O cansaço ao brincar com os amigos e a sensação de estar preso ao próprio corpo eram constantes na rotina de Bernardo Ribas Reginato, que lutava contra a obesidade. Esse cenário foi vivido pelo dentista, morador de Curitiba, até os 17 anos, e começou a mudar após a decisão médica pela cirurgia bariátrica, ainda jovem. Com acompanhamento familiar e multidisciplinar, ele garante ter renovado a energia, autoestima e liberdade para realizar atividades que antes pareciam impossíveis.

Pouco antes de completar 18 anos, Bernardo Ribas realizou a cirurgia bariátrica após uma perda familiar, o que também conciliou com um diagnóstico de pré-diabetes. “Percebi que a obesidade estava afetando na minha vida quando o meu pai faleceu por diabetes e eu fui diagnosticado com pré-diabetes. Sempre tive dificuldade em fazer exercícios, e o peso atrapalhava minha performance esportiva. A genética e o metabolismo colaboram muito para que uma pessoa emagreça ou engorde com facilidade. É muito difícil uma pessoa obesa conseguir emagrecer só com dieta”, relata.
Após a recuperação cirúrgica e a nova rotina de alimentação e cuidados, o jovem revelou que a escolha foi fundamental para uma ‘nova vida’.
“Minha qualidade de vida aumentou em 200%, mais disposição para esportes, mais agilidade e vontade de fazer as coisas. O psicológico comanda muito do processo. Alguns amigos que fizeram bariátrica sem acompanhamento adequado acabaram com depressão; por isso, tratar a cabeça é fundamental […] esporte agora é gostoso de fazer, se exercitar, a gente fica com mais vontade e mais disposição” contou o dentista.
Cirurgia bariátrica: ‘melhor escolha’, garante outro curitibano
Cristiano Freitas, de 31 anos, morador de Curitiba, também realizou a cirurgia bariátrica na adolescência após sentir que tarefas simples se tornavam um desafio diário. O paranaense revelou que não ligavam muito para a aparência, mas que percebeu o momento de mudar ao sentir dificuldades para amarrar o tênis. “Sentia dor ou desconforto. Isso me impactou muito, porque sempre gostei de praticar exercícios, mas o peso foi limitando cada vez mais a minha rotina. Além disso, situações como não caber em brinquedos de parques ou sentir constrangimento em viagens eram frequentes”, relembra.
Aos 16 anos, o jovem realizou a cirurgia bariátrica. Em entrevista ao portal RIC, Cristiano vê uma decisão acertiva e que traz orgulho para a vida atual. “Tudo mudou: consigo me alimentar melhor, praticar esportes e até sentar em um ônibus sem incomodar a pessoa ao lado. São detalhes que refletem a qualidade de vida que eu conquistei”, afirma.

Para ele, o processo não foi fácil, mas valeu a pena: “O início exige disciplina, é preciso enfrentar dietas líquidas, depois pastosas, e há momentos de irritação. Mas o resultado compensa. A vida fica mais leve, literalmente. Hoje não penso apenas na longevidade, mas na qualidade de aproveitar cada momento com saúde e disposição”.
“Eu sempre me aceitei como era, mas fiz a cirurgia pela saúde. Não me arrependo nem um pouco. Quem pensa em passar por isso deve saber que é um desafio, mas que melhora a vida em todos os sentidos”.
Cirurgia bariátrica em jovens: números crescentes
O caso de Bernardo e Cristiano reflete uma realidade crescente no Brasil: dados recentes da Federação Mundial da Obesidade (World Obesity Federation) mostram que 68% da população brasileira está acima do peso, incluindo crianças e adolescentes.

No entanto, menos de 1% da população brasileira com indicação para o procedimento consegue ter acesso a cirurgia no país.
Entre janeiro e junho de 2025, o Sistema Único de Saúde (SUS) realizou 6.393 cirurgias bariátricas em todo o país, segundo dados do Datasus. Já pelos planos de saúde privados, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) registrou que até 2024 foram realizadas 260.380 cirurgias bariátricas, enquanto entre janeiro e maio de 2025 foram contabilizados 13.964 procedimentos, incluindo atendimentos ambulatoriais e hospitalares.

