Curitiba - “Tenho muita coisa pra te falar, mas não estou autorizado”. A frase é de um dos árbitros do quadro da Federação Paranaense de Futebol (FPF), procurados pela reportagem da RIC, com parceria com as rádios Jovem Pan News Curitiba e Banda B para comentar sobre as polêmicas de arbitragem que em 2025 ganharam os holofotes, nacionalmente e também no estado do Paraná.

Árbitros paranaenses passam por treinamento na FPF
Árbitros paranaenses passam por treinamento na FPF (Foto: Thaís Magalhães/ CBF)

Nos últimos dias, a reveladora matéria da revista Piauí sobre bastidores da gestão de Ednaldo Rodrigues, presidente da CBF, caiu como uma bomba dentro do noticiário esportivo. Em texto assinado pelo jornalista Allan de Abreu, são revelados casos passíveis de investigação de autoridades públicas. Dentre eles, estão a cessão de ingressos para autoridades, bem como gastos exorbitantes de familiares de dirigentes para necessidades pessoais, listados em contas corporativas da CBF. Todavia, os árbitros também entraram na narrativa.

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A revelação de suposta falta de investimento feito na categoria da arbitragem chamou a atenção no conteúdo. O jornalista alega que muitos dos treinamentos que eram feitos nos últimos anos foram cortados recentemente, sendo substituídos por videoconferências, uma maneira “fria” de se instruir o profissional.

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Coincidência ou não, o início da Série A do Campeonato Brasileiro de 2025 já é marcado por polêmicas de arbitragem. Equipes que trabalharam em duas partidas da segunda rodada, por exemplo, foram afastadas.

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Com a categoria mais uma vez em xeque, a reportagem buscou informações sobre a atual condição da arbitragem dentro do estado do Paraná, que sofreu com erros absurdos e muita polêmica no Estadual. E quem está no dia a dia da profissão, optou por não se manifestar.

Procurados, árbitros preferem silêncio

Entre novatos e experientes, os profissionais preferiram não divulgar informações sobre a maneira com que a Federação Paranaense de Futebol lidava e investia na categoria. A reportagem também contactou Anderson Carlos Gonçalves, ex-árbitro e atual presidente da Comissão de Arbitragem da FPF. Porém, também preferiu manter o silêncio e não comentar o conteúdo.

A reportagem apurou que, além da não autorização em conceder entrevistas sobre o tema, ainda que no caráter de anonimato, o medo de sofrer represálias e perseguições, bem como a chance de perder oportunidades.

Como a FPF prepara o árbitro para a realização de um jogo?

A RIC procurou a Federação Paranaense de Futebol para se manifestar com relação à atuação da arbitragem durante a disputa da primeira divisão do Estadual. O presidente Hélio Cury Filho atendeu a reportagem e detalhou como a entidade busca atingir a qualificação dos profissionais visando a disputa das competições.

A Federação realiza reuniões pré-jogo, onde os árbitros e a Comissão de Arbitragem trocam as informações necessárias para que o árbitro tenha conhecimento do jogo. Após cada partida, existe um novo encontro desses árbitros com o analista ou o inspetor, recortando os principais lances deste jogo para análise. Assim, é possível demonstrar os acertos e os erros, seja de posicionamento ou de interpretação da regra, para que eles depois possam refletir e melhorar no jogo seguinte”, afirmou o dirigente.

Árbitros fazem trabalho seguro, mas não fogem de polêmicas e pressão

Durante a realização da primeira divisão do Campeonato Paranaense de 2025, a Federação Paranaense de Futebol escalou 21 árbitros, que se revezaram para comandar as 80 partidas da competição. O mais acionado para apitar partidas foi Lucas Paulo Torezin, de 42 anos. Árbitro da categoria AB e aspirante à categoria FIFA, ele comandou oito jogos no torneio desta temporada. Logo atrás, aparecem os experientes Robson Babinski e Rodolpho Toski Marques, com sete jogos apitados. André Felipe Olivério, Alter José Ragadali e Leandro Beuren apitaram apenas um jogo no torneio.

Lucas Paulo Torezin foi o árbitro que mais apitou jogos no Campeonato Paranaense de 2025. (Foto: Divulgação/Redes Sociais)

Inseridos nesta categoria, os nomes de Murilo Ugolini Klein e de André Ricardo Martins estiveram em alta durante o Campeonato Paranaense por motivos nem tão positivos. Klein, por exemplo, foi o árbitro da partida entre Paraná Clube x Operário, na segunda rodada da competição. O profissional comandava o jogo de forma tranquila quando marcou um polêmico pênalti para o Fantasma nos acréscimos do segundo tempo.

O gol de empate, portanto, irritou demais jogadores e membros da comissão técnica do Paraná, que acusaram Klein de “roubo”. Em súmula, o árbitro expulsou cinco atletas do clube e relatou uma ameaça de morte feita pelo jovem atacante Gustavo Sagui.  

