Você já se perguntou como é possível observar uma estrela que já não existe mais? A resposta está em algo que usamos todos os dias sem perceber: o tempo que a luz leva para chegar até nós. No caso dos telescópios, essa “viagem da luz” revela um espetáculo cósmico de passado distante — como se cada observação fosse uma janela para a história do universo. Entender como isso acontece pode transformar sua próxima noite estrelada em algo ainda mais extraordinário.

Como telescópios detectam luz de objetos extintos
Os telescópios são como máquinas do tempo. Eles não mostram o que está acontecendo agora no universo, mas sim o que aconteceu há anos, séculos ou até milênios. Isso porque a luz leva tempo para viajar. Se uma estrela está a 500 anos-luz da Terra, significa que a luz que vemos dela hoje foi emitida há 500 anos. E mesmo que essa estrela tenha morrido nesse intervalo, sua luz ainda está em trânsito pelo espaço.
Os telescópios captam essa luz antiga e a transformam em imagem ou dados. Com lentes potentes ou espelhos gigantes, eles “recolhem” o máximo de fótons possível e ajudam os cientistas a entenderem eventos que aconteceram há muito tempo. Não é mágica, é física.
A velocidade da luz: o relógio do universo
A chave de tudo está na velocidade da luz: aproximadamente 300 mil quilômetros por segundo. Mesmo com essa velocidade incrível, a distância entre os corpos celestes é tão grande que a luz leva anos — às vezes milhões ou bilhões — para chegar até nós.
É por isso que ao olhar para galáxias distantes com telescópios como o Hubble ou o James Webb, os astrônomos estão literalmente observando o passado remoto do universo. Alguns desses registros mostram como eram as primeiras estrelas e galáxias formadas após o Big Bang.
Telescópios potentes enxergam mais longe (e mais para trás)
O segredo de ver estrelas que já “morreram” está na potência do telescópio. Quanto maior sua capacidade de captação de luz, mais longe (e mais tempo atrás) ele consegue enxergar. É por isso que os telescópios espaciais se tornaram tão revolucionários: sem a interferência da atmosfera terrestre, conseguem ver com mais nitidez e profundidade.
O Telescópio Espacial James Webb, por exemplo, já registrou imagens de galáxias formadas há mais de 13 bilhões de anos. Essas galáxias talvez nem existam mais da mesma forma — ou sequer existam — mas sua luz ainda está viajando pelo cosmos e pode ser captada aqui.
Por que isso não é uma ilusão?
Pode parecer estranho pensar que estamos vendo algo que já se foi. Mas não se trata de ilusão. A luz é real. É como ver o brilho de um relâmpago mesmo depois do trovão já ter passado. A diferença é que, no caso das estrelas, esse “relâmpago” pode durar milhões de anos até se apagar para nós.
Inclusive, a maioria das estrelas visíveis a olho nu no céu noturno provavelmente ainda existe — as que “morreram” e cujas luzes ainda estão nos alcançando costumam ser observadas com telescópios muito mais poderosos. No entanto, saber que parte do que vemos pode ser memória luminosa de algo extinto dá uma nova dimensão ao ato de observar o céu.
E se a estrela explodiu? Ainda podemos vê-la?
Sim. Se uma estrela explodiu em uma supernova e está a 1.000 anos-luz, por exemplo, essa explosão será visível para nós apenas 1.000 anos depois de acontecer. Isso porque a luz desse evento leva exatamente esse tempo para viajar até a Terra. O mesmo acontece com qualquer fenômeno cósmico: só o percebemos quando sua luz chega até aqui.
Muitas das supernovas que os cientistas registram hoje ocorreram há séculos ou milênios, e são fundamentais para entendermos o ciclo de vida das estrelas, o surgimento de elementos químicos e até a origem de buracos negros.
Saber que os telescópios nos permitem olhar para um passado tão distante é, no mínimo, poético. É como se o universo guardasse memórias em forma de luz e nos deixasse encontrá-las aos poucos. Cada estrela observada é uma cápsula do tempo, uma história congelada em fótons.
A próxima vez que você ver uma imagem impressionante do espaço profundo, pense nisso: talvez esteja observando um vestígio de algo que já não existe mais, mas que ainda brilha para nós, como um eco cósmico. E nesse brilho há ciência, há história — e, para muitos, também há beleza.