Cada vez mais mulheres jovens no Paraná têm buscado a cirurgia bariátrica como forma de transformar a saúde, autoestima e qualidade de vida. Dados da Secretaria de Estado da Saúde do Paraná (Sesa-PR) revelam um crescimento expressivo no procedimento realizado em mulheres da faixa etária entre 25 e 34 anos. Em 2020, foram 422 cirurgias. Já em 2024, esse número subiu para 641, um aumento de mais de 50% em quatro anos.
Além disso, o número de mulheres que fizeram a bariátrica é expressivamente maior que o dos homens. Ao todo, desde 2020 até 2024, 6.563 mulheres fizeram o procedimento, enquanto os homens totalizaram 1.024.

O cirurgião bariátrico e diretor de tecnologia e inovações da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM), Caetano Marchesini explica que esse aumento reflete um problema que se formou anos atrás: “Há 10 anos, essas pacientes tinham cerca de 15 anos. Agora elas são adultas e enfrentam as consequências de anos de sobrepeso”.
Outro motivo é que as mulheres costumam adotar uma postura preventiva, cuidando da própria saúde e da família, por isso tendem a buscar a cirurgia mais cedo e com mais planejamento, segundo Marchesini.
É o caso da bancária Marina Reis, de 29 anos, que decidiu transformar o estilo de vida com a cirurgia bariátrica aos 28 anos. “Antes eu não me reconhecia. Eu tinha vergonha de mim, vergonha da aparência e de mostrar como eu estava para os outros. Hoje eu me reconheço. Foi uma grande virada de chave”, relata.
Já a empresária Aline Petry, de 34 anos, conta que antes de realizar o procedimento cirúrgico, tentou outros métodos de emagrecimento, mas sem sucesso. Ozempic e sibutramina foram alguns dos testes, além de ter acompanhamento com nutricionista e praticar atividade física.
De acordo com Marchesini, essas tentativas com outros métodos de emagrecimento são comuns e fazem parte do processo.
“Normalmente, essas pacientes têm que ter passado no mínimo por dois anos de acompanhamento com tratamentos e tentativas de perda de peso frustradas. Porque a gente tem que ter certeza de que essa pessoa já tentou de tudo”, explica.
Transformação na vida das mulheres
Aline Petry lembra que o sobrepeso sempre fez parte de sua vida. “Sempre tive dificuldade com meu peso. Consegui emagrecer em algumas fases, mas acabava engordando de volta. Depois da gravidez da minha filha, isso se intensificou. Sofri problemas na tireoide que também influenciaram no ganho de peso”.

Questões de autoestima também fizeram com que a empresária escolhesse a bariátrica como a opção ideal. “Era muito difícil eu tirar fotos de corpo inteiro. Quando tiraram duas fotos minhas eu falei que não queria mais isso para mim, e que não aguentava mais”. Para ela, a cirurgia trouxe transformação física e emocional. “Faria novamente, talvez até antes”, diz.
Com um percurso semelhante, Marina Reis conta que, desde a adolescência, enfrentava dificuldades para perder peso, mesmo mantendo hábitos alimentares saudáveis. “Nunca tive uma alimentação ruim. Meus exames de colesterol e glicemia, por exemplo, eram bons. Mas o corpo não respondia. Começava uma dieta, via algum resultado, e depois ganhava tudo de novo”.

Foi durante o processo pré-operatório que Marina descobriu que estava grávida. Dessa forma, precisou esperar alguns meses para retomar o processo cirúrgico. “Após o parto, quando minha filha tinha sete meses, retomei o pré-operatório em tempo recorde. Foi desafiador, pois não podia pegar minha filha nos braços por 30 dias, mas valeu a pena. Hoje tenho disposição para acompanhá-la em tudo”, relata.
“Cruzar as pernas é uma conquista. Posso brincar com minha filha, viajar de avião, sentar no banco de trás do carro e participar de atividades físicas. Coisas pequenas que mudam totalmente a qualidade de vida”, conta emocionada.
Um ponto em comum nos relatos de Aline Petry e Marina Reis é a influência das amigas que já haviam passado pela cirurgia bariátrica, servindo como inspiração e apoio para que tomassem a decisão.
Ambas destacam também que a presença das filhas foi um fator determinante em suas escolhas: a busca por mais disposição, energia e qualidade de vida para acompanhar de perto o crescimento e o dia a dia das crianças foi um grande motivador.
O que é a cirurgia bariátrica?
A cirurgia bariátrica consiste em um procedimento cirúrgico sobre o trato digestivo. Segundo o Ministério da Saúde, a cirurgia muda a forma original do estômago e reduz sua capacidade de receber alimentos, dificultando a absorção de um número exagerado de calorias. “Essa modificação provoca, além de uma diminuição da ingesta alimentar, um efeito hormonal. Então, a falta de apetite e a restrição alimentar, por exemplo, levam ao emagrecimento”, explica o cirurgião Marchesini.

