Curitiba - Após o presidente do Athletico, Mário Celso Petraglia, ofender a torcida rubro-negra mostrando os dedos do meio, o vice-presidente do clube, José Lúcio Glomb, e o membro do Conselho Deliberativo da entidade, Henrique Gaed, renunciaram aos cargos. Os dois conversaram com o portal RIC e explicaram os motivos da decidão.

Segundo Gaede, a “convicção do Presidente é tão grande que ele mesmo não dá espaço para que pequenas mudanças possam ser implementadas e que algumas coisas possam ser revistas”. Já Glomb afirmou que ingressou no Athletico “com todo o entusiasmo”, mas viu “desmoronar toda aquela meta inicial. Foi terrível.“
Confira a entrevista completa de José Lúcio Glomb, ex vice- presidente do Athletico
Lembro-me da sua declaração no começo do ano passado, quando afirmou que estava no projeto para ser campeão brasileiro. O que mudou desde então?
“Ao receber o convite do Presidente Petraglia para ser candidato a vice-presidente, lembro que eu disse a ele que aceitava, mas desejava luta para ser campeão de algumas das competições do ano.
Não foi promessa dele, mas sim um objetivo que reafirmei quando tomamos posse. Penso que devemos sempre competir para ganhar, ainda que não ganhemos. Da forma como isto foi divulgado, soou como uma promessa, mas não foi isso.
Bem, feita essa colocação, digo que o resultado obtido foi exatamente o oposto do que o nosso objetivo. Com o passar do campeonato o nosso objetivo foi mudando e ao final houve a luta contra o rebaixamento. Então eu, que ingressei com todo o entusiasmo, vi desmoronar toda aquela meta inicial. Foi terrível.”
O que houve no ano passado que resultou no rebaixamento da equipe na sua opinião?
“As contratações iniciais não tiveram o resultado esperado. Lembro que as contratações foram realizadas dentro de critérios técnicos apontados pelas áreas competentes.
Depois, enfrentamos dificuldades com os técnicos, pois começamos com Juan Carlos Osório, que era bastante criativo e foi substituído por Cuca. Estávamos jogando bem como o Cuca, mas com a maldição de perder pontos nos minutos finais do jogo.
Até que, em um momento específico, a torcida começou a vaiar o treinador, que pediu para sair. Nós aceitamos o Cuca com todas as suas dificuldades pessoais e era a oportunidade para ele voltar ao futebol. Ele agiu precipitadamente, sem calma, além de solicitar reforços caros, fora do nosso alcance.
Recordo que o presidente Petraglia sempre defendeu a contratação, mas sempre com cautela. Isso também gerou um ambiente negativo na equipe, que nunca mais nos abandonou.
Na saída de Cuca, penso que o clube poderia tê-lo convidado para um diálogo no dia seguinte ao jogo em que ele pediu demissão, com o objetivo de tentar resolver a situação. Porém, no momento, sob a pressão dos acontecimentos, isso não aconteceu.
Perdemos um excelente treinador, primeiro o Varini, depois o Lucho e o resultado foi um desastre. É uma pena, pois o Lucho possui uma trajetória no CAP, mas isso por si só não é suficiente. Paulo Autuori também não conseguiu lidar com a situação, contrariando as expectativas.”
Quando a equipe passou a ter dificuldades no Campeonato Brasileiro, você chegou a conversar com o presidente sobre a necessidade de reforços?
“Então surgem as demandas por reforços para posições específicas, como um defensor, pelo menos dois meio campistas, sendo um segundo volante e um atacante. Pessoas que chegasse para se jogar.
Em vez disso, perdemos jogadores cruciais, como o Cacá, defensor, e o Alex Santana, por exemplo, que fizeram muita falta para nós. Em diversas ocasiões, alertei sobre as necessidades e a preocupação com o time, porém as contratações necessárias não foram feitas. Inclusive, a cada dia, percebia mais o final do gráfico do que o início. Foi o que aconteceu.
