O Hospital Pequeno Príncipe, que tem referência em pediatria, em Curitiba, registrou um aumento no número de casos de traumatismo craniano em crianças de 248% nos últimos oito meses. Os dados apontam que, entre janeiro e agosto do ano passado, foram registrados 50 casos no Pronto-Atendimento da instituição. No mesmo período deste ano, os registros saltaram para 174.
De acordo com a ONG Criança Segura, as quedas estão entre os principais acidentes domésticos que afetam as crianças brasileiras.
Outro dado alarmante envolve o número de situações em que a criança necessitou de internamento e cirurgia. No período de janeiro a agosto de 2020, quatro crianças tiveram que passar pelo procedimento cirúrgico. Já no mesmo período deste ano, o aumento foi para 21, ou seja, um crescimento de aproximadamente 425%.
Acidente no berço
Theo da Silva Fabris, de apenas 7 meses, teve um afundamento de crânio ao cair da cama e bater a cabeça no criado-mudo.
“Eu costumo deixar ele no berço com a grade abaixada para ficar na altura da minha cama e, depois de dar de mamar, eu o coloco no berço novamente, e geralmente ele dorme. Neste dia, no entanto, ele não dormiu. Eu estava fazendo algumas planilhas, e ele foi para a minha cama, de onde caiu”,
conta Ane Silva, mãe do bebê.
Ane relatou, que ao passar a mão na cabeça do garotinho, sentiu o afundamento e imediatamente ligou para sua mãe pedindo ajuda. Ao chegar ao Hospital Pequeno Príncipe, Theo foi avaliado e logo encaminhado a um neurocirurgião, que indicou a cirurgia.
“O médico disse que de imediato o afundamento não representava um problema, mas quando ele crescesse o afundamento iria comprimir o cérebro. Por isso era importante fazer a cirurgia. O procedimento foi realizado no dia seguinte, e agora Theo já se recupera em casa.”
Doença da pandemia
Ane Silva, mãe do Theo, que é assistente administrativa e trabalha no período da manhã, estava conciliando o trabalho com os cuidados ao filho. De acordo com o neurocirurgião pediátrico Adriano Maeda, a explicação para o aumento dos casos está nesse novo modelo de vida, adaptado ao momento pandêmico.
“As famílias estão sobrecarregadas, trabalhando de casa, com filhos para cuidar, comida para preparar, casa para organizar… É uma nova doença da pandemia. Não se trata de uma negligência deliberada, mas de uma situação de limite no qual as famílias são tão vítimas quanto as crianças”,
analisa.
Gravidade maior em bebês
A maioria das crianças atendidas no Pequeno Príncipe que necessitaram de internamento e até mesmo de cirurgias neurológicas em função das quedas tinha até 2 anos de idade. Das 21, 11 estavam nessa faixa etária, ou seja, 52%
“Os acidentes domésticos são sempre um risco às crianças. No caso dos traumatismos cranianos, a grande maioria dos casos não gera consequências graves, mas quando falamos de crianças muito pequenas, o crânio é ainda frágil, fino e faz com que haja uma exposição maior a lesões cerebrais, hemorragias cerebrais e mesmo a fraturas. Nessa faixa etária não é necessário cair de grandes alturas ou sofrer fortes impactos para que aconteça um dano grave”,
reforça o especialista.
Ainda de acordo com o médico Adriano Maeda, o tipo de queda e o tempo decorrido até conseguir ajuda médica podem agravar a situação. “Dependendo da gravidade da situação, isso pode levar ao aparecimento de sequelas como paralisias, crises convulsivas, epilepsias e outros danos neurológicos definitivos, ou até mesmo a criança ir a óbito”, enfatiza.
Atenção redobrada
Como crianças exigem atenção redobrada, os especialistas do Pequeno Príncipe dão algumas dicas de segurança para os pequenos:
- Bloqueie as escadas;
- Proteja itens grandes e pesados;
- Proteja quinas e tomadas;
- Previna acidentes no berço deixando a grade sempre levantada e evitando enfeites que contenham fios ou cordas;
- Proteja as janelas e sacadas com telas; e
- Nunca deixe a criança sozinha em ambientes de piscina ou qualquer outro ambiente aquático.