Curitiba - Uma conquista histórica e épica. Nesta quinta-feira (31), o título brasileiro do Coritiba, conquistado em 1985, completa 40 anos. A taça veio em uma final emocionante contra o forte time do Bangu, no Maracanã. Após empate em 1×1 no tempo normal e na prorrogação, o Coxa venceu o time carioca, nos pênaltis, por 6×5.

Edson, ex-atacante e campeão brasileiro pelo Coritiba em 1985. (Foto: Raiane Parreira/JP News Curitiba)

Naquela noite, o técnico Ênio Andrade levou a campo o time-base da heroica campanha: Rafael; André, Heraldo, Gomes e Dida; Almir, Marildo e Tobi; Lela, Edson e Índio. Foi de Índio, em bela cobrança de falta, o gol do Alviverde. Coube ao zagueiro Gomes bater o pênalti decisivo na disputa final e dar o título ao Coritiba.

O Bate Pronto Paraná da última quarta-feira (30) recebeu em seus estúdios um dos pilares daquele time: o ex-atacante Edson, que também teve passagem vitoriosa pelo Flamengo. Além dele, outros jogadores daquela conquista também contribuíram com a entrevista que serviu para lembrar fatos e marcos do maior título da história coxa-branca.

Time do Coritiba posa para foto no Maracanã antes do jogo contra o Bangu. (Foto: Arquivo/Site oficial do Coritiba)

“Foi fora da curva ser campeão brasileiro no Maracanã”, admite Edson

Edson foi escalado como titular pelo técnico Ênio Andrade naquela decisão. Ponta-esquerda, marcou época no super time do Flamengo de Zico, que conquistou títulos marcantes no início da década de 1980. Atualmente com 65 anos e tendo acumulado também passagens por clubes como Cruzeiro e Internacional, ele resumiu a sensação de ser campeão brasileiro pelo clube.

Edson era um dos pilares do Coritiba campeão brasileiro de 1985. (Foto: Coritiba/Reprodução)

Foi fora da curva ser campeão brasileiro no Maracanã. Primeiro que: achamos uma injustiça ter um jogo único na final, exatamente no Maracanã, com mando do Bangu. A gente já estava motivado mas, o que marcou mesmo foi uma entrevista dada pelo Moisés, técnico do Bangu, comendo camarão e tomando chopp na praia. A gente estava almoçando no hotel e vimos essa reportagem na televisão. Ficamos revoltados. Aquilo motivou muito a gente.

Na decisão, a tensão por jogar em um Maracanã recheado por pouco mais de 91 mil torcedores apareceu mesmo na hora da disputa por pênaltis, que definiria o campeão inédito.

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Edson afirmou que o planejamento para as cobranças foi alterado a partir das decisões tomadas pelo técnico Ênio Andrade no jogo.

Pra ser sincero, não era pra eu bater o pênalti (risos). Eu treinei umas dez cobranças antes do jogo e perdi umas oito. Só que, no jogo, o Ênio Andrade tirou dois jogadores previamente selecionados e tivemos que botar dois em cima da bucha. Eu sabia que o Dida e o Índio não iriam perder os pênaltis. Eles acertavam tudo. Eu tinha medo do Gomes, do Lela e de mim, claro (risos). Meu pênalti foi tenso, porque eu bati na bochecha da rede e a bola triscou os dedos do Gilmar (goleiro do Bangu). Quando o Ado perdeu… cara, a gente se olhou e começou a gritar: “Vai ser nossa!”. Aí, o Gomes se prontificou e foi bater o pênalti. Eu fiquei preocupado (risos). Mas ele foi lá e fez o gol, pro nosso alívio!

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Sem grandes estrelas, o Coritiba se reinventou durante aquele Brasileirão. Após um início turbulento com Dino Sani, trouxe Ênio Andrade e mudou a rota. A chegada do comandante, visto como um “paizão”, foi o primeiro passo para uma alteração de rota. Surgiria, ali, o pilar que deu o título ao clube: a amizade.

O ex-lateral-direito André era um destaque daquele time do Coxa. Extremamente identificado com o clube, visto que se profissionalizou exatamente ali, André, atualmente com 62 anos, afirmou que o título mudou o patamar do Verdão no futebol brasileiro.

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Era um time muito unido, com um baita espírito competitivo. Éramos ativos, atentos e muito concentrados durante os jogos. A história do Coritiba sempre foi linda e, foi assim, até 1984. Mas, depois daquele título, ela passou a ser gloriosa, justamente por ter sido construída por heróis. Colocamos o nome do Coxa na elite do futebol brasileiro“, destacou.

Elizeu, assim como Edson, lembra da polêmica entrevista dada pelo técnico Moisés, do Bangu, na praia antes da final. Cria do Coritiba, ele acumulou títulos pelo clube desde a base e participou da campanha do título. O discurso e o clima de “oba-oba” no time carioca fez o elenco se unir.

Eles mexeram com a gente. As imagens do Moisés motivaram demais a gente. Eles achavam que seriam campeões, davam a vitória como certa. e os torcedores de Botafogo, Flamengo, Fluminense e Vasco foram ao Maracanã torcer pro Bangu. Isso nos deu um fôlego pra conquistar aquela taça. O título mudou a nossa vida, conseguimos entrar para a história do Coritiba“, lembrou.

Falta de reconhecimento pelo título magoa campeões

Ter sido campeão brasileiro marcou a geração de profissionais que fizeram parte daquela conquista. Todavia, o não reconhecimento pela façanha é algo que magoou muito daqueles que conquistaram o maior título da história do Coritiba.

Um dos únicos campeões que ainda mora em Curitiba, Edson assumiu a responsabilidade de tentar unir os integrantes daquele time para a realização de um jantar ofertado pelo Coxa. Porém, teve de convencer alguns a participarem da celebração.

Jogadores do Coritiba dão volta olímpica no Maracanã com a eterna “taça das bolinhas”, dada ao campeão brasileiro. (Foto: Arquivo/Coritiba)

Muitos jogadores ficaram revoltados com a falta de reconhecimento, falta de pagamento do bicho. Eu fui um dos únicos que recebi. Alguns não queriam vir porque jogavam exatamente esse ponto, de que não tinham sido reconhecidos. E eu justificava: ‘A pessoa que você tem mágoa já faleceu‘. Falei muito essa frase. E, felizmente, consegui convencer muitos a virem. A amizade segue firme e consegui organizar um grupo no whatsapp com todos os campeões“, revelou ele.

O discurso é semelhante ao do meia Elizeu, que pede uma maior valorização para alguns daqueles jogadores.

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Alguns jogadores ficaram ressentidos com o Coritiba, até mesmo em função daquela polêmica das medalhas. Acho que, uma coisa que sentimos falta é de um reconhecimento por parte do clube, especialmente na parte individual mesmo. O Coritiba poderia ligar pra alguns desses campeões e oferecer algum tipo de trabalho, um serviço. Isso os ajudaria, especialmente em questões financeiras”, sugeriu.

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