22 de março é o Dia Mundial da Água, data estipulada pela Unesco para estimular a reflexão sobre a gestão sustentável dos recursos hídricos e impactos no clima global. Afinal, mudanças climáticas que alteram o regime de chuvas podem provocar aumento de eventos extremos como secas e inundações.
Para se adaptar a esse cenário e fomentar a sustentabilidade, tem crescido a procura por imóveis que tenham captação de água de chuva, para reuso em casas ou nas áreas comuns de prédios residenciais e edifícios comerciais. Elcio Gomes, presidente da Rede Una Imóveis Conectados, que reúne 42 imobiliárias de Curitiba, afirma que a compra de imóveis novos hoje está cada vez mais ligada a aspectos sustentáveis, como captação de água pluvial e energia solar.
“Ao longo do tempo, houve uma mudança no tipo de casa ou apartamento buscado: as pessoas estão cada vez mais preocupadas com otimização dos espaços, buscando imóveis mais funcionais, e especialmente que tenham elementos como energia solar e reutilização de água. Esses fatores enobrecem o produto e as pessoas estão dispostas a pagar mais por isso”, detalha.
Segundo Gomes, outra vantagem da captação de chuva em condomínios são os hidrômetros individuais, em que cada morador só paga por aquilo que consome. “Também temos visto o aumento de novos empreendimentos com placas solares para abastecer as áreas comuns, e também com tomadas para carros elétricos. Isso sem falar na reciclagem de resíduos, o lixo que não é lixo, campanha amplamente propagada há décadas em Curitiba”, diz.
Em relação à captação da água de chuva em casas e prédios, Fernando França, engenheiro civil e professor universitário, especialista em projetos de reuso de água para edificações, explica sobre como funcionam os projetos:
Esse tipo de alteração é muito variável, porque vai depender da estrutura atual de captação de água da chuva naquele local, seja uma casa ou um prédio. Se essas saídas estiverem expostas, aparentes, por exemplo, para fora da casa, é relativamente fácil, porque é só desconectar do local atual, geralmente em alguma caixa na rua, e direcionar a água para o reservatório. Mas em alguns casos, principalmente em prédios, essas saídas costumam estar em locais fechados, em alguma área técnica. Isso complica um pouco, porque talvez seja necessário algum tipo de obra pra conseguir essa adequação. Depende muito de como que está essa saída da calha, que faz a captação da água da chuva, ligando em algum local.
Do ponto de vista de projeto, que eu trabalho especificamente, a demanda tem sido grande nas construções novas. Já nos imóveis antigos, esse tipo de obra geralmente acaba sendo feito por conta, e não necessariamente se contrata um projeto de engenharia. As vezes o morador compra uma cisterna, ou uma caixa d’água, e faz essa ligação por conta. Como a gente trabalha com projetos, não acompanhamos se está tendo uma demanda grande dessas alterações em edificações já existentes.
Em relação ao trabalho de engenharia, a gente geralmente vai estudar dois principais fatores. O primeiro é a área para captação. Então, a gente tem que analisar o tipo da superfície onde vai ser captada essa água. Então, se a gente está pegando de um telhado, vai ter uma certa qualidade. Se está pegando de uma área de um jardim, vai ter outra qualidade. Em geral, locais onde tem contato com humanos ou animais, não é permitido fazer essa captação, porque dela precisa passar por um tratamento um pouco mais complexo pra fazer o aproveitamento dessa água da chuva.
O segundo fator é avaliar a intensidade de chuva naquele lugar. Projetos feitos em Curitiba são diferentes de projetos feitos em São Paulo ou no Rio de Janeiro, porque cada um dos locais têm uma intensidade de chuva diferente. Então esses dois fatores são a base do dimensionamento de uma cisterna de aproveitamento de água da chuva.
Com esses dois valores a gente consegue saber o quanto de água vai captar, e define o tipo de tratamento a se fazer, desde um tratamento mais simples, que é uma filtração básica, até um tratamento com desinfecção ultravioleta, com ozônio ou cloro, para fazer um aproveitamento mais específico, dependendo do uso que queira se dar. A gente pode usar para lavagem, descarga, lavagem de roupa, lavagem de piso. Dependendo da finalidade que a gente quer alcançar, vai ter tipos diferentes de tratamento.
É um tipo de sistema que se implementa pensando na sustentabilidade, pelo aspecto do meio ambiente, não só pensando no ponto de vista financeiro. O reaproveitamento de água de chuva, em geral, acaba não sendo vantajoso se for se pensar unicamente pelo retorno de investimento. É um sistema que dificilmente vai se pagar, porque a nossa água é muito barata, então o tempo que vai levar para se pagar – a não ser que você tenha um uso industrial ou comercial, que demanda muito mais água – demora para retornar esse valor. Diferente de quando a gente coloca painéis fotovoltaicos, por exemplo, que o retorno desse investimento é um pouco mais rápido, porque o custo da energia é mais caro. Vale lembrar que isso vale para edificações já existentes: nos novos empreendimentos, já se tornou demanda de mercado o sistema de reuso de água.
Acerca desta nova realidade do mercado, o presidente da Rede Una afirma: “percebemos que esta consciência sustentável aumenta a cada dia, especialmente nesta nova geração de consumo imobiliário, que inclusive entende o valor que um imóvel diferenciado tem e não se exime de pagar um pouco mais por isso, se necessário”, complementa Elcio Gomes.