Quem pode fazer?
A cirurgia bariátrica é indicada para pacientes que se enquadram em determinados critérios com base no índice de massa corporal (IMC), que leva em consideração o peso e a altura do paciente. Para calcular o IMC, basta dividir o peso em quilos pela altura em metros ao quadrado. Por exemplo, uma pessoa com 100 kg e 1,60 m de altura terá o cálculo: 100 ÷ 1,6 ÷ 1,6, resultando no valor do IMC.
Segundo os conceitos recentes do Conselho Federal de Medicina nº 2.429/25:
Pacientes adultos com IMC acima de 40:
- Elegíveis à cirurgia independentemente de terem ou não comorbidades.
Pacientes adultos com IMC entre 35 e 40:
- Devem apresentar doenças associadas, como:
- Diabetes tipo 2;
- Doença cardiovascular grave com lesão em órgão-alvo;
- Doença renal crônica precoce decorrente do diabetes tipo 2;
- Apneia do sono grave;
- Doença gordurosa hepática não alcoólica com fibrose;
- Afecções com indicação de transplante;
- Refluxo gastroesofágico com indicação cirúrgica;
- Osteoartrose grave.
Pacientes adultos com IMC entre 30 e 35:
- Podem ser elegíveis desde que apresentem pelo menos uma das condições listadas acima (diabetes tipo 2, doença cardiovascular grave etc.).
Adolescentes (14 a 18 anos):
- Acima de 14 anos: podem realizar cirurgia em casos de obesidade grave (IMC > 40) com complicações clínicas, desde que haja avaliação da equipe multidisciplinar e consentimento dos responsáveis.
- Entre 16 e 18 anos: têm acesso à cirurgia se estiverem dentro dos critérios para adultos, com concordância dos responsáveis e da equipe médica.
Papel da psicologia durante o pré e pós-operatório
A psicóloga Bruna Bassani, especialista em cirurgia bariátrica, reforça que o acompanhamento psicológico é essencial tanto no pré quanto no pós-operatório. O tratamento também é uma ferramenta de segurança clínica e sustento dos resultados a longo prazo. “Com a terapia cognitivo-comportamental (TCC), trabalhamos regulação emocional, cognitiva e comportamental, ensinando a paciente a se autorregular e a não depender de comportamentos compulsivos. Isso garante que a bariátrica não gere novas compulsões e que os resultados sejam duradouros”.
Bruna também destaca padrões psicológicos comuns entre mulheres que buscam a cirurgia. Ela destaca que a maior parte apresenta dificuldade de controle alimentar, episódios de comer em excesso, culpa, frustração, baixa autoestima e insatisfação com a própria imagem corporal.
“A cirurgia bariátrica não é milagrosa; é uma ferramenta poderosa. O verdadeiro resultado vem quando o paciente assume novos hábitos, novas rotinas e passa a se perceber de forma diferente. A cirurgia abre a porta, mas o trabalho contínuo, disciplina, apoio multiprofissional e fortalecimento psicológico transformam essa porta em um caminho sólido. O grande objetivo é reconstruir saúde, autoestima e qualidade de vida”, ressalta.
Pós-operatório: reeducar o corpo e a mente
No pós-operatório, tanto Aline quanto Marina enfatizam que a cirurgia bariátrica vai muito além da perda de peso: é um processo de reeducação. Para Aline, os primeiros meses exigiram adaptação alimentar e acompanhamento próximo de nutricionista e psicóloga, que ajudaram a lidar com a ansiedade e a aprender a comer porções menores, sem perder a nutrição necessária.
“Eu só tenho colhido bons frutos, mas também eu vejo que é mérito meu, estou fazendo por merecer. Estou indo em busca de tudo o que precisa, minhas vitaminas, academia e alimentação”, diz a empresária.
Para Marina, o acompanhamento pós cirurgia é essencial para estruturar uma rotina de cuidados com a alimentação e a saúde, mantendo os exames em dia e ajustando hábitos de forma consciente. “Foram 41 kg perdidos. A obesidade é uma doença que adormece, mas não tem cura. A cirurgia é um passo importante, mas disciplina, acompanhamento e atenção à saúde são fundamentais. Eu faria novamente e indico a cirurgia mil vezes”.
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