Quando pensamos em biologia, aprendemos que mulheres possuem cromossomos XX e homens, XY. No entanto, a realidade é mais diversa do que se imagina. Existem mulheres com cromossomos XY, que nascem e se identificam como do sexo feminino, embora possuam a configuração genética associada ao sexo masculino. Essa condição pode soar incomum, mas está ligada a variações naturais no desenvolvimento sexual humano. Ela ocorre devido a síndromes genéticas raras, como a Síndrome de Insensibilidade Androgênica (SIA) e a Disgenesia Gonadal, entre outras. As pessoas afetadas por essas condições muitas vezes crescem sem saber que possuem um conjunto de cromossomos diferente do esperado.

O que significa ser uma mulher com cromossomos XY?
Biologicamente, o sexo de um indivíduo é determinado pela combinação dos cromossomos sexuais. Normalmente:
- XX define o sexo feminino
- XY define o sexo masculino
Porém, em casos raros, uma pessoa com cromossomos XY pode desenvolver-se com características físicas femininas, tanto interna quanto externamente. Essas pessoas são chamadas de mulheres XY, uma classificação que não altera sua identidade de gênero, mas que pode trazer desafios médicos e sociais.
Essas condições fazem parte do que os especialistas chamam de Diferenças no Desenvolvimento Sexual (DDS) ou intersexualidade.
Principais causas genéticas das mulheres com cromossomos XY
Existem algumas condições genéticas que explicam por que uma pessoa com cromossomos XY pode desenvolver-se como mulher.

1. Síndrome de Insensibilidade Androgênica (SIA)
A SIA ocorre quando o corpo da pessoa não responde aos hormônios androgênicos (como a testosterona), que normalmente determinariam o desenvolvimento masculino.
- A pessoa tem cromossomos XY, mas seu corpo não reconhece os sinais da testosterona.
- Isso faz com que o desenvolvimento siga um padrão feminino, mesmo sem útero ou ovários.
- As características físicas incluem genitália externa feminina, seios desenvolvidos e ausência de menstruação.
2. Disgenesia Gonadal
Neste caso, as gônadas (testículos ou ovários) não se desenvolvem corretamente durante a gestação. Como resultado:
- Pode ocorrer a ausência de características sexuais secundárias na puberdade.
- A pessoa pode ter genitália ambígua ou completamente feminina, mas sem funcionamento hormonal reprodutivo.
- Muitas vezes só é diagnosticada na adolescência, quando não ocorre a menarca.
3. Síndrome de Swyer
Essa é uma forma específica de disgenesia gonadal em que a pessoa tem XY, mas desenvolve órgãos sexuais internos femininos, como útero e trompas, sem função ovariana.
- A puberdade não ocorre naturalmente, e a menstruação está ausente.
- Com reposição hormonal, é possível o desenvolvimento de seios e outras características secundárias.
- A fertilidade pode ser viabilizada com técnicas de reprodução assistida.
Características comuns entre mulheres XY
Embora as manifestações variem conforme a condição genética, algumas características são frequentemente observadas em mulheres com cromossomos XY:
- Genitália externa com aparência feminina
- Ausência de menstruação (amenorreia primária)
- Infertilidade natural
- Ausência de ovários ou presença de gônadas não funcionais
- Em alguns casos, presença de útero (como na Síndrome de Swyer)
- Desenvolvimento normal das mamas na puberdade (sobretudo na SIA)
É importante frisar que essas mulheres se sentem e se identificam como mulheres, e muitas vezes passam a vida inteira sem saber que possuem um conjunto cromossômico XY.
Diagnóstico: quando e como ocorre?
O diagnóstico geralmente acontece em fases específicas da vida:
Na infância
- Quando há ambiguidade genital ao nascimento, o médico pode investigar o cariótipo da criança.

Na adolescência
- É comum que o diagnóstico ocorra quando a jovem não menstrua na idade esperada.
- Exames de imagem e testes hormonais revelam a ausência de útero ou ovários, levando ao exame genético.
Na vida adulta
- Algumas descobrem apenas durante investigações de infertilidade ou exames de rotina.
O diagnóstico é feito por meio de:
- Cariótipo (análise dos cromossomos)
- Exames de imagem (ultrassom, ressonância magnética)
- Avaliação hormonal
- Biópsia das gônadas em casos específicos
Casos famosos e representatividade
O tema ganhou visibilidade com figuras públicas que relataram suas experiências, como Caster Semenya, atleta sul-africana que teve seu corpo questionado por autoridades esportivas. Embora seu caso específico envolva complexidades médicas ainda debatidas, ele levantou discussões sobre a intersexualidade no esporte.
Quer receber notícias no seu celular? Entre no canal do Whats do RIC.COM.BR. Clique aqui