Curitiba - Um título histórico guardado para sempre na memória de uma torcida apaixonada. A eterna madrugada de 1° de agosto de 1985 jamais será esquecida pelo Coritiba. Naquela noite, o Coxa conquistou o título do Campeonato Brasileiro daquele ano. O palco? Um Maracanã completamente lotado, abarrotado especialmente de cariocas que se uniram para torcer pelo Bangu, inflado pelas promessas e dinheiro do bicheiro Castor de Andrade.

As histórias que contam desde a angústia do empate em 1×1 no tempo normal, passando pelo êxtase pelo triunfo por 6×5 nos pênaltis é passado de geração a geração. A volta olímpica dos atletas no grande estádio do mundo e o retorno triunfal para Curitiba parecia o final perfeito de um filme escrito a muitas mãos. Mas como diz o velho ditado: faltava a cereja do bolo.
Quase quarenta anos se passaram desde o fim daquela saga do Coritiba no Campeonato Brasileiro de 1985. Ídolos, treinadores e presidentes mudaram e trocaram de cargos, tudo isso aos olhos de uma torcida que também sempre se renova. Mas o que ainda não passou é o desejo compartilhado por muitos daqueles atletas: o de ter a medalha de campeão brasileiro no peito.
Descaso ou ironia do destino, o material banhado pelo ouro e apoiado na corrente que envolve o pescoço jamais tocou as mãos de nenhum jogador daquela equipe. As peças dadas pela Federação Paranaense de Futebol ou outras empresas não preenchem o vazio deixado por um momento que sempre esteve presente no imaginário de quem escreveu aquela história.
Recentemente, uma homenagem feita pela Confraria dos ex-jogadores do Coritiba premiou os atletas daquela conquista com réplicas da medalha.
“Eu quero a minha medalha! Peço por isso há 39 anos”, brada heroico goleiro do Coxa
É impossível falar do Coritiba campeão de 1985 e não se recordar da histórica figura do goleiro Rafael Cammarota, símbolo da conquista do título. A liderança em campo se aliava ao talento nas defesas, algumas delas vistas como impossíveis. Parar o forte ataque do Bangu na final foi apenas uma das muitas provas que ele passou naquele campeonato.
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Titular do time, com o ídolo Jairo no banco de reservas, Rafael disputou mais de 170 partidas pelo Coritiba somadas todas as passagens pelo clube. Mas nenhuma delas tão especial quanto a de 1985. Em contato com a reportagem, ele não esconde a frustração pela falta de medalhas ao time campeão.
Eu quero as medalhas. Estou cobrando isso há 39 anos! Fomos campeões brasileiros e não ganhamos nada. As medalhas foram entregues para o sr. Damiani (Estevão Damiani Neto era diretor do Coritiba em 1985. Faleceu em 2017). Ficamos naquela euforia de ganhar o título no Maracanã e eles, da CBF, nem palanque fizeram lá. Voltamos para Curitiba, celebramos o título com os torcedores do Coritiba, uma noite inesquecível. Depois de alguns dias do título, eu fui cobrar o Evangelino (Evangelino Costa Neves era presidente do Coritiba em 1985. Faleceu em 2008) pelas medalhas. Ele me disse que fariam um jantar de comemoração e nos entregariam as medalhas… estou esperando até hoje.
A falta de reconhecimento e retorno aos atletas decepcionou e desiludiu Rafael, que guarda mágoa até hoje. A esperança e o carinho pelo clube fez, inclusive, com que o goleiro recusasse uma chance de ouro de atuar em um grande clube do futebol europeu.
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“Não pagaram nada da nossa premiação. Eles mandavam embora quem reclamava e cobrava. Tive a possibilidade de ir pro Porto, de Portugal, e não fui. Quis ficar no Coritiba e, honestamente, me arrependo. Não pelos torcedores, mas sim pelo clube e pelos dirigentes que tínhamos na época”, finalizou.
“Você a coloca no pescoço e ela cai. É enferrujada”, herói da semifinal admite curiosidade em ter medalha original
Titular na disputa da grande decisão contra o Bangu, o ex-zagueiro Heraldo também faz coro ao companheiro. Autor do gol da vitória sobre o Atlético-MG por 1×0 na partida de ida da semifinal, ele admite curiosidade em saber como era o prêmio aos campeões daquele ano.
Realmente não recebemos a medalha, simbolicamente. Elas foram entregues no Maracanã no oba-oba do título, após o jogo e não nos entregaram pessoalmente. Ficaram de nos entregar em um jantar em Curitiba. Porém, o que nos deram foi uma medalha da Federação Paranaense de Futebol, na época presidida pelo Onaireves Moura (ex-presidente da FPF, foi preso em 2022 acusado de corrupção). É uma medalha que você coloca no pescoço e ela cai, enferruja… eu tenho essa medalha. Porém, não é a legitima de campeão brasileiro. Na época, eu não me importei muito. Mas hoje, eu admito que gostaria de ter a minha medalha.