O nosso presidente, com uma extensa e notável trajetória em prol do Athletico, enfrentou um grave problema de saúde. No entanto, ao longo de todo o período, mesmo com seu próprio prejuízo, ele assumiu a gestão e as contratações. Saliento que ele próprio demonstrava preocupação com a situação.
No entanto, depositava confiança no pessoal do futebol, que falhou. Os outros diretores poderiam ter assumido um papel mais significativo, mas isso não foi possível. Penso que isso também teve um papel na nossa queda.”
“Recordo de ter falado em reforços muito antes da equipe passar a ter dificuldades na tabela. Inclusive adverti que se porventura o Fernandinho tivesse algum problema, não teríamos quem o substituísse. Daí que deveríamos contratar alguém qualificado para esse setor também.”
O Athletico realmente não tentou negociar com Fernandinho?
“Quanto ao Fernandinho, não me foi dado conhecimento dos detalhalhes da conversa.”
Qual era o clima do clube após o rebaixamento da equipe?
“Não há clima bom com o rebaixamento de uma equipe. Houve transferências de atletas, os que saíram e os que vieram, cujas negociações foram feitas exclusivamente pelo presidente e o Departamento de Futebol, como usual, considerando a viabilidade financeira para essa nova campanha, que importa em menos arrecadação.”
O que te motivou a deixar o projeto? Além, é claro, do incidente no último jogo?
“A minha saída teve como a gota da água essa situação última. Entendo que o futebol fica chato com xingamentos de toda ordem. Assistir o futebol deveria gerar uma lição de ética, de boa educação, pois lá estão famílias, pais, filhos, crianças. Mas essa não é a realidade, lamentavelmente. Aos dirigentes cabe demonstrar a serenidade necessária, mesmo que ofendido.
Aliás, quando alguém é ofendido dessa forma, o silêncio é a melhor resposta. Posso até entender a indignação do presidente, que dedicou sua vida ao clube, é o responsável por todo o crescimentodo Athletico , colocando-o entre os grandes Clubes da América do Sul e que ainda assim é xingado, mas a sua reação não poderia ser a que adotou.”
A torcida do Athletico quer saber se, no futuro, poderemos ter uma nova chapa, que pode incluir até mesmo o Gaede?
“Não posso responder pelo Gaede, mas de minha parte posso dizer que não tenho a pretensão de participar de outra chapa. Me integrei à Diretoria, no objetivo de colaborar, de ajudar o CAP e o fiz na medida que isto me foi possível. Vejo como um trabalho muito difícil, que é um trabalho benemérito, gratuito, que só é reconhecido quando o time ganha. Quando perde, é só críticas. Não descarto colaborar, mas não necessariamente como dirigente.”
Confira a entrevista completa de Henrique Gaede
Qual foi a sua expectativa quando foi convidado ao cargo na última eleição?
“Vou iniciar pelo início. O Presidente Mário Celso Petraglia não me causou nenhum dano pessoal, ao invés disso, penso que ele foi o maior nome do Athetico até agora e é improvável que haja alguém que possa realizar a transformação que ele realizou.
Isso não implica que eu concorde com todas as suas ideias, apenas indica que compreendo a sua ideia principal, que é a de um projeto estruturado e de longo prazo para um clube de futebol, com uma administração mais centralizada.
Estamos avançando rapidamente para isso. O Athletico é uma referência na administração. No entanto, acredito que sempre cometemos falhas em pequenos detalhes. Não faz sentido a razão não ceder à paixão quando se trata de paixão e de futebol.
A convicção do presidente é tão forte que ele mesmo não permite que mudanças mínimas possam ser realizadas e que certas questões possam ser reconsideradas.
O projeto precisa de momentos de atenção para poder cumprir seu propósito principal: a sua torcida.
Isso comprova o que eu já disse: o Athletico adoeceu juntamente com Petraglia. Afirmo isso devido à ausência de liderança. Na sua falta, o Athletico ficou sem alguém que pudesse desempenhar seu papel devido a essa dependência excessiva. O Athletico orfão.