Cirurgias na adolescência: mudança na legislação e o olhar cirúrgico
A cirurgia bariátrica para adolescentes já foi um tema polêmico, exigindo, até pouco tempo, registro em cartório, laudos periciais e aprovação judicial. Hoje, porém, com base em estudos científicos e na experiência clínica, o procedimento é liberado para jovens com obesidade grave, desde que acompanhados por uma equipe multidisciplinar e com consentimento dos responsáveis.
O Conselho Federal de Medicina (CFM) atualizou recentemente as diretrizes, permitindo a cirurgia bariátrica em pacientes a partir de 14 anos em casos de obesidade grave (IMC acima de 40) associada a complicações clínicas, desde que haja avaliação multidisciplinar e consentimento dos responsáveis. Para adolescentes entre 16 e 18 anos, os critérios são os mesmos aplicados a adultos, incluindo acompanhamento por médicos, psicólogos e nutricionistas.
“Hoje há comprovação científica que a cirurgia bariátrica e metabólica é segura na população, produz perda de peso durável, melhora as comorbidades e não atrapalha o crescimento dos adolescentes”, destacou Sérgio Tamura relator da Resolução CFM nº 2.429/25.
Segundo a resolução, o procedimento deve ocorrer em hospitais de grande porte, com capacidade para cirurgias de alta complexidade, UTI e plantonista 24 horas. Isso garante que a segurança do paciente seja máxima, considerando a complexidade do procedimento.
“Obesidade não é estética, é doença”
Em entrevista ao portal Ric, o Dr. Caetano Marchesini, referência em Cirurgia Bariátrica que atua em Curitiba (HMC) e em São Paulo (Sírio-Libanês), confirmou que com a mudança na lei, resolveu-se não proibir, mas restringir a população de jovens.
Agora recentemente, logicamente depois de muitos estudos mostrarem que lá atrás a gente tinha razão, voltou então a liberação para jovens poder fazer poderem fazer a cirurgia bariátrica.
“Metade da população de crianças hoje tem alguma forma de sobrepeso, e essas crianças vão se tornar doentes com a idade”, alerta o cirurgião.
Dr. Caetano Marchesini destaca que a obesidade precoce está diretamente relacionada a doenças crônicas, como diabetes e hipertensão, que impactam a qualidade de vida e aumentam os custos de saúde pública.
Além das questões físicas, a obesidade traz problemas de sociabilidade e aceitação, especialmente na adolescência, período em que o convívio social se intensifica.
“Aceitar que você tem uma doença significa também aceitar que precisa de tratamento. A obesidade não é uma questão estética; é uma doença que exige atenção”, afirma Dr. Marchesini.
Obesidade: entendendo as causas e os desafios diários
A obesidade infantil e adolescente possui múltiplas causas. “A hereditariedade é um fator importante, mas não é determinante. O que mais pesa são os hábitos alimentares errados e a falta de atividade física”, explica Dr. Caetano Marchesini.
O médico, observa que, hoje, muitas famílias enfrentam dificuldades para manter uma alimentação saudável, seja pelo custo de alimentos perecíveis ou pela correria do dia a dia. “É mais fácil para uma mãe colocar bolachas e suco industrializado do que planejar uma alimentação semanal saudável para o filho”, acrescenta.
Outro fator que influencia a obesidade juvenil é o sedentarismo precoce, muitas vezes incentivado por medo dos pais quanto à segurança das crianças.
“Hoje, muitas escolas proíbem que crianças corram no recreio, e os pais têm medo de deixá-las brincar no parque. Assim, o celular ou videogame se tornam opções fáceis”, comenta o cirurgião.
Esses hábitos levam à acumulação de peso e alterações no metabolismo, dificultando intervenções futuras.
Acompanhamento multidisciplinar
A cirurgia bariátrica em adolescentes requer avaliação psicológica e acompanhamento pós-operatório. “Uma menina que emagrece muito rapidamente pode entrar em situações que nunca aprendeu a lidar. Por isso, o acompanhamento psicológico, familiar e, quando necessário, psiquiátrico, é fundamental”, afirma Dr. Marchesini.
Além disso, o suporte nutricional e a atividade física supervisionada são essenciais para evitar deficiências nutricionais, como anemia e osteopenia, e para garantir que o corpo jovem se desenvolva de forma saudável após a perda de peso.
“A obesidade é uma doença crônica que exige intervenção adequada. Adolescentes que permanecem obesos têm maior probabilidade de se tornarem adultos doentes, com qualidade de vida comprometida e risco de mortalidade aumentado.”
Balão intragástrico pode servir no pré-cirurgia
O balão intragástrico é uma opção especialmente para adolescentes que precisam perder entre 15 e 20 kg. Introduzido no Brasil por Dr. Marchesini em 1999, o balão funciona como uma ponte para a cirurgia, ajudando o paciente a aprender sobre alimentação, acompanhamento psicológico e atividade física antes de procedimentos mais complexos.
“O balão é uma prótese de silicone de 650 ml que ocupa espaço no estômago, aumentando a sensação de saciedade. Mas ele não funciona sozinho; faz parte de um programa completo de perda de peso. Com acompanhamento adequado, cerca de 80% dos pacientes alcançam resultados satisfatórios, com perda média de 15 a 20 kg antes da cirurgia”, explica o especialista.
Obesidade na juventude: influência na internet
As redes sociais também têm um papel importante na conscientização. Segundo o Dr. Marchesini, com informação de qualidade, os jovens passam a entender melhor a doença, o tratamento e os cuidados pós-cirurgia.
Influenciadores como Thaís Carla e Gordão da XJ que juntos somam 8 milhões da seguidores que antes promoviam a aceitação de todos os corpos agora compartilham suas experiências com perda de peso e reeducação alimentar, reforçando a importância de intervenções médicas quando necessárias.