Além disso, Heraldo admite tristeza ao entender e lembrar que as promessas feitas pela diretoria do Coxa pela conquista não foram cumpridas. Dentre elas, o valor da premiação pela taça o que, na visão do ex-jogador, reforça a tese de que os campeões não receberam a valorização merecida pelo título.
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“Naquele oba-oba, não nos preocupávamos com medalha e com outras coisas que foram prometidas pra gente. A premiação também… prometeram uma coisa e deram outra, até de forma pífia. Pelo que soube era menos do que a metade que o Bangu estava oferecendo pros jogadores deles. Foi ridículo. Além de termos dado o maior título da história do Coritiba, feito o time ser considerado grande, também fomos enganados em todos os sentidos. Não recebemos premiação adequada, recebemos uma medalha falsa… essa é a consideração que tem por nós… nenhuma, no caso”.
“Medalha é símbolo de orgulho, mas não apaga nosso legado”: mesmo sem material, ex-jogadores do Coritiba não escondem satisfação pelo título
Participantes daquela conquista, o ex-lateral André e o ex-atacante Édson não escondem a frustração pela falta de medalhas. André, que foi um dos atletas que mais atuaram na campanha, afirma que o título de campeão brasileiro de 1985 é a maior taça conquistada pelo Alviverde e que não há “campeões invisíveis”.
A medalha seria um reconhecimento. Medalha é símbolo de orgulho, não apenas para mim, mas para todos que participaram daquela conquista linda, épica. Ela seria a lembrança do esforço e dedicação de todos. Não existe um campeão invisível. Quem ganha um título brasileiro deveria receber um reconhecimento diário. Dedicação e esforço de todos foi ter conquistado aquele título. Deixamos um legado lindo na história desse time. Aquela conquista do Coritiba é a maior conquista da história do clube. Todo mundo sabe disso. A conquista é linda e a causa dela são os jogadores. Todos merecem ser parabenizados.
Opinião semelhante tem Édson, escalado pelo eterno técnico Ênio Andrade como titular naquela decisão contra o Bangu. Atualmente trabalhando como treinador, ele admite chateação com o que ocorreu no Maracanã, mas que nada é capaz de apagar o brilho pela conquista do título.
Antigamente não tínhamos muitos direitos. Quem falava ou contestava era considerado indisciplinado! Chato, né, que um clube com a grandeza do Coritiba tenha seus dirigentes pensado tão pequeno. Hoje também já pensaram em renovar o escudo e tirar a estrela que com tanto sacrifício conquistamos. Vida que segue! Isso não mexe em nada na nossa grandiosa conquista, tão grande que já se passaram 40 anos e o Coritiba não conquistou mais nenhuma estrela!

Campanha do título do Coritiba passou por grupos e semifinal histórica antes da decisão
O Campeonato Brasileiro de 1985 foi composto por 44 clubes, que se dividiram em grupos na primeira fase. Classificado no Grupo A, o Coxa avançou para a fase final e passou por um grupo que tinha Corinthians, Sport e Joinville. Nas semifinais, o Coritiba começava a ganhar status de sério candidato ao título. Isso porque desafiava o Atlético-MG enquanto que, na outra semifinal, o Bangu enfrentaria o Brasil de Pelotas-RS, a grande zebra do torneio.
Contra o Galo, o Alviverde teve duas atuações históricas. A primeira delas, no Couto Pereira, com uma vitória suada por 1×0, graças a gol de Heraldo. Depois, o empate em 0x0 no Mineirão levou o time de Ênio Andrade para a grande decisão em jogo único contra o Bangu.
O Maracanã recebeu pouco mais de 91 mil pessoas, a maioria apoiando o alvirrubro. Todavia, quem fez a festa foi o Coritiba. O time paranaense abriu o placar num golaço de falta de Índio. Todavia, tomou o empate do time carioca, em gol anotado por Lulinha.
A igualdade persistiu até o fim e o torneio foi decidido em cobranças de pênalti, que saíram da noite de 31 de julho até a madrugada de 1° de agosto. Após empate em 5×5, Ado, atleta do Bangu, desperdiçou a cobrança com um chute rente a trave de Rafael. Na cobrança seguinte, Gomes fechou o placar em 6×5 e cravou o título para o Coritiba.

No total, em 29 jogos, o Coritiba venceu doze, perdeu dez e empatou outros sete. Índio, com nove gols, foi o artilheiro do time naquela edição do Brasileirão.
Elenco campeão brasileiro pelo Coritiba em 1985:
Goleiros: Rafael, Jairo e Gerson
Laterais: André, Dida, Hélcio e Zé Carlos
Zagueiros: Heraldo, Gomes, Caxias, Gardel e Vavá
Meias: Almir, Marildo, Aragonez, Marco Aurélio, Paulinho e Tóbi
Atacantes: Édson, Eliseu, Gil, Lela, Índio e Vicente
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