Vencedor de 13 títulos e terceiro estrangeiro com maior número de gols no Campeonato Alemão pelo Bayern de Munique, o londrinense Élber Giovane de Souza, o Élber, foi foi um dos grandes destaques da vitoriosa campanha do time alemão na Liga dos Campeões da UEFA, em 2001.
Em entrevista exclusiva para o RIC Mais, Élber relembrou a trajetória do Bayern até a decisão contra o Valencia da Espanha, em Milão, na Itália. Os bávaros estavam há 25 anos sem vencer a Liga dos Campeões e vinham de uma derrota histórica para o Manchester United da Inglaterra (1999), dois anos antes.

“Eu estava machucado naquela final contra o Manchester United. Faltavam dois minutos para acabar o jogo, quando o presidente da UEFA nos convidou para descer e receber a taça. Quando chegamos no gramado já estava 2 a 1 para eles. Depois daquela decisão, nós trabalhamos bastante e nos unimos para vencermos em 2001”, relembra o atacante.
A campanha daquela edição da Champions League foi bem complicada. Foram duas fases de grupo, onde o Bayern de Munique liderou ambas. No caminho, adversários como os franceses Paris Saint-Germain e Lyon, além do tradicional Arsenal da Inglaterra foram deixados para trás pelos bávaros.
“Nosso time não era o favorito. Tinha o Real Madrid, que começava a era ‘galáctica ́, o United também tinha um timaço. Com nossa filosofia alemã de futebol e muito profissionalismo, conseguimos chegar até as finais de novo”, conta.
De acordo com Élber, a união dos jogadores e a gestão do técnico Ottmar Hitzfeld foram fundamentais para o time suportar a pressão e o excesso de jogos da temporada.
“O treinador era muito gente boa! Tratava todos como iguais, até mesmo quando tinha que cobrar jogadores como Oliver Kahn. Ele começou com a rotação dos jogadores. Eu não queria ficar de fora não, mas tinha que aceitar, né?”, brinca o londrinense.
Reencontro com o rival
Na primeira frase de mata-mata em 2001, o destino reservou um acerto de contas entre o Bayern de Munique e Manchester United, algoz dos alemães na final de 1999.
“A culpa não foi deles terem nos tirado o título. Foram erros nossos que nos custaram aquela taça. Tivemos chances para marcar gols e não fizemos. Nós sabíamos que tínhamos condições de vencê-los dessa vez. Bastava jogar o futebol que nós estávamos acostumados”, revela.
O primeiro jogo foi em Old Trafford, casa do United. Para Élber aquele jogo foi especial para ele. Os alemães venceram por 1 a 0, dentro do ´Teatro dos Sonhos´, com gol de outro brasileiro do elenco, Paulo Sérgio.
“É o sonho de todo jogador poder jogar lá em Old Trafford. A torcida deles é apaixonada! Chega a arrepiar só de ver eles cantando para o time”
O jogo de volta, em Munique, também foi vencido pelo Bayern por 2 a 1, com um gol de Élber e vaga garantida para as semifinais.
Entre as quartas de final contra o United e a semifinal diante do Real Madrid, Giovane Élber passou por uma cirurgia no joelho que quase o tirou do confronto com os espanhóis e precisou insistir para o técnico Ottmar Hitzfeld colocá-lo no jogo, onde acabou sendo decisivo para a classificação bávara até a final.
“Eu senti uma dor antes do confronto em casa contra o Manchester. Depois do jogo eu fui para Berlim e me falaram que teria que passar por uma cirurgia. Logo após a operação, já comecei a recuperação, pois faltavam 10 dias para o jogo contra o Madrid. No vestiário do Santiago Bernabéu eu estava com os pontos no joelho e pedi para o médico tirar para eu jogar”, lembra o artilheiro.
De fora da final de 1999, Élber conta que a motivação para jogar, mesmo sem aval do médico, era chegar a outra decisão O brasileiro elegeu os espanhóis como o adversário mais difícil que enfrentou com a camisa bávara.
“Nós nos encontramos muitas vezes naquele período, inclusive na edição anterior, quando eles nos tiraram na semifinal. O ambiente do Bernabéu é diferente. Até o vestiário deles é perfumado! (Risos). É o tipo de jogo que não dá ficar fora”
A teimosia deu certo!
Giovane Élber convenceu os médicos e o técnico de que estava pronto para enfrentar o Madrid. Aquela foi a eliminatória dele. Marcou gol nos dois jogos diante do Real. O Bayern venceu os dois jogos, 1 a 0 no Santiago Bernabéu e no estádio Olímpico de Munique por 2 a 1 e levou seu time a mais uma decisão de Liga dos Campeões.
“Quando marquei o gol na Espanha, comemorei beijando meu joelho e brinquei com médicos, dizendo que estava realmente pronto para jogar”, brinca
Segundo Élber, durante sua trajetória ele sempre gostou de enfrentar times espanhóis. “Deixava nosso time jogar”, revela.