“Eles entenderam dos problemas que traz a obesidade e não só problemas físicos, mas nos jovens principalmente problemas de mobilidade, né? Problemas, não digo físico em relação a a doenças, né, como diabetes, hipertensão, mas problemas de mobilidade, problemas de coluna e também problemas de convívio social, relacionamento social, que é nessa fase da adolescência, é a fase que você começa a se relacionar, né, relacionar com seus pares”, explicou o Doutor.
Impactos na saúde física e mental
Conforme Dr. Marchesini, estudos comprovam que a cirurgia bariátrica em adolescentes reduz significativamente o risco de doenças crônicas, como diabetes tipo 2, hipertensão, apneia do sono e dislipidemia. Além disso, há benefícios indiretos, como melhora da autoestima, redução de ansiedade e depressão, e maior integração social.
A obesidade é uma doença crônica que exige intervenção adequada. Adolescentes que permanecem obesos têm maior probabilidade de se tornarem adultos doentes, com qualidade de vida comprometida e risco de mortalidade aumentado.
“O adolescente precisa sentir que está amparado, que a decisão é conjunta e que terá suporte para enfrentar mudanças de hábito, restrições alimentares e possíveis desafios emocionais”, destaca o cirurgião. Bernardo corrobora: “Meu suporte familiar foi essencial. Eles me acompanharam em todas as consultas, incentivaram exercícios e ajudaram a manter a disciplina alimentar. Sem isso, teria sido muito mais difícil.”
Como enfatiza Dr. Marchesini: “A cirurgia bariátrica em jovens é uma ferramenta poderosa, mas só funciona dentro de um programa completo, que envolve mente, corpo e família. Não se trata apenas de perder peso, mas de ganhar vida.”
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