Klein, de 38 anos, possui longo histórico de atuação em jogos de futebol. Mesmo com a polêmica, a FPF o escalou para apitar mais dois jogos no torneio: Andraus x Maringá e São Joseense x Londrina, finalizando, a competição com três partidas sob seu comando.

Caso bizarro determinou fim de atuação de árbitro no Campeonato Paranaense; FPF considerou erro grave

Se a decisão de Klein em marcar o pênalti para o Operário foi discutível, o mesmo não se pode dizer de outro caso marcante que aconteceu durante o torneio. A partida entre Paraná Clube x FC Cascavel, válida pela sexta rodada do Campeonato Paranaense, ficou marcada pelas seis substituições realizadas pelo Tricolor da Vila. Na ocasião, a entrada do atacante Joesley se configurou como erro grave, visto que o time paranista já havia feito cinco trocas e sequer tinha direito a uma extra (aberta quando há a realização de um protocolo de concussão cerebral).

Seis alterações em jogo do Paraná Clube
FPF afastou equipe de arbitragem que permitiu sexta alteração do Paraná em jogo contra o Cascavel (Foto: Reprodução/NSports)

A FPF demorou a homologar o resultado de 0x0 da partida, visto a chance de haver uma ação judicial que obrigasse a remarcação do confronto. Diante de tamanha polêmica e confusão, a Federação Paranaense de Futebol afastou, por tempo indeterminado, o árbitro André Ricardo Martins e demais integrantes da equipe de arbitragem que participaram do jogo. André, inclusive, não teve mais chances de apitar nenhuma partida no torneio. O presidente Hélio Cury Filho explicou como a FPF busca auxiliar os profissionais neste caso. 

A Federação utiliza o sistema PADA, que é o Programa de Auxílio ao Desenvolvimento da Arbitragem. Estes árbitros são afastados temporariamente das competições, passam por novos cursos ou jornadas de aperfeiçoamento, tanto na parte teórica como na parte técnica, principalmente revendo os equívocos que foram cometidos e revisando para que eles não aconteçam mais, e para que entendam como deveriam ter se portado para evitar aquele equívoco”, explicou ele.

“Na primeira divisão, a arbitragem foi boa”, defende presidente da FPF

Mesmo com o caso, além de outras falhas, como as que ocorreram em Operário x Londrina, com um jogador sofrendo fratura em lance sem falta marcada, ou mão na bola em São Joseense x Paraná Clube, em que nada foi assinalado, o presidente Hélio Cury Filho celebrou o trabalho e o desempenho das equipes de arbitragem durante a realização da primeira divisão do Campeonato Paranaense. O mandatário lembrou, inclusive, da importância da execução de uma intertemporada entre os jogos das quartas-de-final da competição. Fora o confronto entre Londrina x Cianorte, o torneio passou por um período de “descanso” que durou duas semanas.

A gente avalia como boa a arbitragem do Paranaense deste ano, principalmente a partir da segunda fase. Entre a primeira e segunda fase foi feita uma intertemporada, selecionando os melhores árbitros e fazendo exatamente os ajustes necessários para a continuação do campeonato. Inclusive, nessa intertemporada, alguns árbitros que ainda não tinham contato com o sistema VAR foram devidamente treinados e capacitados para isso”, afirmou.

Hélio Cury Filho, presidente da FPF, elogiou a arbitragem que trabalhou no Campeonato Paranaense de 2025. (Foto: Divulgação/FPF)

O VAR citado pelo presidente foi novidade no Campeonato Paranaense justamente a partir das quartas de final. Não houve a utilização deste recurso nas 66 partidas da primeira fase. No mata-mata, o experiente Adriano Milczvski, de 49 anos, foi o que mais comandou a arbitragem de vídeo: seis jogos ao todo. José Mendonça da Silva Júnior comandou o VAR em quatro oportunidades. Paulo Roberto Alves Júnior e Rodolpho Toski Marques, com duas atuações cada, fecham a somatória.

FPF garante investimento independente da CBF

Hélio Cury Filho afirmou que a maioria dos investimentos feitos pela FPF era “independente” dos realizados pela CBF. Portanto, entende-se que a maior parte dar verbas é oriunda da própria Federação Paranaense de Futebol.

“Os investimentos da Federação, em sua grande maioria, são independentes. A CBF tem alguns investimentos no aperfeiçoamento dos árbitros e nós temos o nosso cronograma com os nossos investimentos, com verbas próprias da Federação. Existem alguns cursos em que o investimento é conjunto, mas há uma grande independência entre a formação dos árbitros da Federação e o acompanhamento da arbitragem pela CBF”, concluiu.

Porém, ainda que questionada, a entidade preferiu não revelar o valor que depositava nas práticas.

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