tardelli. Um 4×0 que sacramentou aquela final. Mas a goleada não machucou tanto o atleticano como a proibição de jogar em casa.

“A gente teve que sair e perdido por um, perdido por dez. Fomos para cima e o São Paulo, com a qualidade que tinha, aproveitou e fez os quatro gols”, afirmou o ex-atleta.

17 anos depois, em 2022, o Rubro-Negro teve mais uma oportunidade, chegando à decisão contra o Flamengo e sendo derrotado por 1×0 em Guayaquil, no Equador. Mas, 20 anos depois, aquela primeira final de Libertadores fica na memória dos torcedores, mesmo com o resultado não sendo o esperado.

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Ricardo Brejinski

Editor de esportes

Formado pela PUCPR em 2008, foi correspondente do Diário Lance! em Curitiba, fundador e coordenador do extinto Notícia FC e editor da revista da Stock Car. Chegou à Tribuna do Paraná em 2011, foi setorista do Coritiba, repórter especial e editor de 2014 à 2019, sempre na editoria de Esportes. Em 2019, juntou-se à equipe da Gazeta do Povo e fez parte da criação do UmDois Esportes, onde ficou até dezembro de 2022. Em junho de 2023, foi contratado pela Banda B, sendo editor de esportes do portal e repórter de campo e comentarista na rádio. Cobriu a preparação da seleção brasileira para a Copa do Mundo 2010 e a Copa do Mundo 2014 em Curitiba, além de ter estado em três finais de Copa do Brasil.

Formado pela PUCPR em 2008, foi correspondente do Diário Lance! em Curitiba, fundador e coordenador do extinto Notícia FC e editor da revista da Stock Car. Chegou à Tribuna do Paraná em 2011, foi setorista do Coritiba, repórter especial e editor de 2014 à 2019, sempre na editoria de Esportes. Em 2019, juntou-se à equipe da Gazeta do Povo e fez parte da criação do UmDois Esportes, onde ficou até dezembro de 2022. Em junho de 2023, foi contratado pela Banda B, sendo editor de esportes do portal e repórter de campo e comentarista na rádio. Cobriu a preparação da seleção brasileira para a Copa do Mundo 2010 e a Copa do Mundo 2014 em Curitiba, além de ter estado em três finais de Copa do Brasil.