Aí que entraria a minha ida para o clube e minhas expectativas quando da formação daquele novo conselho de administração. Poder ajudar de forma mais efetiva em momentos em que o presidente necessitasse. Um conselho de nomes fortes, pessoas sérias, de moral ilibada e dispostas a ajudar daria esse conforto e segurança para ele.
Portanto, o cenário já estava montado. Uma equipe ideal para auxiliar no processo de transição, ajudando o presidente Mário a alocar as funções de acordo com cada competência e aprendendo com toda a sua experiência.
Contudo, não foi isso que aconteceu e acabou me causando frustração. Identifiquei que poderia ter contribuído mais. Possuo capacidade para isso.
No entanto, logo compreendi que a maneira como o “sistema” opera e como sempre foi, as alterações viriam com o passar do tempo.
Depois de cair para a segunda divisão, pensei que esse processo de transformação se intensificaria e que seríamos convocados para o processo de reformulação. Mais uma vez, isso não aconteceu. Repito: não estou afirmando que está correto ou incorreto. Trata-se do sistema presidencialista e com processo de decisão centralizado.”
Qual era o pensamento do clube após o rebaixamento?
“Quando estamos na primeira divisão, pensar em segunda divisão é um verdadeiro pesadelo. Na segunda-feira, o desafio é outro: arregaçar as mangas e trabalhar. Retornaríamos ao trabalho com uma nova perspectiva, encerrando aquele triste capítulo.
O projeto estava em andamento, o pacto, questionado por aqueles que não compreenderam, seguiria adiante.
A queda começava a se tornar um fato do passado. O atleticanismo estava retomando suas grandes conquistas. Públicos agradáveis. Conciliação. Os torcedores compreendendo seu papel. O time está passando por uma reformulação.
Uma pausa aqui, tenho muita fé no atual plano do futebol. É preciso ter paciência. A reformulação foi e continua sendo extensa, porém agora sem a presença do Autuori. Ufa.
O torneio é diferente. As pessoas que estão a caminho estão conscientes de suas obrigações.”
O fato do último jogo, foi motivo determinante para a renúncia?
“Ao abordar esse assunto, meu coração de torcedor do Athletico não conseguiu resistir à cena que todos sabem. É normal cair para a segunda divisão no futebol, assim como errar em contratações, ganhar ou perder partidas. Contudo, há aspectos que são irredutíveis. Não desejo causar polêmica.”
“Para isso e para ajudar o clube num processo de reformulação e num necessário repensar, resolvi sair. Nada de caso pensado. Nada pensando em estratégia futura. Nada disso. Não poderia defender uma atitude como aquela. Tinham famílias lá. Pessoas que amam o clube.
Seria essa a minha missão caso eu estivesse no grupo. De defender o indefensável. Por isso resolvi sair. Se foi a gota d’Água ? Não sei.
Se teve algum viés político? Absolutamente não.
Se isso diminui minha confiança em fulano ou sicrano, também não.
Se fui influenciado por alguém? Também não, exceto pelo meu coração. No mais, página virada. Um sonho a mais que se frustrou. Mais uma experiência vivida que confirma aquilo que já havia aprendido: as pessoas são como elas são e não como a gente gostaria que elas fossem.”
Teremos Henrique Gaede com uma chapa futura para concorrer a presidência do Athletico?
“Sigo minha vida de forma mais tranquila, mas com o Atlhetico fazendo parte indissociável dela. Por fim, para acabar com qualquer especulação, nunca serei oposição ao Athetico. Seria um contrassenso.
Torço para que a atual gestão encontre seu caminho e que as pessoas que venham a compor o novo conselho de administração tenham o mesmo carinho, o mesmo respeito e a mesma vontade de ajudar o clube que eu tive, para que em 2026 retomemos o projeto de onde infelizmente paramos depois de vivermos esse hiato de 2025.”
Quer receber notícias no seu celular? Entre no canal do Whats do RIC.COM.BR. Clique aqui!