A madrugada do dia 25 de fevereiro dificilmente será esquecida por um jornalista com mais de duas décadas de profissão. Para alguns profissionais da área, notícias tristes e tragédias fazem parte da rotina, infelizmente. Entretanto, o dia marcante e difícil para o repórter da Record TV não foi por causa de uma reportagem ou uma cobertura trágica, das diversas que já realizou. Desta vez, o personagem principal era o cara que segura o microfone e conta as histórias.

Jairo Bastos, de 53 anos, trabalha no Rio Grande do Sul. Funcionário da matriz de São Paulo, o repórter é visto diariamente em programas nacionais da emissora. Porém, desde o último dia 13 de fevereiro, os telespectadores sentiram falta das reportagens de Jairo. 

Madrugada interminável

“Ouvia os profissionais do SAMU, em contato com hospitais, e um atrás do outro retornava dizendo que não havia vaga disponível. Eles tentavam. Minutos intermináveis até outra resposta de não, seguida de outra. Eu estava deitado ouvindo só longe e o desespero começou a tomar conta.
Naquele momento nenhum hospital poderia salvar minha vida,
isso era aterrorizante”

As palavras carregadas de emoção e dor, transmitem o quão difícil foi a madrugada do dia 25 de fevereiro para Jairo Bastos, e de muitos brasileiros que precisam de um leito. O repórter teve a confirmação da doença cinco dias antes, porém, apenas com sintomas leves não imaginava que poderia sofrer precisando de um leito.

No dia do aniversário de 53 anos, em 21 de fevereiro, os sintomas começaram a piorar. “Subir escada era difícil. Com o tempo, levantar uma xícara já cansava”, relatou o repórter.  

Durante a noite do dia 24, Jairo teve desconforto e dificuldade de respiração. Como a dor não diminuiu e durante a madrugada o aperto no peito aumentou, o repórter procurou uma teleconsulta com um médico de São Paulo. Após verificação do estado de saúde, o aconselhado foi chamar uma ambulância para fazer um acompanhamento médico no hospital.

“Todos os hospitais estavam lotados. Pela primeira vez na vida, eu temi a morte. Mas a fé em Deus era grande, aliás sempre fui um homem de fé, e me agarrei a Deus para acalmar a mente e acreditar que aquilo ia passar”

Quando o dia já estava amanhecendo, mais de 3 horas buscando um leito, a equipe médica recomendou que o paciente ficasse em casa e não procurasse um hospital por conta própria, devido ao alto risco na espera por uma triagem. Como a oxigenação estava normal, Jairo voltou para seu quarto de isolamento.

Assim como durante a madrugada, a tarde do dia 25 também foi longa. Mas, com o passar das horas, a respiração de Jairo foi se restabelecendo e depois de muitas madrugadas em claro, o paciente conseguiu descansar.

Na sexta-feira (26), Jairo amanheceu melhor. Já era o 14º dia de contágio e o repórter passou pela consulta de um terceiro médico. Dois dias depois acabou o isolamento recomendado pelos profissionais, mesmo assim, até o último domingo (7 de março), o cansaço e a falta de ar ainda fazem parte da rotina. 

Hoje sou um sobrevivente da Covid. Senti na pele  o medo dessa doença silenciosa e devastadora e do drama que um paciente com Covid pode enfrentar ao se deparar com a falta de leito. O sistema de saúde está saturado em todo o país. Profissionais de saúde estão exaustos e não há o que fazer diante do crescente número de casos”

Jairo bastos
Repórter Jairo Bastos (FOTO: REPRODUÇÃO/ ARQUIVO PESSOAL)

É hora de se cuidar

Nesta segunda-feira (8), Jairo Bastos voltou ao trabalho. Pela manhã o repórter participou do programa Hoje em Dia e em uma das entradas ao vivo destacou a prorrogação da bandeira preta em todo estado do Rio Grande do Sul.

bandeira preta
Bandeira Preta foi prorrogada em todo Rio Grande do Sul (FOTO: DIVULGAÇÃO)

“Eu, com o medo que senti em não ter um leito, preciso abrir os olhos de muitos que não se cuidam, se colocam em risco e colocam em perigo tantas outras pessoas. Preciso alertar que a doença é real. É inadmissível alguém hoje pensar em viajar, ir à festa, aglomerações. É preciso priorizar! Na dúvida, pense se aquela saída é realmente indispensável neste momento?!”

O jornalista comentou que após ter vencido a covid-19 sente ainda mais obrigação de alertar a população sobre os riscos da doença. Pavor, pânico, susto e medo, são sentimentos que podem ser evitados com cuidados, restrições e consciência.

“Uma festa, um passeio na praia, uma viagem, uma reunião familiar, podem ser deixados para depois. Nossa vida não”, 

Assista ao depoimento de Jairo Bastos sobre o que viveu com a covid-19:

https://www.youtube.com/watch?v=eHzfg12fZQ0

Guilherme Becker
Guilherme Becker

Editor

Guilherme Becker é formado em Jornalismo pela PUCPR, especializado em jornalismo digital. Possui grande experiência em pautas de Segurança Pública, Cotidiano, Gastronomia, Cultura e Eventos.

Guilherme Becker é formado em Jornalismo pela PUCPR, especializado em jornalismo digital. Possui grande experiência em pautas de Segurança Pública, Cotidiano, Gastronomia, Cultura e Eventos.