(Foto: reprodução / site oficial do Bayern)
Título dramático na Alemanha
Quis o destino que adversário da final da Champions League fosse o Valencia, outro time espanhol. Mas antes de encarar a decisão de Milão, o Bayern de Munique enfrentou naquele ano uma das mais apertadas edições da Bundesliga, como é conhecido o Campeonato Alemão.
O título foi decidido na última rodada. Os bávaros empatavam sem gols com o Hamburgo, fora de casa. Enquanto isso, o Shalke 04, concorrente ao título daquele ano, vencia seu jogo diante do Unterhaching por 5 a 3. Os resultados deixavam o time de Munique com a taça, mas aos 45 minutos do segundo tempo, o Hamburgo abriu o placar.
“Eu fui substituído quando ainda estava zero a zero. Quando o Hamburgo fez o gol, eu não acreditei. Não era possível que perderíamos outro título nos acréscimos” descreve
A emoção não parou por aí. Aos 49 minutos do segundo tempo, o árbitro deu um recuo intencional do zagueiro do Hamburgo e marcou um tiro livre indireto para o Bayern. O artilheiro daquela geração lembra da escolha do batedor, onde até o goleiro Oliver Kahn foi para área tentar marcar o gol.
“O Kahn foi correndo para área. O pessoal do time empurrou ele e diziam ‘sai daqui que você vai acabar fazendo falta`. Aí o Andersson, que eu nunca vi cobrar falta, acertou aquele belo chute e conseguimos empatar e ficar com o título”
Élber terminou o Campeonato Alemão com 15 gols, sendo o principal artilheiro do torneio em 2001. Foi o terceiro título consecutivo do Bayern, que chegava com moral na decisão da Liga dos Campeões.
Drama e goleiro herói

(Foto: Bayern de Munique)
O estádio San Siro, em Milão, estava lotado com 79 mil pessoas no dia 23 de maio de 20001 para a final da Liga dos Campeões da Uefa entre Valencia e Bayern de Munique. Apesar de já ter assegurado o título alemão na temporada, a pressão pelo quarto título da Champions League e a quebra do jejum de 25 anos desde a última taça era enorme para os jogadores.
“O pensamento no vestiário era de foco total. Já tínhamos garantido o título nacional, só falta o último objetivo. Nós trabalhamos muito para chegar naquela final”
Assim como toda a temporada, a final também teve tom dramático. A tensão tomava conta dos dois lados, já que o Valencia havia perdido a decisão do ano anterior para o Real Madrid, por 3 a 0.
“O time deles era muito bom e bem montado. Eles tinham perdido no ano anterior e conseguiram chegar a outra final, que não é fácil quando se fala da Copa dos Campeões”, recorda.
Apesar da mentalidade forte que é característica do futebol alemão, o Bayern precisou de resiliência para vencer os espanhóis, que abriram o placar logo aos três minutos de jogo, com Mendieta cobrando pênalti. O drama alemão só aumentou quando Scholl perdeu a chance do empate para o Bayern, desperdiçando o pênalti, que foi defendido pelo goleiro Cañizares do Valencia.
“No intervalo, apesar do resultado adverso, o sentimento era de confiança. Nós acreditamos o tempo todo, nem que fosse um empate, mas não sairíamos derrotados”
No segundo tempo, logo aos cinco minutos, a sorte dos alemães mudava. O árbitro marcou outro pênalti para o Bayern, depois que Carboni colocou a mão na bola dentro da área. Effenberg cobrou e empatou o jogo. Depois do gol, a confiança bávara cresceu e o time seguiu pressionando o Valencia até o final do tempo normal e por toda prorrogação. A decisão então ficou para os pênaltis.
“O Paulo Sérgio mandou a bola lá na catedral de Milão (risos). Isso porque ele entrou só para bater um pênalti. Foi estranho, pois o Paulo era muito seguro na cobrança. Depois tivemos a sorte do Kahn estar num dia inspirado”, brinca

Nas cobranças seguintes, os batedores converteram suas cobranças, até que Oliver Kahn defendeu a cobrança de Zahovic. Na batida seguinte, o zagueiro Andersson desperdiçou a cobrança, aumentando o drama alemão. Mas o alívio veio em seguida. Carboni chutou na trave e Effenberg marcou e levou a cobrança para as alternadas.
Lizarazu (Bayern) e Kily González (Valencia) converteram suas cobranças. Até que Pellegrino chutou para defesa do goleiro Kahn e enfim acabou com a angústia bávara. Era o quarto título do Bayern de Munique da Champions League.
“Nós ficamos tão felizes, que até esquecemos dos pênaltis errados. Foi só festa, nem lembramos de brincar com o Paulo”, comenta.
Para Élber, a grande lição daquele título foi de “nunca desanimar”. Para o atacante, a experiência vivida no futebol serviu para toda vida.
“Dentro do campo você sabe que o jogo dura 90 minutos. O importante é acreditar até o final. Se o adversário foi melhor e mereceu, tudo bem. O time só não pode desanimar e desistir antes do apito final”
Para a final da Liga dos Campeões de 2022, entre Liverpool e Real Madrid, o londrinense acredita que a mentalidade e a camisa do Madrid farão a diferença na decisão.
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“As coisas para o Real Madrid estão dando muito certo. Eu mesmo pensei que eles não chegariam, mas chegaram. Quando chega no momento decisivo, eles viram a chave, se transformando em gigantes”, aposta.
Autor de 193 gols e 57 assistências com a camisa do Bayern de Munique, Élber está atrás apenas de Robert Lewandowski e Cláudio Pizarro, na lista dos maiores artilheiros estrangeiros do clube. O brasileiro não ficou em cima do muro e deu sua opinião sobre quem escolheria como centroavante do Bayern se fosse o técnico do time.
“Ah, o Lewa é o cara. São tempos diferentes, mas ele é muito profissional e a cada ano marca mais gols. Como eu além de marcar gols dava muitas assistências, acho que nós dois formaríamos uma bela dupla de ataque”, finaliza.

(Foto: Alexander Hassenstein/Bongarts/Getty Images)
Final de 2022
A final da Champions League de 2022 será em Paris, na França, no sábado (28), entre Real Madrid e Liverpool. Os espanhóis buscam seu 14º título da principal competição de clube do mundo. Já os ingleses, conquistaram seis vezes da Liga dos Campeões e tentam o heptacampeonato na capital francesa.