Reinaldo Bessa
Há 45 anos, Curitiba amanhecia toda branca de neve, com ares de cidade europeia
Reinaldo Bessa
Nesta sexta-feira (17), faz 45 anos que nevou em Curitiba, levando muita gente às ruas para celebrar, brincar e tirar muitas fotos – sem os inimagináveis celulares – em meio àquele cenário inédito para muitos curitibanos. Foi um dia que ficou congelado na memória dos moradores da cidade, que a cada 17 de julho lembram o fenômeno.
O catarinense Luiz José Tavares, que na época trabalhava como diagramador na Gazeta do Povo, descreve a sensação: “Depois do fechamento do jornal nós sempre íamos tomar uma cerveja. Naquela noite estava muito frio e uma garoa mais forte. Por volta de três horas da manhã, quando cheguei em casa, uma república na Lamenha Lins, a garoa tinha aumentado e estava muito gelado. Como era comum naqueles anos fazer mais frio do que agora, não estranhei. Estava acostumado. Mas o que me pegou de surpresa foi a euforia da proprietária da república, dona Irma, uma austríaca, que me acordou com uma bola de neve por volta das seis horas da manhã. Eu diagramava a primeira página da Gazeta do Povo. Fizemos uma capa com fotos coloridas da neve e uma página gráfica, também com fotos coloridas, uma novidade na época. Outra coisa que marcou foi o dia posterior à neve. Os telhados ficaram congelados com a formação da geada negra. Em algumas regiões, como São José dos Pinhais, a temperatura ficou bem abaixo de zero. Só sei que Curitiba comemorou muito a chegada da neve”.
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A pedagoga e advogada Jacinta Caron tinha 19 anos e diz que aquele dia foi uma das grandes surpresas e magias de Curitiba. “Lindo e inesquecível, só a neve para derreter o gelo do coração curitibano. Todos saíram às ruas, pularam e brincaram, foi um verdadeiro carnaval. Todo mundo ria e conversava com todos, incrivelmente alegres, extrovertidos. Bonecos de neve sobre os carros, a cidade virou festa e feriado, os filmes se esgotaram nas lojas, todos sorriam e trocavam telefones, coisas inéditas aconteceram na alma dos curitibanos. Todo mundo voltou a ser criança. Só vi o povo curitibano livre da reserva assim uma vez na vida: no dia em que nevou em Curitiba”.
Outro que guarda boas lembranças é o empresário curitibano Gláucio José Geara, ex-presidente da Associação Comercial do Paraná. “Naquela manhã de 17 de julho, há 45 anos, acordei por volta das 6 horas para viajar. Quando acionei a torneira do banheiro, não saía água, estranhei. Abri a janela do quarto, ainda na escuridão, e notei o telhado do vizinho todo branco, estranhei sem entender. Quando saí da garagem foi que me deparei com a neve caindo e entendi que os canos de água estavam congelados. Desisti da viagem para comemorar a histórica nevasca em Curitiba”.
Greca e a neve
A pedido do portal, o prefeito Rafael Greca, então com 19 anos, relembrou o dia da neve: “Naquela manhã gélida de 17 de julho de 1975 Curitiba despertou feliz. Em cada coração curitibano, apesar das mãos enregeladas, saltava para fora uma nostalgia, o sangue de todos foi aquecido pela parte europeia do nosso DNA coletivo. Milhares de netos de imigrantes entraram na paisagem dos livros e memórias de seus avós imigrantes, e acreditaram viver mesmo numa Europa transplantada”.
E 45 anos depois cá estamos todos nós vivendo tempos muito diferentes daqueles, com recomendações para ficarmos isolados em casa, olhando o mundo pela janela. Ainda bem que nosso inverno não é mais o mesmo, pois seria difícil segurar as pessoas em casa, principalmente as crianças, se a neve resolvesse dar novamente o ar da graça por aqui. A aglomeração gelada seria inevitável.