A Organização Mundial da Saúde (OMS) voltou atrás, nesta terça-feira (9), em relação a uma declaração dada nesta segunda-feira (8) sobre ser “rara” a transmissão de coronavírus por pessoas assintomáticas. Segundo a diretora técnica da OMS, Maria Van Kerkhove, “houve um mal-entendido“.
À imprensa, Maria Van Kerkhove havia dito que a transmissão do vírus por uma pessoa que não apresenta os sintomas da doença, mas tem o vírus, os chamados assintomáticos, parecia ser “muito rara”. Essa afirmação, conforme o que foi dito por ela, teria vindo com base em estudos realizados em vários países.
“Nós temos uma série de informes de países que estão fazendo um rastreamento de contatos muito detalhado. Estão seguindo os casos assintomáticos, estão seguindo os contatos e não estão encontrando transmissões secundárias subsequentes. É muito raro“.
Maria Van Kerkhove em coletiva de imprensa na segunda-feira.
Estas declarações repercutiram no mundo todo e provocaram reação da comunidade científica. Muita gente chegou a questionar a questão do isolamento social e até no Brasil o presidente Jair Bolsonaro questionou a situação.
“Se a transmissão por parte de assintomáticos é praticamente zero (…), então com toda certeza isso pode sinalizar à abertura mais rápida do comércio e à extinção daquelas medidas restritivas adotadas”, disse o presidente Bolsonaro em reunião ministerial nesta terça-feira.
OMS volta atrás na afirmação sobre assintomáticos por coronavírus
Depois da repercussão, a própria diretora da OMS voltou atrás no que disse e esclareceu o que aconteceu. Segundo Maria Van Kerkhove, a afirmação veio como resposta a uma pergunta e se baseou em poucos estudos. “Eu me referia a muito poucos estudos, alguns, dois ou três”.
“Eu não estava declarando uma política da OMS“.
Maria Van Kerkhove, OMS.
Segundo a diretora da OMS, os estudos sobre a transmissão dos pacientes assintomáticos ainda são incertos. “São difíceis de conduzir, mas as evidências disponíveis do rastreamento de contatos, por estados membros, sugerem que indivíduos infectados assintomáticos são muito menos propensos a transmitirem o vírus do que aqueles que desenvolvem sintomas“, destacou.
De qualquer forma, Maria Van Kerkhove disse que queria esclarecer um mal-entendido. “Eu usei a frase ‘muito raro’ e acho que é um mal-entendido declarar que a transmissão assintomática globalmente seja muito rara. Eu me referi ao subconjunto dos estudos“, alertou.
Cuidado deve ser com casos de pré-sintomáticos
Segundo Atila Iamarino, biólogo e doutor em microbiologia, é preciso ter muito cuidado sobre a declaração da OMS, pois pode haver confusão entre as pessoas. “Não sabemos quem vai manifestar ou não os sintomas, por isso as pessoas precisam manter o distanciamento social e usar máscaras“.
O biólogo explicou que, realmente, as pessoas assintomáticas podem transmitir muito pouco, ou até mesmo não transmitir o vírus. Mas a preocupação tem que ser com as pessoas pré-sintomáticas, que estão com o vírus, mas ainda não sabem e demoram alguns dias para começar a ter os sintomas.
“Quem não desenvolve nunca os sintomas, pode transmitir muito pouco, mas as pessoas que estão antes de ter os sintomas, as pré-sintomáticas, transmitem muito sim. Este é o momento crucial da doença, por isso não conseguimos parar a doença”.
Atila Iamarino, biólogo e doutor em microbiologia.
Segundo o biólogo, a OMS estava falando sobre o rastreio de contatos. “Nesse rastreio, a transmissão que mais vale a pena investigar é quem tem sintomas, porque se conseguir tirar essas pessoas e colocá-las em isolamento, consegue conter a transmissão. Mesmo assim, temos que nos atentar às pessoas que, em alguns dias, vão ter sintomas, pois já tinham o vírus e acabaram transmitindo, seriam as pessoas pré-sintomáticas“.