Com a morte do papa Francisco nesta segunda-feira (21), o Vaticano começará em breve o processo de eleição de seu sucessor. A eleição papal é um dos rituais mais sigilosos da Igreja Católica, cheio de simbolismos e tradições. A mais conhecida delas é difusão da fumaça branca por uma chaminé quando acontece a escolha do novo pontífice.

Atual modo de eleição, o conclave foi instituído para evitar longos períodos de vacância papal, logo após a mais demorada eleição para o cargo, que durou quase três anos.
Isso porque, devido a uma série de dissidências, a escolha de Teobaldo Visconti como o Papa Gregório X, após a morte de Clemente IV, se arrastou de 29 de novembro de 1268 até 1º de setembro de 1271. Ao longo desse período, três dos 20 cardeais votantes faleceram, o que tumultuou ainda mais o processo.
Como funciona o conclave
O conclave é o mecanismo pelo qual a Igreja Católica elege um novo papa após o falecimento ou renúncia do pontífice em exercício. Esse procedimento foi formalmente instituído para evitar longos períodos de vacância papal, que já haviam causado crises e impaciência dentro da Igreja.
O termo “conclave” deriva do latim cum clavis, que significa “com chave”, referindo-se ao fato de que os cardeais eleitores eram, literalmente, trancados (ou isolados) no local de votação até que um novo papa fosse escolhido. Essa medida visava eliminar influências externas e pressões políticas, garantindo que a escolha recaísse exclusivamente sobre a orientação espiritual e a comunhão com o Espírito Santo.
O ritual da fumaça branca
Após a morte ou renúncia do papa, inicia-se um período denominado Sede Vacante, no qual os assuntos da Igreja são temporariamente administrados pelo Camerlengo. Esse período serve também para que os cardeais se reúnam e se preparem para o conclave, que normalmente é convocado entre 15 e 20 dias após o fato.

Durante o conclave, os cardeais (limitados a 120 eleitores e com idade inferior a 80 anos) são acomodados em um local reservado, como a Domus Sanctae Marthae, no Vaticano, e ficam isolados do mundo externo para evitar qualquer tipo de influência ou vazamento de informações.
Dentro da Capela Sistina, onde ocorre a votação, os cardeais realizam o processo eleitoral através de cédulas secretas. Em cada rodada de votação, o candidato que receber pelo menos dois terços dos votos (por exemplo, 80 votos, se todos os 120 cardeais participarem) é eleito.
Após cada rodada de votação, os votos são recolhidos e queimados. A queima das cédulas é acompanhada de um espetáculo simbólico: se a fumaça liberada pela chaminé da Capela Sistina for preta, isso indica que nenhum candidato atingiu a maioria necessária e a eleição continuará; se for branca, significa que um novo papa foi eleito.
Depois da escolha, o cardeal eleito é perguntado se aceita a eleição e, ao confirmar, escolhe um nome papal, sendo então anunciado ao mundo com o tradicional grito de “Habemus Papam!” na varanda da Basílica de São Pedro.
Votação tem uma série de rituais

As votações realizam-se em sessões de manhã e à tarde, duas em cada sessão, com exceção do primeiro dia onde se realiza apenas uma votação.
Chegada a hora da votação, cada Cardeal pega uma cédula, de papel branco e formato retangular, que tem escrito na parte superior a frase em latim “Eligo in summum pontificen”, (elejo como Sumo Pontífice), com espaço para escrever o nome escolhido.
O voto deve ser escrito em caligrafia clara e em letras maiúsculas, mas impessoais. A cédula então deve ser dobrada ao meio e recolhida em oração silenciosa: “Chamo como testemunho Jesus Cristo, o Senhor, que seja meu juiz, que o meu voto seja dado àquele que perante Deus considero dever ser eleito”.
Ordem de votação
A ordem de votação é sempre do cardeal mais idoso até o mais jovem. Um a um, os cardeais dirigem-se para a mesa junto ao altar e depositam o seu voto em uma bandeja de prata. Em seguida, levantam essa bandeja e transferem o voto para um vaso de vidro.
Acabada a votação, o primeiro cardeal escrutinador recolhe o vaso e leva-o para a mesa de escrutínio, onde agita o vaso para misturar os votos. Logo a seguir, deita os votos no segundo vaso de vidro. Um a um, conta-os em voz alta, como mandam as normas canónicas, para que todos ouçam distintamente e sem qualquer dúvida.
Após serem contados, os votos são então furados e costurados antes de serem colocados em um terceiro vaso de vidro. Em seguida, os cardeais revisores contam os votos costurados à linha e conferem se o número total coincide com o registrado pelos escrutinadores.
Só então os votos são incinerados. Neste processo, utilizam-se um aparelho auxiliar com fumígenos que garantem que a fumaça expelida não deixará dúvidas sobre a sua cor, se branca ou preta.
O conclave mais recente aconteceu em março de 2013, com a escolha do cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio, que escolheu o nome de Papa Francisco.
Conclave foi criado para agilizar escolha
Assim, para prevenir que o mesmo se repetisse em sua sucessão, o Papa Gregório X instituiu o conclave papal, em uma decisão publicada em 1274. E se o conclave que escolheu o seu sucessor, o Papa Inocêncio V, alcançou o objetivo, com apenas um dia de duração, houve casos de conclaves que se arrastaram por meses a fio.
No mais longo de todos, os cardeais levaram 339 dias para escolher o Papa Clemente V, em 1305. No entanto, ao longo dos séculos seguintes as decisões passaram a ser mais rápidas. Dessa forma, desde a escolha do Papa Gregório XVI, em 1831, em um conclave que durou 50 dias, nenhuma outra eleição papal demorou mais do que quatro dias.
Casos de abdicação papal são raros

Ao longo da história da Igreja Católica, apenas cinco papas abdicaram oficialmente do cargo. No entanto, alguns estudiosos do tema afirmam que ocorreram outros casos não reconhecidos formalmente.
Confira a lista dos papas que abdicaram:
- Papa Ponciano (235 d.C.) – Abdicou após ser exilado pelo imperador romano Maximino Trácio e enviado para trabalhos forçados na Sardenha.
- Papa Bento IX (1045, 1047-1048) – Abdicou em 1045, supostamente vendendo o papado para seu padrinho, Gregório VI. Retornou ao cargo brevemente, mas foi então deposto definitivamente.
- Papa Gregório VI (1046) – Renunciou após um sínodo considerar sua compra do papado um ato de simonia (compra de cargos eclesiásticos).
- Papa Celestino V (1294) – Um monge eremita que se tornou papa contra sua vontade. Renunciou após apenas cinco meses no cargo, preferindo voltar à vida de reclusão.
- Papa Bento XVI (2013) – Abdicou alegando idade avançada e falta de forças para continuar devido a problemas de saúde. Foi o primeiro papa a renunciar voluntariamente em mais de 600 anos.
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