Um vídeo recente do criador de conteúdo paranaense Felca, que viralizou nas redes sociais, reacendeu o debate sobre a exposição de filhos de famosos, de crianças na internet e a chamada “adultização”. No material, o influenciador critica a maneira como alguns pais, especialmente figuras públicas, compartilham imagens e vídeos dos filhos, o que levanta questões sobre privacidade e impactos no desenvolvimento infantil.

A repercussão do conteúdo impulsionou discussões sobre diferentes condutas adotadas por celebridades: enquanto parte delas opta por manter a vida dos filhos restrita ao âmbito privado ou com aparições limitadas, outras compartilham momentos com frequência, transformando a imagem das crianças em conteúdo de alto alcance.
O que é adultização?
A psicóloga Kemilen Santos, especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), Neurociências e Sexualidade Humana, explicou ao Portal RIC que “adultização é quando uma criança ou adolescente passa a assumir comportamentos, responsabilidades ou formas de se expressar que não são adequadas para sua fase de desenvolvimento”.
Ela fala que a situação pode incluir sexualização precoce, mas também envolve expor a criança a conflitos emocionais que ela não tem maturidade para compreender ou incentivar posturas e aparências associadas ao mundo adulto.
Segundo Kemilen, o córtex pré-frontal, área responsável pelo controle de impulsos, autorregulação e tomada de decisões, só estará completamente desenvolvido após os 21 anos.
“Quando uma criança é colocada em um papel que exige esse nível de maturidade, ela pode até apresentar comportamentos que imitam um adulto, mas sem ter o suporte emocional e cognitivo para lidar com as consequências”, afirma.
Filhos de famosos com baixa exposição nas redes
Alguns artistas optam por não mostrar o rosto dos filhos ou restringem ao máximo a presença digital das crianças e adolescentes, reduzindo a exposição de filhos de famosos. A cantora Sandy publica fotos do filho apenas de costas. O casal Mel Fronckowiak e Rodrigo Santoro mantém a filha Nina fora das redes, aparecendo apenas em registros indiretos.
O ator Chay Suede limita o uso de telas e controla a exposição digital da família. Fernanda Lima e Rodrigo Hilbert mantiveram os filhos longe da internet por anos antes de iniciar publicações pontuais. No cenário internacional, Julia Roberts e Scarlett Johansson preservam a imagem dos filhos até que possam decidir sobre a própria exposição.
Luan Santana e Jade Magalhães também optam por não mostrar o rosto da filha Serena, alegando que preferem que ela decida no futuro sobre a presença nas redes.

Para Kemilen, famílias que adotam essa postura podem estar se prevenindo de problemas relacionados à autoestima e imagem corporal.
“A autoestima é construída principalmente na infância e adolescência com base nas experiências e nas relações afetivas. Quando a valorização vem pela aparência ou desempenho, cria-se um padrão condicional, dependente de validação externa”, diz.
Filhos de famosos com alta exposição nas redes
Outros casos mostram crianças com presença constante em conteúdos online, aumentando a exposição de filhos de famosos. Virginia Fonseca compartilha vídeos frequentes das filhas Maria Alice e Maria Flor, que acumulam milhões de visualizações. Karina Bacchi mantém um perfil próprio para o filho Enrico, com mais de 3 milhões de seguidores. Valentina Muniz, filha do humorista Ceará e da modelo Mirella Santos, soma cerca de 2,2 milhões de seguidores.
Clara Maria, filha de Tatá Werneck e Rafa Vitti, é presença recorrente nas redes dos pais. Os filhos de Gusttavo Lima e Andressa Suita, e Davi Lucca, filho de Neymar e Carol Dantas, também aparecem com frequência. Perfis administrados pelos pais de crianças como os filhos de Gabi Brandt e Saulo Poncio, e de Julio Cocielo e Tatá, acumulam grande alcance e parcerias comerciais.
Nesse grupo, também se destacam as filhas do MC Belinho, Melody e Bella Angel, que construíram carreiras musicais e perfis públicos ainda na infância. Elas participaram de videoclipes e conteúdos próprios quando estavam na adolescência, o que mantém imagens amplamente presentes nas redes sociais.

A especialista lembra que a internet pode ser uma ferramenta de criatividade e aprendizado, mas o excesso de exposição de filhos de famosos sem mediação pode gerar riscos.
“Uma foto ou vídeo postado hoje pode permanecer disponível por décadas, e a criança, no futuro, pode não gostar dessa exposição”, pontua Kemilen, afirmando que o ideal seria alcançar o meio-termo.
“O meio termo significa respeitar a privacidade da criança, em que ela tem condições emocionais de lidar com os impactos e garantir que não haja exposição de conteúdos que possam ser mal interpretados ou usados indevidamente”, complementa.
O debate sobre adultização
O conceito de “adultização” aborda o risco de transformar a imagem infantil em produto ou performance. Especialistas alertam que a exposição sem consentimento ou sem considerar a fase de desenvolvimento pode trazer impactos emocionais e comportamentais.
Kemilen reforça que a superexposição pode intensificar a vulnerabilidade emocional.
“O sistema de recompensa do cérebro começa a associar o valor próprio a curtidas, elogios e atenção. Com o tempo, isso aumenta o risco de distorção de autoimagem, ansiedade, depressão e dificuldade de autorregulação emocional”, afirma.
Ela também alerta para riscos concretos: “Crianças e adolescentes podem ser alvos de abuso, exploração e manipulação nas redes, tanto por desconhecidos quanto por pessoas próximas. Até os 13 anos, o acesso deve ser acompanhado de perto; entre 13 e 18, a supervisão deve continuar, mas com acordos claros e orientação”.
O cérebro adolescente, segundo a psicóloga, apresenta uma combinação delicada: sistema límbico em alta atividade — o que intensifica a busca por aprovação social — e córtex pré-frontal ainda em desenvolvimento.
“Essa combinação aumenta a vulnerabilidade à imitação e dificulta a avaliação de riscos a longo prazo. Por isso, cabe aos adultos orientar, oferecer alternativas de uso saudável e modelar comportamentos digitais conscientes”, completa.
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